Como nos diz o Santo Padre João Paulo II em sua carta apostólica Rosarium Virginis Mariae, “o Rosário da Virgem Maria, que ao sopro do Espírito de Deus se foi formando gradualmente no segundo Milênio, é oração amada por numerosos Santos e estimulada pelo Magistério”. Sua existência histórica narrada durante os séculos pelos grandes padres da Igreja, mostra como a grandeza da devoção a Santíssima Mãe de Deus leva os homens a conhecerem mais ainda Jesus Cristo pois, em seus mistérios, reflete-se sobre a vida do salvador, de seu nascimento até sua ressurreição e subida gloriosa aos céus.
No texto abaixo o leitor e leitora encontrarão uma coleção importante de reflexões sobre o Santo Rosário e sua relação com a Sagrada escritura para que seu amor por esta prática, mais do que centenária, encontre cada vez mais um lugar de honra em sua vida de oração.
O que você encontrará neste artigo:
- São Domingos e o Terço.
- O Rosário.
- Pio V e a Batalha de Lepanto: A Arma Secreta.
- O Rosário, seus mistérios e a Sagrada Escritura.
- O Rosário meditado.
São Domingos e o Terço.
São Domingos de Gusmão, que viveu entre os séculos XII e XIII, era um devoto sacerdote espanhol servidor na ordem dos dominicanos ou ordem dos pregadores. Corajoso e determinado em seu sangue Ibérico, Domingos é incumbido pelo Papa Gregório IX a enfrentar a heresia albigense (ou Cátaros), desenvolvida no Sul da França e que pregava a existência de dois deuses antagônicos: um era um deus bom e outro, um deus mau. Em sua luta, em uma certa ocasião se recolheu em um bosque para orar e pedir a virgem Maria que o guiasse para que ele pudesse encontrar um caminho espiritual para combater de forma eficaz aquela heresia que se espalhava e criava um pensamento nocivo à Igreja e, por consequência, à fé.
Suas orações insistentes e piedosas, no terceiro dia de sua penitência, alcançaram o coração da Santíssima Mãe de Deus que lhe aparece junto a três anjos e que faz a ele uma pergunta importante:
“Amado Domingos, você sabe qual é a arma que a Santíssima Trindade quer usar para mudar o mundo?”
Domingos, em sua humildade simplória e devota, responde a Maria:
“A senhora, minha mãe, sabe esta resposta melhor do que teu servo.”
Então a Virgem Santa diz a ele:
“Quero que saiba que neste tipo de guerra a arma sempre foi o Saltério Angélico (palavras do Arcanjo Gabriel a Nossa Senhora na Anunciação), que é a pedra fundamental do Novo Testamento. Portanto, se você quer converter estas almas endurecidas e ganhá-las para Deus, difunda o meu saltério…”
A tradição nos diz que, naquele momento, Maria entrega a São Domingos o terço com 50 ave-marias, como arma de conversão dos hereges e que passará a ser conhecido como o Saltério da Bem-Aventurada Virgem Maria. Diz-se Saltério porque os monges costumavam rezar e meditar os 150 Salmos das Escrituras.
O Rosário.
Algum tempo depois, a fé no terço começou a fraquejar e então o Beato Frei Alano de Rupe, também dominicano, presencia uma aparição da Santa Mãe de Deus que lhe diz que, para que fossem registrados todos os milagres obtidos por meio da recitação do terço, seriam necessários muitos e muitos livros e reforçou as suas promessas feitas a São Domingos de Gusmão. Assim, por graça da Virgem Santíssima, o frei dominicano cria os agrupamentos de 150 Ave-Marias em três segmentos de 50 (terço), os quais chamou de mistérios.
Para cada conjunto de Mistérios, ele refletia cinco passagens da vida de Cristo e de Maria, para que as meditações conferissem maior santidade e ritmo nas orações (Mistérios Gozosos – Infância de Cristo, Dolorosos – A paixão e Morte de Cristo e Gloriosos – A Ressurreição de Cristo, Vinda do Espírito Santo e a glorificação de Maria). Assim, cada mistério passou a possuir cinco meditações com uma dezena de Ave-marias. O Beato também incluiu a oração do Pai-nosso a cada início da sequência das Ave-marias.
