A cidade de São Paulo, que hoje pulsa como o coração econômico do Brasil, teve sua formação marcada pela fé.
Entre os protagonistas dessa história estão os filhos espirituais de Nossa Senhora do Monte Carmelo — frades, religiosos e leigos que, unidos pela espiritualidade carmelita, deixaram marcas profundas na vida da capital.
A Ordem Terceira do Carmo é parte essencial dessa história.
Desde o século XVI, esteve presente nos grandes acontecimentos da cidade, seja na construção de igrejas, na educação, na assistência social ou na organização de procissões e devoções que até hoje fazem parte da tradição católica paulistana.
Conheça a história dessa devoção que atravessa séculos e continua viva no coração católico paulistano.
Origens da Ordem Carmelita no Brasil (1580–1589)
A presença carmelita no Brasil remonta a abril de 1580, quando chegaram a Santos os primeiros frades carmelitas, vindos de Lisboa na nau de Frutuoso Viana. Entre eles, Frei Domingos Freire, Frei Alberto de Santa Maria, Frei Bernardo Pimentel e Frei Antônio de São Paulo, recebidos por Braz Cubas e instalados na Capela de Nossa Senhora das Graças.
Pouco depois, os Carmelitas fundaram importantes núcleos missionários:
- 1584 – Igreja do Carmo de Olinda (PE), ponto de partida das missões no Norte.
- 1586 – Igreja e Convento do Carmo de Salvador (BA).
- 1589 – Igreja e Convento do Carmo de Santos (SP), ainda existentes na Praça do Rio Branco.
Chegada a São Paulo e fundação da Ordem Terceira (1590–1594)
Em 1590, os Carmelitas se estabeleceram em São Paulo, na baixada do Tamanduateí. Dois anos depois, Frei Antônio de São Paulo obteve autorização da Câmara para construir a Igreja do Carmo, no outeiro da futura Esplanada do Carmo (hoje Av. Rangel Pestana).
O marco de 1594 foi duplo: conclusão do convento e fundação da Venerável Ordem Terceira de Nossa Senhora do Monte do Carmo de São Paulo, hoje Ordem Terceira do Carmo.
Essa instituição leiga, ligada espiritualmente à Ordem do Carmo, permitiria que fiéis vivessem no mundo segundo a regra carmelita, unindo oração, penitência e obras de caridade.
Séculos XVII e XVIII: procissões e devoção popular
Ao longo dos séculos, a Ordem Terceira tornou-se presença marcante na vida religiosa da cidade:
- 1632 – Início da construção da Igreja própria da Ordem Terceira.
- 1680 – Primeira procissão de Nossa Senhora do Carmo.
- 1681 – Primeira procissão de Nosso Senhor dos Passos, tradição que durou até o início do século XX.
- 1697 – Reforma dos Estatutos, conhecidos como “Actas”.
Em 1798, o forro da nave da Igreja do Carmo da Ordem Terceira foi ricamente pintado por Padre Jesuíno do Monte Carmelo, retratando Doutores da Igreja, Evangelistas e santos carmelitas.
Século XIX: fé, presença imperial e ação social
No século XIX, a Ordem Terceira reforçou sua influência espiritual e social:
- 1846 – Imperador Dom Pedro II e a Imperatriz Thereza Christina participaram das procissões e foram recebidos solenemente pela Ordem.
- 1868 – Inauguração do cemitério particular da Ordem.
- 1892–1898 – Sob Mons. Camilo Passalacqua, foram publicados livros de espiritualidade (Decor Carmeli, Pequeno Vade Mecum), e adquiridos terrenos para o Colégio do Carmo.
Século XX: educação, imprensa e perseverança
- 1908 – Lançamento da revista Vozes do Carmelo, dedicada à formação espiritual dos membros.
- 1912 – Inauguração do novo Colégio do Carmo, administrado pelos Irmãos Maristas até 1971.
- 1928 – Desapropriação da antiga Igreja e Convento; a imagem de Nossa Senhora do Carmo foi transferida em procissão solene para a nova capela na Rua Martiniano de Carvalho.
Assistência e continuidade da missão (1968–presente)
- 1968 – Inauguração do Ambulatório Nossa Senhora do Carmo, oferecendo atendimento gratuito em diversas especialidades médicas.
Hoje, a Ordem Terceira do Carmo em São Paulo segue firme, preservando séculos de tradição e levando adiante a espiritualidade carmelita, com profunda devoção a Nossa Senhora e compromisso com a Igreja.
Espiritualidade Carmelita: Contemplação e Ação
A história da Ordem Terceira do Carmo é um testemunho vivo de que a espiritualidade carmelita une contemplação e ação. Inspirados por Nossa Senhora do Monte Carmelo, os membros da Ordem aprenderam a viver no silêncio da oração, mas também na intensidade do serviço à comunidade.
Ao conhecer essa história, o fiel católico descobre que a devoção mariana e a vida de oração são capazes de transformar não apenas corações, mas também cidades inteiras.
Fonte : Livro do Carmo, patrimônio da história, arte e fé – Raul Leme Monteiro, 1978.