No dia 16 de abril, segundo domingo da Páscoa, a Igreja comemora o dia da Misericórdia.
Instituída pelo Papa São João Paulo II desde o ano 2000 quando da canonização de Santa Faustina, a data é um momento especial de reflexão e de oração. Para entendermos o contexto em que é inserida a data, é importante relembrar que ela esta contida no Tempo Pascal.
“É importante que acolhamos inteiramente a mensagem que nos vem da palavra de Deus neste segundo Domingo de Páscoa, que de agora em diante, na Igreja inteira, tomará o nome de ‘Domingo da Divina Misericórdia’” declarou o para em sua homilia, no dia 30 de abril de 2000.

Santa Faustina Kowalska, religiosa compatriota do Santo Papa, apresentou ao mundo da fé as revelações privadas que recebeu pelas mensagens de Jesus sobre sua Divina Misericórdia, isto no povoado da cidade polonesa de Plock no ano de 1931.
Em pelo menos uma destas revelações, o Senhor pede a ela para que fosse perpetuado o sentido de sua misericórdia em um retrato. Nele, seriam mostradas luzes branca e púrpura saindo de seu coração, como a água e o vinho que jorraram de seu peito ferido pela lança do soldado romano, depois convertido.
A vida de Faustina, eternizada pelos seus relatos sobre a divina misericórdia, demonstram de maneira simples e objetiva através de provações inúmeras, o que é o buscar e o alcançar a Misericórdia divina.
O que você encontrará neste artigo:
- Quem me vê, vê o Pai.
- Os Matizes do Amor
- A Misericórdia Divina e o Evangelho
- A nossa Transformação em Cristo.
- Senhor, Tende Piedade de nós (O PODER DE CURA DA MISERICÓRDIA)
- As graças do Dia da Misericórdia
- Indulgencia Plenária!!! Oh, Glória!
- Ó Sangue e Água…
Quem me vê, vê o Pai. (Jo 14,9)
São Joao Paulo II abre sua carta encíclica, “Dives In Misericordia”, com uma exortação célebre e memorial do evangelho de João, sobre a revelação da Misericórdia.
“Deus que é rico em misericórdia é aquele que Jesus Cristo nos revelou como Pai. Foi o seu próprio Filho quem, em si mesmo, no-lo manifestou e deu a conhecer. Convém lembrar, a este respeito, o momento em que Filipe, um dos doze Apóstolos, dirigindo-se a Cristo lhe disse: “Senhor, mostra-nos o Pai e isso nos basta”; e Jesus respondeu-lhe: “Há tanto tempo que estou convosco e não me conheces…? Quem me vê, vê o Pai”. Estas palavras foram proferidas durante a conversa de despedida, no fim da ceia pascal.” (Dives in Misericórdia, João Paulo II)
Importante e vital é entender que a Misericórdia do pai é eterna, não se esgota e quer que em nós a prefiguração de seu filho tão amado e desejado seja feita de forma visceral, límpida e viva para que as suas graças sejam fonte de remédio para a tristeza, a imperfeição e incredulidade. Talvez como aquele soldado que sem ter ideia do que estava acontecendo, fere o lado de Cristo e vê dele jorrar água e sangue.
Os Matizes do Amor
São Joao Paulo II, ainda em sua carta encíclica “Dives In Misericordia”, nos mostra o que são as matizes do amor infinito de Deus. Por sua misericórdia, a raça humana persiste. Somente por isto:
“[…] o Senhor revelou a sua misericórdia tanto nas obras como nas palavras, desde os primórdios do povo que escolheu para si; e no decurso da sua história, este povo, quer em momentos de desgraça, quer ao tomar consciência do próprio pecado, continuamente se entregou com confiança ao Deus das misericórdias.
Na misericórdia do Senhor para com os seus, manifestam-se todos os matizes do amor: ele é para eles Pai, dado que Israel é seu filho primogênito; ele é também o esposo daquela a quem o Profeta anuncia um nome novo: “bem-amada” (ruhama), porque será usada misericórdia para com ela.