Mais recentemente, em sua Carta Apostólica Rosarium Virginis Mariae de 16 de outubro de 2002, o Santo Papa Joao Paulo II, incluiu um quarto mistério, chamado de mistério Luminoso onde são meditadas fases da vida pública de Cristo, como seu Batismo no Rio Jordao e a última ceia, ou instituição da Eucaristia.
O rosário é composto pelas seguintes orações: a Ave Maria, o Pai Nosso (ou “Oração do Senhor”, que nos foi dada pelo próprio Cristo), o Glória, o Credo dos Apóstolos, os vários mistérios da fé e uma Salve Rainha como encerramento.
Pio V e a Batalha de Lepanto: A Arma Secreta.
No século IV, a Europa corria o risco de ser tomada de assalto pelas forças militares do Império turco-Otomano, que contavam com guerreiros ferozes e uma armada Naval invejável e experiente. O Sumo Pontífice à época, o Papa (hoje Santo) Pio V, após anos de dedicação, incentiva os exércitos da Europa a repelirem energicamente a investida muçulmana e conclama os Católicos, através da Carta Breve Consueverun, aentoarem a oração do Rosário como arma espiritual contra os invasores.
A luta entre as armadas europeia, chamada de “Liga Santa” e as turcas se dá no estreito de Lepanto, na Grécia onde, apesar de militarmente mais fraca, a esquadra da Liga Santa vence milagrosamente após a mudança dos ventos que davam vantagem a esquadra inimiga. Neste embate mais der vinte mil soldados do Império Otomano e nove mil, da Europa, perderam suas vidas. Duzentas naus turcas foram destruídas.
Enquanto lutavam em sangrento combate, o Papa Pio V se encontrava de joelhos rezando firmemente o Rosário (que já vinha sendo ento
ado, com fervor, dois anos antes do combate) com a certeza da vitória a ser protagonizada pelos guerreiros de Maria Santíssima. A partir desta data o rosário passará a ser conhecido como “arma poderosa”, a arma por excelência dos católicos para vencerem todos os inimigos.
O Rosário, seus mistérios e a Sagrada Escritura.
Como dissemos anteriormente, o Beato Alano Rupe, monge Dominicano, institui um formato importante para a recitação do Santo Rosário, incluindo as meditações da vida de Cristo e de sua mãe Santíssima: A Virgem Maria.
Estes mistérios relatam a vida de Cristo, relatos estes completamente baseados nas passagens evangélicas que constam na Sagrada escritura.
Iniciamos nos Mistérios Gozosos.
Nos mistérios Gozosos, nos será dada a visão da visita do Anjo Gabriel à Maria a mando de Deus, sua concepção milagrosa como esposa do espírito Santo, sua visita a Isabel, o nascimento do Salvador em lugar pobre, a sua apresentação no templo (e a profecia de Simeão a Maria) e o perder e encontrar do menino Jesus no templo.
No primeiro Mistério gozoso, meditamos a anunciação do Anjo a Maria Santíssima que o Apóstolo Lucas nos revela em seu evangelho (Lc 1, 26-38). No segundo Mistério Gozoso, medita-se a visita de Maria a sua Prima Isabel, gravida na alta idade e estéril (Lc 1, 39-56). No terceiro mistério Gozoso, meditamos o nascimento do menino Jesus em Belém (Lc 2, 1-20). No quarto mistério, encontramos a passagem onde José e Maria apresentam o menino Jesus ao Templo e Maria vai ser purificada (Lc 2, 22-30). No quinto e último mistério gozoso, meditamos no perder e encontrar do menino Jesus, aos seus doze anos, no templo em Jerusalém (Lc 2, 41-50).
Os mistérios Dolorosos
Nestes mistérios contemplaremos a paixão do Senhor, suas dores, crucificação e morte.
