No capítulo V do “Livro das Fundações” nossa Santa Padroeira, Teresa de Jesus, oferecendo alguns conselhos para “os que andam (demasiadamente) envolvidos em obras exteriores” tranquiliza e consola suas filhas espirituais no Carmelo que, muitas vezes, por força da obediência se viam submergidas em tantos afazeres que quase não tinham tempo para se encontrar com Deus em oração profunda. A Santa Doutora escreve: “Quando por obediência vocês se virem (demasiadamente) ocupadas com afazeres exteriores compreendam que, se (por exemplo) for na cozinha, o Senhor está entre as panelas, ajudando-as interior e exteriormente.” (Fundações, V, 8)
Num mundo cada vez mais dessacralizado como este no qual vivemos é cada vez mais raro encontrar pessoas que sejam capazes de perceber este Deus que está “entre as panelas” ou, em outras palavras, que dá a perceber os sinais de sua presença amorosa e de sua ação onipotente em todas as realidades. Somos arrastados para um (falso) sentimento de abandono de Deus, como se Ele não existisse ou – na melhor das hipóteses – como se existisse, mas não se importasse conosco
Muitos de nós estamos confinados em casa nestes dias marcados pelo “isolamento social” imposto pela pandemia da COVID-19. Cumprindo nosso dever de cidadãos e no exercício da mais genuína caridade cristã damos a nossa contribuição para diminuir o quanto possível a velocidade dos contágios a fim de que o Sistema de Saúde não entre em colapso. Assim, ficando o mais (ou todo o) tempo em casa, involuntariamente enclausurados, podemos nos converter em vítimas fáceis para aquele sentimento do abandono de Deus.
É preciso, então, recuperar aquela sensibilidade para a Presença divina que tão profundamente cultivou Santa Teresa de Jesus. É preciso realizar, dentro de nossas casas, essa verdadeira profissão de fé que afirma solenemente a presença de Deus entre as panelas, entre as escovas de dente, nas gavetas das roupas, no lugar vazio do sofá, no aconchego dos travesseiros e cobertores, na voz da esposa, do esposo, dos filhos e outros familiares, nos sons e na companhia que fazem os animais de estimação…
Contemple, pois, com o olhar de Teresa, cada uma dessas realidades que está aí em sua casa. Não procure “sentir” Deus, mas SAIBA que Ele está em cada uma delas. De novo, anuncie em solene profissão de Fé esta presença, acolha-a com alegria e faça dela uma fonte constante de serenidade e força para atravessar os dias difíceis pelos quais passamos. De fato, o Deus que está em nossas casas segue “ajudando-nos interior e exteriormente”. Amém.
(Artigo publicado no informativo paroquial da Paroquia Santa Teresa de Jesus)