Mesmo quando o Senhor, exasperado pela infidelidade do seu povo, decide acabar com ele, são ainda a compaixão e o amor generoso para com os seus que o levam a superar a sua indignação. E então, torna-se fácil compreender a razão pela qual os salmistas, ao quererem cantar ao Senhor os mais sublimes louvores, entoarão hinos ao Deus do amor, da compaixão, da misericórdia e da fidelidade”. (Dives in Misericórdia, João Paulo II)
A Misericórdia Divina e o Evangelho
O Segundo Domingo da Páscoa, também costumava ser chamado de Domingo “in Álbis” (ou seja, domingo “vestido de branco”), já que, nesse dia, os neófitos (novos batizados) depunham a túnica branca do batismo. Este domingo encerra o tempo Pascal, ou as oitavas de Páscoa, estas celebradas em continuidade a festa da ressurreição de Cristo.
A Divina Misericórdia é vinculada especialmente ao evangelho deste domingo. Nele, o Senhor aparece aos discípulos no Cenáculo, após a ressurreição, e lhes dá o poder de perdoar ou reter os pecados (Jo 20, 19-31).
Especial momento é também relatado pelo mesmo apóstolo, quando Jesus ressuscitado convida o questionador São Tomé a tocar em suas chagas (Jo 20, 26) no oitavo dia depois de sua ressurreição. Daí este evangelho ser utilizado na liturgia no Domingo in Albis.
Em suas revelações a Madre Polonesa, Jesus também ressaltou sua segunda vinda, prometendo retornar em glória para julgar o mundo no amor, como está descrito no Evangelho de São Mateus (Mt 13 e 25).
A nossa Transformação em Cristo.
“A misericórdia constitui uma virtude particularmente divina.” Com estas palavras, Dietrich Von Hildebrand nos convida a conhecer mais sobre a Misericórdia de Deus presente em Jesus. Nos fala sobre a boa nova anunciada por Cristo, para que o homem, em sua natureza pecadora, não desista de buscar a sua salvação, que jorra do lado aberto de Cristo
“Assim como a humildade é uma virtude específica das criaturas, que no Homem-Deus só analogicamente se pode supor, a misericórdia é uma virtude específica de Deus, que só analogicamente pode existir no homem. A misericórdia é o amor de perdão que desce do Senhor absoluto até nós, a soma de todos os valores que Ele se sente inclinado a dar-nos sem o merecermos.
A misericórdia ressalta com extraordinária clareza na atitude de Deus para com o pecador. Não há parábola no Evangelho como a do filho pródigo para nos apresentar com tanta verdade esta virtude. O amor misericordioso fala-nos especificamente através da atitude daquele pai que sai ao encontro do filho extraviado, que acolhe com amor o arrependido e celebra o feliz acontecimento do seu retomo mandando sacrificar o novilho mais gordo do seu rebanho.
[…]A misericórdia de Deus constitui a palavra primigênia do Evangelho. Fala-nos de maneira patética na parábola do bom samaritano, aparece como uma admoestação na parábola do amor que perdoa as dívidas ao seu criado, subjuga-nos na morte do Salvador que, moribundo, ora pelos seus algozes.
No entanto, o Evangelho não só nos revela a misericórdia, divina, como nos dirige a nós próprios o preceito de sermos misericordiosos. A transformação em Cristo exige que participemos desta virtude especificamente divina. O Senhor disse no banquete em casa de Levi: “Quero misericórdia, não sacrifício” (Mt 9,13). Os misericordiosos são particularmente gratos a Deus. ‘Bem-aventurados os misericordiosos, porque eles alcançarão misericórdia’“.
O rosto da Misericórdia
O Papa Francisco, na abertura do Jubileu extraordinário da Misericórdia, em 2015, nos entrega uma belíssima visão sobre a misericórdia Divina em sua carta “Misericordiae Vultus” ou “O rosto da Misericórdia”, em português.
