Há alguns dias atrás, celebramos a memória de um grande Santo da Igreja: Santo Tomás de Aquino.
Santo Tomás é um daqueles santos que nos impressionam até mais profundo de nossa Medula.

Para se ter ideia de sua projeção, Santo Tomás compila, a pedido do Papa Urbano IV entre o final de 1262 e início de 1263, os comentários dos Santos Doutores da Igreja aos quatro evangelhos, deixando um legado riquíssimo que foi chamado de Catena Aurea.
Isto sem dizer de suas outras obras de altíssima profundidade espiritual e dogmáticas como a Suma Teológica e a Suma aos gentios, questões disputadas etc.
Recebe o título de Doutro da Igreja em 28 de janeiro de 1567, pelo Papa Pio V. A partir daí ele passou a ser chamado de Doutor Angélico (Doctor Angelicus) pelos clérigos.
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O que você encontrará neste artigo:
- Quem foi Santo Tomás de Aquino.
- A vida de Santo Tomás de Aquino em obras.
- As cinco vias de Santo Tomás de Aquino.
- Porque ler Santo Tomás de Aquino.
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Quem foi Santo Tomás de Aquino
Nasce em 1225 na cidade Italiana de Roccasecca, parte do reino de Nápoles. Filho de nobres e, portanto, com condição financeira favorável, Tomás desde cedo estava destinado a seguir a vida monástica por desejo de seus pais. Porém, apesar de estar no caminho de Deus, sua família tinha interesses mais políticos do que piedosos.
O destino “traçado” para Monte Cassino
Assim, aos seis anos ele é entregue ao mosteiro Beneditino de Monte Cassino aos cuidados de preceptoria de seu tio, o Abade Sinibaldo. O desejo de seus pais era que ele ali crescesse e fosse com o tempo evoluindo até uma posição de destaque. Com isto, a sua família ganharia mais notoriedade, consolidando sua posição em função da alta dignidade honorífica e excelente posição estratégica dentro do xadrez político e militar daquele tempo, que representava a abadia.
Precocemente Tomás, que já lê e escreve correntemente, estuda os primeiros elementos do latim, da aritmética e da gramática. Isto aos dez anos! Três anos mais tarde já conhece grande parte do Saltério, dos Evangelhos e das Epístolas de S. Paulo. Apóstolo dos gentios.
Tomás de Cantimpré (Bonúm universale de apibus, Lib I, cap x, ed de G. Colvenierius, Douai,1627, págs. 81-83 – Storia della Badia di Monte Cassino), outro dos biógrafos do Santo, descreve Monte Cassino como a principal Abadia da Apúlia e da Campânia. Ali Tomás demonstra seu caráter de homem pensativo e recolhido.
Naquele território Santo, Tomás desenvolve seu intelecto…em direção ao espírito!
Desde muito cedo, o futuro Doutor Angélico se detinha por horas em contemplação aos seus questionamentos sobre a metafísica. Também neste mosteiro, Tomás protagonizou momentos curiosos como quando questiona aos monges Beneditinos: “Que é Deus?”, não como um desafio, mas sim como uma vontade de ir além do formal.
Um novo caminho, desafiador.
Os caminhos de Deus são por ele mesmo escritos e não pelo incauto ser humano. Em 1239, eclode uma guerra entre o então Papa Gregório IX e Frederico II, Títere do Império Alemão. Com isto a Itália é invadida pelas tropas germânicas e a abadia de Monte Cassino, baluarte da causa Papal, sofre uma intervenção militar e os frades são expulsos dali. Tomás volta para Roccasecca.
Tomás é então encaminhado para a Universidade de Nápoles, por conselho de seu tio. Ali ele degusta as artes liberais: o “Trivium” e “Quadrivium”. Ali o futuro Doutor da Igreja cresce em conhecimento e se destaca por sua inteligência, desenvoltura e capacidade de raciocínio. E isto se dá a ponto de repetir aos seus companheiros de sala, as aulas dos mestres, porém com um método próprio, mais inteligível e profundo.
Os Dominicanos. Mas não era para ser os Beneditinos?
Já na Universidade, o rapaz de Roccasecca tem contato com a ordem dos pregadores, os Dominicanos, já desde 1229 presentes na instituição com grande sucesso. Com o passar do tempo aquela ordem instala uma escola Teológica na conceituada Universidade. O jovem estudante percebe que ali desenhava-se o caminho para ampliar e viver de forma mais visceral e intelectual o conhecimento da palavra de Deus.
Aos 19 anos se liga aos Dominicanos, de vida mendicante (!). Terror para os planos de seus pais; uma luz para os carentes da palavra de pregadores santos.
