Redação VOTC

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Vício: o que é, diferentes perspectivas e caminhos para superação

Quando pensamos em vício, geralmente imaginamos alguém que frequenta o bar todas as noites ou tem comportamentos repetitivos que acabam comprometendo sua vida.

  • Será que qualquer mau hábito transforma uma pessoa em viciada?
  • Afinal, o que define um vício?

Segundo a Organização Mundial da Saúde, o vício é descrito como:

“Um distúrbio crônico e recorrente do sistema cerebral que envolve a perda de controle sobre o uso de uma substância, apesar das consequências adversas. Esse comportamento é influenciado por fatores biológicos, psicológicos e sociais, e o uso compulsivo da substância geralmente interfere no funcionamento da pessoa em várias áreas da vida, como trabalho e relações sociais”

No entanto, essa é apenas uma das definições possíveis. Diversos pensadores e correntes de pensamento abordam o conceito de vício de outras maneiras. 

Neste artigo, exploraremos essas diferentes perspectivas e apresentaremos caminhos que podem ajudar na busca pela libertação desse mal.

  • Assista ao nosso Programa Sanitate e compreenda os diferentes tipos de vício, além de estratégias eficazes para superá-los. 

O que você vai encontrar neste artigo

  • Qual é a definição de vício?
  • O que é um vício segundo a psicologia?
  • Quais são os tipos de vícios?
  • Como se livrar do vício

Qual é a definição de vício?

Um vício, segundo Santo Tomás de Aquino, é um mal contrário à razão e à natureza humana, que deveria se direcionar ao bem. Um hábito, por sua vez, é uma disposição estável que torna a pessoa bem ou mal disposta. 

Se alguém desenvolve um mau hábito, acaba praticando certos atos com facilidade e prazer, tornando difícil não praticá-los. Por exemplo, beber cerveja pode se tornar um mau hábito a ponto de a pessoa não conseguir parar.

Para entender o que é um vício, é importante reconhecer que, conforme a filosofia clássica, o ser humano é composto por potências sensitivas, como o conhecimento sensível e as emoções, e pelas potências da alma, como inteligência e vontade. 

Por causa do pecado original, as potências sensitivas tendem a se rebelar contra as potências da alma, ou potências espirituais.

  • As potências sensitivas incluem o conhecimento sensível, como a luz captada pelo olho ou o som pelo ouvido e as emoções, que são inclinações resultantes desse conhecimento.
  • Já as potências da alma, exclusivas do ser humano, englobam a inteligência, voltada ao conhecimento espiritual, e a vontade, uma inclinação orientada pela inteligência.

Isso explica por que, mesmo que um homem saiba que é errado olhar para mulheres na rua, ele ainda sente essa tendência, mesmo sem desejar isso.

São Paulo já expressou essa realidade em sua carta aos Romanos:

“Eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita o bem, porque o querer o bem está em mim, mas não sou capaz de efetuá-lo. Não faço o bem que quero, mas o mal que não quero. (Romanos 7,18-19)”

Aquele que harmoniza suas potências sensitivas com as espirituais, buscando o bem, é considerado virtuoso. Quem consegue conter as potências sensitivas que estão desalinhadas das espirituais é chamado de continente, enquanto aquele que não consegue se conter é o incontinente. 

No caso do vício, as potências sensitivas estão em conformidade com as espirituais, mas estas, infelizmente, desejam o mal. Por isso, muitos viciados acabam negando sua condição para continuar no vício.

Por exemplo, há casos de pessoas viciadas em pornografia que acreditam ser normal passar cinco horas diárias consumindo conteúdo adulto, ignorando os alertas de outras pessoas sobre os prejuízos dessa prática.

O que é um vício segundo a psicologia?

A Organização Mundial da Saúde descreve o vício como um:

“Um distúrbio crônico e recorrente do sistema cerebral que envolve a perda de controle sobre o uso de uma substância, apesar das consequências adversas. Esse comportamento é influenciado por fatores biológicos, psicológicos e sociais, e o uso compulsivo da substância geralmente interfere no funcionamento da pessoa em várias áreas da vida, como trabalho e relações sociais”.

John Francis Harvey, fundador do Courage e especialista em vícios sexuais, define o vício como:

“Um estilo de conduta em que os modos de pensar e sentir de um indivíduo, ou suas relações com os outros, mostram claramente que a pessoa perdeu o controle sobre seu comportamento, apesar de ter tentado contê-lo com pouco, ou nenhum, sucesso positivo.”

Essas definições indicam características análogas às do vício:

  • A prática repetida e impulsiva de um comportamento;
  • A tendência de aumentar a intensidade;
  • A duração ou a frequência dos atos;
  • A necessidade crescente de intensificação e as mudanças em outras áreas da vida, que começam a ser sacrificadas.

Mas qual é a relação dessas definições com a de Santo Tomás de Aquino?

Santo Tomás fala do vício como um mau hábito, enquanto a psicologia moderna o descreve como um estado de intoxicação ou um estilo de conduta. No entanto, o consumo de substâncias também pode ser visto como um estilo de conduta.