Nela ele nos convida a viver de uma forma diferente esta importante época. Nos alerta para o que consideramos como misericórdia e nos exorta a buscar a misericórdia no rosto de Jesus, presente em todas as nações, em todos os homens e mulheres e que transcende a tudo.
“Jesus Cristo é o rosto da misericórdia do Pai. O mistério da fé cristã parece encontrar nestas palavras a sua síntese. Tal misericórdia tornou-se viva, visível e atingiu o seu clímax em Jesus de Nazaré. O Pai, “rico em misericórdia” (Ef 2,4), depois de ter revelado o seu nome a Moisés como “Deus misericordioso e clemente, lento na ira, cheio de bondade e fidelidade” (Ex 34,6), não cessou de dar a conhecer, de vários modos e em muitos momentos da história, a sua natureza divina.
Na “plenitude do tempo” (Gl 4,4), quando tudo estava pronto segundo o seu plano de salvação, mandou o seu Filho, nascido da Virgem Maria, para nos revelar, de modo definitivo, o seu amor.
Quem o vê, vê o Pai (cf. Jo 14,9). Com a sua palavra, os seus gestos e toda a sua pessoa, Jesus de Nazaré revela a misericórdia de Deus.
Precisamos sempre contemplar o mistério da misericórdia. É fonte de alegria, serenidade e paz. É condição da nossa salvação. Misericórdia: é a palavra que revela o mistério da Santíssima Trindade”
Senhor, Tende Piedade de nós (O PODER DE CURA DA MISERICÓRDIA)
Scott Hahn, Escritor católico convertido do protestantismo, autor de obras de extremo valor para a Igreja, em seu livro “Senhor, tende Piedade”, faz uma exposição profunda da misericórdia de Deus que nos é dada pelo sacramento da reconciliação.
O poder de cura da Misericórdia.
“Jesus é a misericórdia infinita, e Ele partilha Sua misericórdia infinitamente através da Sua Igreja, no sacramento da Reconciliação.
Esta é a chave para o nosso crescimento espiritual, e é o meio ordinário pelo qual nós, crentes, chegamos a um conhecimento mais profundo de nós mesmos e de como realmente somos — isto é, de como Deus nos vê.
A Reconciliação nos impede de vivermos e de trabalharmos sob as ilusões deste mundo, fazendo-nos refletir sobre o lugar que ocupamos nele e sobre a história de nossas vidas.
Ele ilumina os cantos escuros de nossa alma, trazendo-os à luz clara da manhã do dia eterno, para nós mesmos os vermos pela óptica de Deus. Isso pode ser difícil e, por vezes, doloroso, mas no fim, ele cura tudo com o todo-poderoso toque de Jesus Cristo.”
(Scott Hahn, Senhor tende piedade de nós)
Nesta época, em fim do tempo Pascal, já devemos ter nos confessado ao sacerdote em busca de viver a semana santa de forma especial e receber Jesus em sua plenitude. Assim completam-se os dias em que vivemos tristezas, mas também a esperança que vem do Cristo ressuscitado e vivo, que nos visita com sua misericórdia infinita.
As graças do Dia da Misericórdia
Nas revelações a Santa Faustina, Jesus misericordioso prometeu conceder graças no dia da Festa da Divina Misericórdia:
“A alma que se confie e receba a Santa Comunhão obterá o perdão total das culpas e das penas. Nesse dia estão abertas todas as comportas divinas através das quais fluem as graças. Quem nesse dia se aproximar da Fonte de Vida receberá o perdão total das culpas e das penas”
Das graças:
- “A alma que se confie e receba a Santa Comunhão obterá o perdão total das culpas e das penas. Nesse dia estão abertas todas as comportas divinas através das quais fluem as graças”;
- “Quem se aproximar nesse dia da Fonte de Vida receberá o perdão total das culpas e das penas”;
- “Não encontrará alma nenhuma a justificação até que se dirija com confiança à Minha misericórdia. Nesse dia os sacerdotes devem falar às almas sobre a Minha misericórdia infinita”.