No primeiro Mistério doloroso, contemplamos a agonia de Cristo no Horto das Oliveiras, após ter celebrado a santa ceia (Lc 22, 39-42). Ali estão com ele os mesmos discípulos que presenciaram a sua transfiguração em corpo glorioso. No segundo mistério, meditaremos a flagelação de Jesus Cristo pelos soldados romanos sob comando de Poncio Pilatos, após os Mestres da Lei tê-lo acusado mentirosamente e entregue para a justiça Romana na região (Mc 15, 1-5). No terceiro mistério doloroso, meditamos a coroação de espinhos a Jesus, e a forma sarcástica e desonrosa quer os soldados a ele se dirigem como “Rei dos Judeus” (Mc 15, 16-20). No quarto mistério, viveremos os momentos em que Cristo é condenado a morte por crucificação, escândalo para os Judeus. Neste mistério contemplamos Cristo carregando a sua cruz até o ponto de sua execução, o monte Gólgota. (Lc 23, 26-32). No quinto mistério, meditaremos na crucificação, últimas palavras e morte de Cristo como redentor da raça humana.
Os mistérios Gloriosos.
Aqui meditaremos na ressurreição gloriosa de Cristo, sua subida aos céus, a vinda do Espírito Santo e, por fim, na união de Maria com seu filho no reiuno celeste.
No primeiro Mistério Glorioso, contemplaremos a vitória de Cristo sobre a Cruz, ressuscitando e se mostrando aos seus discípulos (Mt 28, 1-7). No segundo Mistério, viveremos o momento de sua subida aos céus na estrada de Bethânia sob os olhares perplexos de seus discípulos, após permanecer quarenta dias com eles (Lc 24, 50-53). No terceiro mistério Glorioso, nos é dado a conhecer a vinda milagrosa do espírito santo sobre os apóstolos e Maria, a primeira e maior discípula de Cristo, no cenáculo onde o próprio Senhor se deu a conhecer nas espécies do pão e do Vinho (At 2, 1-11). No quarto mistério, contemplaremos a assunção da puríssima virgem Maria aos céus, tomada pelas mãos pelos Anjos (Papa Pio XII, “constituição Apostólica “Munificentissimus Deus“). No quinto e último mistério Glorioso, contemplamos a Coroação de Maria Santíssima como rainha do céu e da terra (CT 4, 7-12 e Ap 12,1)
Os mistérios Luminosos (incluído por São Joao Paulo II).
Nos mistérios Luminosos contemplaremos a vida pública de Jesus Cristo, seu batismo, o primeiro milagre, a vinda do reino de Deus e o anúncio da Boa nova, sua transfiguração e a instituição da Eucaristia.
No primeiro mistério Luminoso contemplamos o início da vida pública de Jesus: O Salvador vai até o seu Primo, João Batista, para ser batizado conforme regem as escrituras, no Rio Jordão (Lc 2, 41-50). No segundo mistério Luminoso, contemplamos a autorrevelação de Cristo, transformando a água em vinho em uma boda de casamento em Caná da Galileia, por intercessão de Maria Santíssima (Jo 2, 1-12). Já no terceiro mistério Luminoso, presenciamos o anúncio do reino de Deus e o convite à conversão dos homens ao evangelho, após Cristo ter a notícia da decapitação de João Batista por Herodes (Jo 20, 22-23). No quarto mistério Luminoso, meditaremos a cena da transfiguração de Cristo no Monte Tabor, em frente aos seus apóstolos, que estarão com ele também na sua paixão (Lc 9, 35). No quinto mistério, contemplaremos a instituição da Eucaristia e do sacerdócio, onde Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro homem se dá na forma do pão e do vinho como memorial eterno para seus discípulos (Jo 13,1).
Como podemos ver, os mistérios têm sua origem nas Sagrada Escritura e, o único que não possui uma passagem explícita na palavra de Deus, tem sua confirmação por Dogma de Fé instituído pelo Papa Pio XII em 1950 por uma constituição Apostólica e referendado por todos os outros sumos pontífices que o sucederam no ministério Petrino.
O Rosário meditado.
A meditação dos mistério do Santo Rosário, constitui elemento importante para o fortalecimento da devoção Cristológica pois nele medita-se sobre passagens da vida do Salvador em fases cruciais e determinantes de sua vida. Tanto quanto ao milagre de seu nascimento, assim como de seus feitos e ensinamentos na comunidade em que vivia, de sua paixão e ressurreição, o poder de oração que é conferido ao católico orante pela recitação do santo Rosário, torna a fé mais firme e redentora em dias em que o sagrado é deixado de lado e o mundanismo imediatista toma lugar nos pensamentos de tantos jovens.
