Desde o início da história cristã, a Igreja reconhece que certas qualidades refletem de maneira especial quem Deus é. Três delas se destacam: o Bom, o Belo e o Verdadeiro.
Esses três valores, chamados de transcendentais, estão presentes em tudo o que existe e apontam diretamente para Deus, que é a fonte de todo bem, de toda beleza e de toda verdade.
Na fé católica, esses princípios não são apenas ideias filosóficas — eles têm impacto direto em como vivemos, pensamos e amamos. São caminhos que nos aproximam de Deus e nos ajudam a ver sua presença em toda a criação, nas pessoas, nas obras de arte, na natureza e até mesmo nas pequenas escolhas do dia a dia.
Neste artigo, vamos conhecer melhor o que significa cada um desses transcendentais e como podemos vivê-los de maneira concreta em nossa caminhada cristã.
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O Bom: A Bondade como Reflexo de Deus
O conceito de “bom” remete à própria essência de Deus, que representa a bondade infinita. Santo Tomás de Aquino, em sua Suma Teológica, ilumina que o bem é a meta que o apetite humano naturalmente busca — isto é, é o fim desejado pela vontade.
Dessa forma, conclui-se que o bem é aquilo que a alma anseia e em que finalmente encontra satisfação plena. A bondade divina é a fonte de toda bondade existente; tudo o que é bom participa, de alguma forma, do amor etéreo de Deus.
Dentro da moral católica, a prática do bem não é apenas uma ética a ser seguida, mas uma resposta repleta de amor à divindade.
O Catecismo da Igreja Católica assegura que “a prática do bem é acompanhada de um prazer espiritual gratuito e de uma beleza moral.” Assim, viver segundo os princípios do bem se torna uma maneira de participar da própria vida divina, refletindo a luz de Deus nas interações diárias.
O Belo: A Beleza como Caminho para Deus
A beleza transcende a superfície estética e revela-se como uma manifestação da ordem e harmonia geradas pelo Criador.
Santo Agostinho provoca a contemplação ao afirmar:
“Interroga a beleza da terra, interroga a beleza do mar, interroga a beleza do ar que se dilata e se difunde, interroga a beleza do céu… interroga todas estas realidades. Todas elas te respondem: Olha-nos, somos belas. Sua beleza é um hino de louvor.”
A beleza surge como um convite a reconhecer o divino.
São Tomás de Aquino complementa essa visão ao dizer que “o belo é o esplendor do bom e do verdadeiro.” Isso implica que a beleza não é apenas um atributo em si, mas um meio através do qual a alma é elevada a Deus, proporcionando um acesso sensível ao sagrado.
Na arte sacra, a beleza assume um papel vital. O Catecismo ensina que uma obra de arte verdadeira e bela evoca e glorifica o Mistério transcendente de Deus, direcionando a congregação à adoração e ao amor divino.
“A arte sacra é verdadeira e bela quando corresponde, pela forma, à sua vocação própria: evocar e glorificar, na fé e na adoração, o Mistério transcendente de Deus, sobre eminente beleza invisível de verdade e amor, manifestada em Cristo, ‘resplendor de sua glória, expressão de seu Ser’ (Heb 1, 3), em quem ‘habita corporalmente toda a plenitude da divindade’ (Cl 2, 9); beleza espiritual refletida na Santíssima Virgem Maria, Mãe de Deus, nos anjos santos. A arte sacra verdadeira leva o homem à adoração, à oração e ao amor de Deus, Criador e Salvador, Santo e Santificador.” Catecismo da Igreja Católica (CIC §2502)
O Verdadeiro: A Verdade como Conhecimento de Deus
A busca pela verdade se estabelece como uma jornada essencial na vida cristã. A verdade, em sua definição clássica, é a conformidade da mente com a realidade.
No contexto católico, a verdade última reside em Deus, que representa a fonte de toda e qualquer verdade.
Santo Tomás de Aquino reforça que a inteligência humana não apenas busca compreender a verdade, mas ao fazer isso, eleva-se à participação na verdade divina.
Assim, a verdade não é um conceito relativista; é objetiva e absoluta, enraizada na natureza imutável e eterna de Deus.
O Catecismo da Igreja Católica destaca que “a verdade é bela em si mesma” e afirma que “a verdade da palavra, expressão racional do conhecimento da realidade criada e incriada, é necessária ao homem dotado de inteligência.”
Portanto, a busca pela verdade não é apenas uma necessidade intelectual, mas um anseio profundo e ardente por conhecer a própria essência de Deus, que é a Verdade Suprema. (Catecismo, 1997)
A Trindade dos Transcendentais: Bom, Belo e Verdadeiro
Embora o Bom, o Belo e o Verdadeiro sejam conceitos únicos, eles estão indissoluvelmente ligados.
Na visão de Santo Tomás de Aquino, “o belo é o esplendor do bom e do verdadeiro.” Esses transcendentais não aparecem como qualidades isoladas, mas como facetas interligadas de uma mesma realidade divina.
Na vida cristã, a busca por essas perfeições é de suma importância. Ao praticarmos o bem, contemplarmos o belo e buscarmos a verdade, não somente nos aproximamos de Deus, como também nos alinhamos com a sua vontade.
Este alinhamento é um delineamento do caminho que nos pode conduzir à santidade e à união perfeita com o Criador.
A integração do Bom, do Belo e do Verdadeiro em nossas vidas instiga uma transformação interior. Cada uma delas nos propõe uma condução gradual e holística em direção a uma realidade mais sublime.
Compreender essas perfeições como um trino interdependente nos possibilita ver a criação como uma sinfonia divina, onde se entrelaçam as nuances da vida moral, estética e intelectual.
Assim, viver de acordo com os transcendentais não é uma preocupação meramente teórica, mas um chamado à ação e à reflexão contínua sobre nosso papel no mundo.
Os transcendentais são fundamentais para a compreensão mais profunda da realidade e da moral cristã. Eles se revelam como guias que nos direcionam a Deus, que é a fonte e o fim de todas as perfeições.
Ao buscarmos e vivermos estas verdades, não apenas participamos da vida divina como também nos aproximamos do nosso destino último: a bem-aventurança eterna. (Catecismo, 1997)
Portanto, devemos cultivar essas virtudes em nossas atividades diárias, esforçando-nos para refletir a bondade, a beleza e a verdade de Deus em nossos pensamentos, palavras e ações.
Assim, tornamo-nos testemunhas vivas do amor divino e mensageiros da esperança em um mundo que anseia por redenção.
Cada gesto de bondade, cada apreço pela beleza e cada busca pela verdade nos conecta mais intimamente ao coração de Deus e nos aproxima do ideal que Ele traçou para a humanidade.
Ao integrar os transcendentais em nossa vida, contribuímos para a construção de um mundo que, embora imperfeito, reflete a graça e a grandeza do Criador que nos ama incondicionalmente.