“As almas morrem apesar de Minha amarga Paixão. Lhes ofereço a última tábua de salvação, quer dizer, a Festa de Minha Misericórdia. Se não adoram Minha Misericórdia, morrerão para sempre”.
(Revelação de nosso Senhor a Santa Faustina)
Rezar a Coroinha da Divina Misericórdia
Nosso Senhor também confiou à Santa Faustina a Coroinha da Divina Misericórdia, entregando várias promessas:
- Quem a rezar obterá através dela que tudo o que peça se realize, sempre e quando estiver de acordo com a vontade de Deus;
- Quem orar com a Coroinha receberá misericórdia, sobretudo na hora da morte, e os sacerdotes a recomendarão aos pecadores como última tábua de salvação;
- Defenderei com minha própria Glória a cada alma que reze esta Coroinha na hora da morte, ou quando os demais a rezem junto ao agonizante, que obterão o mesmo perdão.
Indulgencia Plenária!!! Oh, Gloria!
Nosso querido Papa São João Paulo II, enriquecendo a celebração desta importante data, em seu Decreto da Penitenciaria Apostólica de 2002, confere ao povo de Deus a possibilidade de indulgência plenária neste dia:
“Para fazer com que os fiéis vivam com piedade intensa esta celebração, o mesmo Sumo Pontífice (João Paulo II) estabeleceu que o citado Domingo seja enriquecido com a Indulgência Plenária”, “para que os fiéis possam receber mais amplamente o dom do conforto do Espírito Santo e desta forma alimentar uma caridade crescente para com Deus e o próximo e, obtendo eles mesmos o perdão de Deus, sejam por sua vez induzidos a perdoar imediatamente aos irmãos” (Decreto da Penitenciaria Apostólica de 2002).
Para receber a graça da misericórdia de Jesus, especialmente nesta festa, é necessário aproximar-se ao Senhor com um coração contrito e humilde, arrepender-se dos pecados, confiar firmemente na Divina Misericórdia de Jesus Cristo e aproximar-se do sacramento da Confissão nesse dia ou sete dias antes ou depois. Receber a Comunhão Eucarística, venerar a imagem da Divina Misericórdia, e praticar as obras de misericórdia. (EPC)
Ó Sangue e Água…
Por fim, deixo aqui a mensagem de Cristo a Santa Faustina, relatada em seu Diário, e nela Senhor nos faz um pedido especial para que nos salvemos para a vida eterna\;
“Desejo que conheças mais a fundo o Meu amor, de que está se inflamando o Meu Coração pelas almas e, compreenderás isso quando refletires sobre a Minha Paixão. Invoca a Minha Misericórdia para com os pecadores, pois desejo a salvação deles. Quando, de coração contrito e confiante, rezares essa oração por algum pecador, eu lhe darei a graça da conversão. Esta pequena prece é a seguinte:
‘Ó Sangue e Água, que jorraste como fonte de misericórdia para nós, eu confio em vós’.”
Christus Vincit, Christus Regnat; Christus, Christus Imperat!
Fontes:
Liturgia das horas, Sábado Santo – Ofício das Leituras. 2ª leitura.
https://pt.aleteia.org/2023/04/14/o-que-voce-precisa-saber-sobre-o-domingo-da-misericordia-que-celebramos-neste-dia-16/, acessado em 14/04/2023
https://gaudiumpress.org/content/102740-Como-receber-as-gracas-no-dia-da-Festa-da-Divina-Misericordia/, acessado em 14/04/2023.
https://gaudiumpress.org/content/102763-Tudo-o-que-voce-deve-saber-sobre-a-Festa-da-Divina-Misericordia/, acessado em 14/04/2023.
JOÃO PAULO II, Papa. Dives in Misericórdia. Paulinas, 2011
HAHN, Scott. Senhor Tende piedade de nós. Cléofas, 2016.
VON HILDEBRAND, Dietrich. A nossa transformação em Cristo. Cultor d