O grande Padre Paulo Ricardo de Azevedo nos diz que:
“nas palavras de São Luís Maria Grignion de Montfort o segredo do Rosário é a humildade e a confiança de espírito com que nos colocamos diante da toda santa Mãe de Deus, suplicando a proteção desta que é, dentre todas as criaturas, a mais agradável a Jesus Cristo e a que maior poder de intercessão possui junto dEle. Como nas bodas de Caná, Ele escuta as orações dela. Como aos pés da Cruz, Ele confia a ela o seu “discípulo amado”, e ela a ele. Nós todos, se quisermos ser verdadeiros discípulos do Mestre Jesus, devemos ser também filhos e herdeiros de Maria, e sondar o coração de sua oração predileta é penetrar as profundezas de sua preciosa alma, contemplando a glória de Deus que aí vai refletida como num espelho.”
A Santíssima Virgem Maria, em suas aparições e, especialmente em Fatima, nos conclama aa sermos fiéis, penitentes e a rezarmos insistentemente e incessantemente a oração do Santo Rosário, meditando nos mistérios. Nas aparições de Fátima, Nossa Senhora recomendou com particular empenho, a devoção ao Rosário, como meio seguro para alcançar a paz.
Na aparição de 13 de maio de 1917, recomendou aos três pastorinhos que rezassem diariamente o Terço em intenção do fim da guerra (primeira guerra mundial) e a paz no mundo. Já na segunda e terceira aparições, a recomendação foi mais intensa ainda em rezarem devotamente o Terço todos os dias. No dia 13 de setembro seguinte, a Virgem Santíssima insistiu mais uma vez na necessidade da recitação diária do Terço, como meio de alcançar o fim da guerra mundial que dizimava a Europa.
Foi somente na última aparição, a 13 de outubro, que Nossa Senhora se revela às três crianças, em suas doces e ternas palavras: “Eu sou a Senhora do Rosário”. Aqui podemos ver como Maria tem apreço extremo por esta santa devoção.
São João Paulo II nos diz, novamente, em sua Carta Apostólica Rosarium Virginis Mariae:
“A família que reza unida, permanece unida. O Santo Rosário, por antiga tradição, presta-se de modo particular a ser uma oração onde a família se encontra. Os seus diversos membros, precisamente ao fixarem o olhar em Jesus, recuperam também a capacidade de se olharem sempre de novo olhos nos olhos para comunicarem, solidarizarem-se, perdoarem-se mutuamente, recomeçarem com um pacto de amor renovado pelo Espírito de Deus.
Muitos problemas das famílias contemporâneas, sobretudo nas sociedades economicamente evoluídas, derivam do facto de ser cada vez mais difícil comunicar. Não conseguem estar juntos, e os raros momentos para isso acabam infelizmente absorvidos pelas imagens duma televisão. Retomar a recitação do Rosário em família significa inserir na vida diária imagens bem diferentes – as do mistério que salva: a imagem do Redentor, a imagem de sua Mãe Santíssima. A família, que reza unida o Rosário, reproduz em certa medida o clima da casa de Nazaré: põe-se Jesus no centro, partilham-se com Ele alegrias e sofrimentos, colocam-se nas suas mãos necessidades e projectos, e d’Ele se recebe a esperança e a força para o caminho.”
Para finalizar, a recitação do Rosário nos introduz de modo natural na vida de Cristo e como que nos faz “respirar” os seus sentimentos, como nos diz o Beato Bartolo Longo:
“Tal como dois amigos, que se encontram constantemente, costumam configurar-se até mesmo nos hábitos, assim também nós, conversando familiarmente com Jesus e a Virgem, ao meditar os mistérios do Rosário, vivendo unidos uma mesma vida pela Comunhão, podemos vir a ser, por quanto possível à nossa pequenez, semelhantes a Eles, e aprender destes supremos modelos a vida humilde, pobre, escondida, paciente e perfeita”
Ad Maiorem Dei Gloriam !