Nesse sentido, podemos entender os vícios como maus hábitos que geram uma série de atos repetitivos. Em alguns casos, esses hábitos têm um efeito tão intenso no cérebro que reforçam o vício, como no caso de drogas, álcool e pornografia.

Para esses vícios que afetam o cérebro, o uso de medicação pode ser necessário. Quando essa alteração cerebral não ocorre, o acompanhamento terapêutico ou a direção espiritual podem ser eficazes no combate ao vício.

Quais são os tipos de vícios?

O vício é um tipo de dependência nociva, embora existam também dependências positivas. A Dra. Elisabeth Lukas, discípula de Viktor Frankl, identifica cinco tipos de dependências nocivas:

  1. Dependência da aprovação dos outros: trata-se de uma dependência dos efeitos externos gerados por nossos atos, seja uma recompensa ou um castigo. É uma dependência interior que busca validação externa, como a necessidade de aprovação dos outros.
  2. Dependência de certas pessoas: nesse caso, o “bom” é valorizar positivamente uma pessoa específica, e o “ruim” é aquilo que contradiz essa visão. A pessoa que exerce esse controle pode ser o cônjuge, pai, mãe, filho, namorado ou líder.
  3. Dependência social e cultural: aqui, a dependência não é de uma pessoa específica, mas de critérios impostos pela sociedade. Isso se manifesta, por exemplo, na influência da televisão, cinema, música popular e modas, que determinam normas de comportamento, como a aceitação de práticas fora do casamento.
  4. Dependência dos próprios caprichos: essa dependência ocorre quando alguém subordina uma ação, mesmo sabendo que é boa ou necessária, a uma condição especial. Por exemplo, alguém que só pede desculpas depois que o outro também o faz.
  5. Dependência dos próprios estados anímicos: aqui, o comportamento é orientado pelo estado emocional. A pessoa depende do “sentir-se bem” ou “sentir-se mal” para definir o que é bom ou ruim. Um exemplo é o alcoólico que bebe para melhorar o humor.

O Pe. Miguel Fuentes comenta, em seu livro O Drama Doloroso das Adicções, esses cinco tipos de dependência:

“O viciado, antes de ser escravo de uma substância (álcool, droga) ou de uma paixão/ato (sexo, jogo, compras), é escravo desse julgamento injusto e falso que produz o curto-circuito de sua mente: o de julgar o bem e o mal emocionalmente e não racionalmente. Portanto, não se pode lutar contra um vício estabelecido se não se emergir da vida sensível para a vida racional.”

Assim, é possível distinguir o vício relacionado a uma substância (álcool, droga) ou a uma paixão/ato (sexo, jogo, compras) como um mau hábito. Além disso, o Pe. Fuentes explica que o vício pressupõe um sistema cultural de dependência, envolvendo uma ou várias das causas mencionadas acima.

Como se livrar do vício

Viktor Frankl, fundador da Logoterapia, afirma em seu livro El Hombre Doliente:

“Este livro tenta mostrar até que ponto o ser humano pode permanecer incondicionado, apesar de toda a condicionalidade. Em outras palavras, deve-se investigar até que ponto o ser humano, em sua condicionalidade, pode superá-la ou, ao menos, transcendê-la, e pode ‘existir’, além da condicionalidade de sua ‘facticidade’, na incondicionalidade.”

Frankl destaca que, apesar de todos os vícios e defeitos, o ser humano é capaz de se libertar devido à sua liberdade. Assim, por mais desafiador que seja se livrar de um vício, qualquer pessoa, em qualquer situação, possui essa capacidade.

A Desintoxicação

Com base nesse princípio, o primeiro passo para quem é dependente de substâncias tóxicas é a desintoxicação. Sem esse processo, a psicoterapia ou qualquer outro tratamento não terão eficácia, sendo que, em alguns casos, a internação pode ser necessária.

Depois da desintoxicação, entra a psicoterapia, que pode variar conforme a abordagem adotada, como a:

  • Terapia Cognitivo-Comportamental;
  • O método dos 12 passos;
  • A Logoterapia, entre outras.

Nesse estágio, trabalha-se o sistema cultural de dependência que sustenta muitos vícios, pois, sem tratar essa causa, o risco de recaída permanece, mesmo após a desintoxicação.

A necessidade de terapia

Para que a terapia seja eficaz, alguns elementos são essenciais. O primeiro é a busca de sentido: uma razão pela qual lutar contra o próprio vício. Muitas vezes, mesmo que a terapia revele erros e padrões egoístas, sem um propósito claro, os efeitos desejados não são alcançados.

No entanto, encontrar um sentido na vida não basta; é preciso tomar decisões coerentes com esse sentido. Isso exige fortalecer a vontade, especialmente na capacidade de renúncia a si mesmo.

Finalmente, é crucial manter essas decisões carregadas de significado. Quem toma boas decisões e depois as abandona se torna o maior inimigo de si mesmo, causando grande prejuízo a si próprio.

Após o processo de desintoxicação, o trabalho com o sistema cultural e o cultivo de bons hábitos, o indivíduo consegue superar o vício e adquirir forças para evitar recaídas.

Conheça a Ordem Terceira

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