A paciência de Nossa Senhora – Padre Renato Leite

Redação VOTC

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Quero manifestar aqui a grande alegria de poder dirigir esta meditação, esta homilia, no oitavo dia do novenário em honra de Nossa Senhora do Carmo. Fui encarregado de falar aos senhores e senhoras sobre a paciência da Virgem Maria.

A paciência é uma virtude que está profundamente ligada à fortaleza. Por meio dela, o virtuoso adquire a capacidade de resistir, vencer o medo — inclusive o medo da morte —, suportar provações e perseguições. Como ensina o Catecismo da Igreja Católica, no número 1808, a paciência dispõe a pessoa a aceitar até mesmo a renúncia e o sacrifício da própria vida em defesa de uma causa justa.

Santo Tomás de Aquino nos mostra que a paciência é uma espécie de aspecto secundário da fortaleza, mas essencial. É a marca distintiva de quem foi chamado ao martírio e não volta atrás. O mártir é, por excelência, aquele que manifesta a virtude da paciência.

A palavra “paciência” vem do latim pati, que significa “padecer”. A paciência é, portanto, a arte de padecer — mas não de qualquer maneira. Todos nós padecemos, de um modo ou de outro. O dia de hoje, por exemplo, certamente nos ofereceu mais de uma ocasião de sofrimento, em diversas situações. E nem sempre nos é dada a opção de escolha. A dificuldade está posta, e não é possível fugir dela.

Mas o paciente ganha a habilidade de padecer bem. É possível padecer mal — perdendo-se no meio dos sofrimentos —, ou padecer bem. Quem sofre bem cresce no sofrimento, torna-se mais resistente e não se desmancha como as almas superficiais que, ao menor desafio, logo se compadecem de si mesmas e se inclinam para as consolações e para o conveniente.

Quando a paciência é vivificada pela graça do Espírito Santo, ela se transforma na arte de sofrer com fé, esperança e caridade. E então, de cada sofrimento, brota um grau maior de amor a Deus. Não é difícil amar a Deus nas situações favoráveis, quando tudo caminha conforme nossas ideias e gostos. Mas quem imagina que pode sair mais unido a Deus exatamente nas ocasiões em que sofre algo por amor a Ele? Pois é assim que o amor amadurece.

Muitos se perdem na noite escura dos sentidos. E por isso, Deus tem poucos amigos, poucos em quem confiar. É muito significativo que o apóstolo São Paulo, em seu famoso hino à caridade, ao descrever os traços principais do amor cristão, comece dizendo: “A caridade é paciente” (1Cor 13,4). Esta é a primeira nota do amor sobrenatural que nos é infundido no Santo Batismo.

Ainda sobre esse tema, o apóstolo afirma em 2Tm 2,10: “Eu suporto tudo por amor dos eleitos”. E aos colossenses, ele escreve com grande ternura: “Alegro-me nos sofrimentos suportados por vossa causa” (Cl 1,24). Quem poderia imaginar que na mesma alma podem habitar alegria e sofrimento? Isso foge à lógica humana. Mas é justamente essa a obra da graça: realizar na alma do paciente o milagre de transformar a dor em fonte de consolação e amor.

Guardem bem esta frase de Santo Tomás de Aquino, repetida várias vezes na Suma Teológica: “Só o amor é causa da paciência”. Toda impaciência — toda revolta, murmuração, palavra grosseira ou até maldição — tem por causa a falta de amor. Falta de amor a Deus, ao próximo, ou a ambos.

Deus, na hora mais escura do Calvário, colocou um farol de luz. Este farol brilhou especialmente quando o Imaculado Coração da Virgem Maria foi transpassado por uma espada. Ao meditar sobre o Calvário, é inevitável nos perguntarmos: como foi possível a Virgem passar por aquilo?

O Calvário, que tantas vezes serve de argumento ao ateísmo, parece perguntar: onde estava Deus? E, no entanto, ali estava Ele. Por trás daquele sofrimento indescritível, só alguém que já tenha passado por algo parecido — talvez uma mãe que tenha perdido um filho de modo brutal — pode ter uma noção, ainda que vaga, da dor da Virgem Maria.

Todos nós conhecemos a misericórdia de Deus. Mas Maria e seu Filho conheceram também a justiça divina. Eles beberam o cálice amargo da justiça até a última gota. E nós, que com tanta facilidade a chamamos de “mãe”, não devemos esquecer das dores das quais nascemos. Não nos esqueçamos das dores que nos geraram.

Ela sofreu tanto porque amou profundamente. A posição ereta da Virgem aos pés da cruz, destacada pelo evangelista São João — “e de pé, junto à cruz, estava a sua mãe” (Jo 19,25) — não é senão o sinal do imenso amor com que amou a Deus e à Sua vontade. E a vontade de Deus era que, por meio daquele sacrifício, fôssemos libertos da condenação eterna.

A figura usada por Simeão — o transpasse de espada — não deixa dúvidas. Há feridas que podem ser tratadas, cuja sangria pode ser estancada. Mas do transpasse, quando a espada entra de um lado e sai do outro, não se escapa vivo. Nunca! Oh, Santíssima Mãe de Deus e nossa, quem poderá ponderar tuas dores? Mas maior do que todas elas foi o teu amor. E não houve — nem haverá — outro igual.

Afinal, é justo que criminosos sofram. Mas santos e inocentes? E, no entanto, a maior dor foi dada a Ela. Porque, amando a vontade de Deus, amou a nossa salvação. E, por isso, amou-nos com um amor que lhe custou o Filho… e a própria vida.

Santa Teresa recorda: amor se paga com amor. Portanto, senhores e senhoras, supliquemos a Deus, por intercessão da gloriosa Virgem Maria, Rainha do Carmelo, que como fruto amadurecido deste novenário, possamos amar a Mãe e o Filho com um amor marcado pela paciência.

Amar quando tudo vai bem é fácil. Qualquer um ama quando tudo favorece. Mas amar no solo fértil da paciência, esse amor provado e resistente, não é para qualquer um. Assim, quando surgirem oportunidades de renúncia, dor, prejuízo, abandono, solidão ou desprezo — saibam! Eis aí a ocasião de provar se o amor que dizemos ter à Mãe e ao Filho é verdadeiro.

E encerro dizendo: nunca, como nos nossos dias, o mundo e a Igreja Católica precisaram tanto de homens e mulheres treinados na arte de amar a Deus, e portanto, treinados na arte da paciência.

Quem sabe, se não será aqui, entre nós, que algumas almas responderão a essa urgência que define o destino do mundo e da Igreja.

 

Homilia do Padre Renato Leite no oitavo dia do solene novenário de Nossa Senhora do Carmo de 2025.

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