Em suas férias escolares, volta a terra natal e apresenta aos seus pais a sua decisão. Claro que foi aberta uma ferida enorme no ímpeto de Landolfo, seu pai, que recusa a decisão de seu filho. Por mais que Tomás argumente, seu pai insiste, energicamente, que ele deveria ser consagrado a ordem Beneditina e em Monte Cassino viver. Tomás não recua: a sua decisão era irrevogável.
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O sequestro.
Algum tempo depois, já engajado na ordem dos Pregadores, Tomás viaja com os Monges com destino a Bolonha, para participarem de um capítulo da ordem. De lá, Tomás iria até Paris, com o Mestre geral da ordem, para lá estudar. Eis que, durante a jornada, seus irmãos interceptam a caravana e, a mando de sua mãe, Teodora, fazem com que ele retorne ao castelo de Roccasecca. Alguns autores dizem que se tratou de um rapto, porém seus irmãos conheciam muto bem o gênio e a inteligência de Tomás. É certo pensar que não usariam força para com ele.
Já no castelo de Roccasecca, arama-se uma cilada. Tomás é colocado em um quarto, na fria noite e eis que uma certa senhora que dominava os prazeres da carne, profissão popular à época, entra no quarto e, mais do se oferecer, tenta seduzi-lo de todas as formas.
A cruz de fogo.
Porém o futuro Doutor Angélico, alcunha que ele ganharia mais tarde, toma uma atitude inusitada: vai até o fogão do quarto (usado para aquecer o ambiente) toma um carvão em brasa e expulsa a sedutora senhora. Finda a situação, com o tição desenha na parede uma cruz e se ajoelha, em ação de graças.
A tradição nos diz que, naquele momento, depois de tamanha luta e cansaço, Tomás adormece e tem um sonho, onde é visitado por anjos que o apertam com um cinturão de fogo. Assustado e com dores terríveis, ele acorda. Os anjos na verdade o cingem com o “cingulum Caritatis”, símbolo que represente a vitória moral dum voto de pureza jamais violado.
Finalmente, após um ano de reclusão e de ficar claro a sua família que seu destino não era ao lado deles nem dos Beneditinos, mas sim, os pregadores. Assim, no verão de 1245 Tomás é liberto do castelo e retorna aos Dominicanos.
A vida de Santo Tomás de Aquino em obras.
Santo Tomás, como Monge Dominicano, ascende de maneira vigorosa, mas com simplicidade, até ser considerado Doutor da Igreja, tanto pelos seus escritos irrepreensíveis quanto por sua vida devota completamente ao Santo Mistério de Cristo.
Em tão pouco tempo de vida, desenvolve uma obra pujante tanto pelo volume quanto por sua técnica meticulosa e vigorosa de trazer ao papel, as maravilhas de Deus.
Seus escritos compreendem 37 obras (poucas de autoria questionável) onde, em somente uma: a Suma Teológica, reúne… 13 (sim 13!) volumes de alta densidade teológica. De sua autoria há comentários Bíblicos, como a Catena Aurea, dezenas de documentos, Coleções e Sermões, além das conhecidas Sumas (Teológica e contra os Gentios), entre tantas outras.
Diz-se que, um certo dia, um escritor e teólogo fez um interessante comentário que diz que seria impossível alguém em tão pouco tempo de vida escrever tanto. Daí a explicação que ele nos deu para que tanto fosse feito em tão escasso tempo de vida, Santo Tomás de Aquino ditava, para seus escribas, mais de uma obra por vez. Seria como se ele estivesse em uma sala com várias pessoas e a cada uma ele ditava parte de um livro, “paralelizando” a criação. Vale lembrar que, para a época, a escrita era feita a base de “pena e tinta”!
Sua obra é profunda, com franca inspiração da filosofia Aristotélica, exata, meticulosa e que desafia o leitor a trilhar o caminho do raciocínio, para que pense e conclua como ele, a maravilha da graça de Deus sobre os homens.
As cinco vias de Santo Tomás de Aquino
Desde aquela pergunta emblemática feita aos monges Beneditinos, torna-se constante em seu pensamento a busca e exposição de suas provas da existência de Deus. Suas obras refletem piamente esta busca e, para tornar lúcidas as suas provas, Tomás de Aquino no apresenta as cinco vias para demonstração da existência de Deus.
O tema é discutido na Summa Theologica, de maneira mais resumida, elementar e com maior clareza. Já na Summa contra Gentiles o Doutor Angélico aplica mais detalhes e pormenores científicos às suas reflexões sobre o mesmo tema.
A primeira via: O Primeiro Motor
Mais simples e mais evidente, se apoia no fato universal do movimento contínuo. Algo se move por ação de outro algo e assim por diante.
Ora, para que exista esta “reação em cadeia”, há de se retornar até o primeiro motor, ou motor supremo que tudo move. Quem poderia ser este motor senão o próprio criador do Universo, Deus?
A segunda via: A primeira causa
Segue os mesmos princípios da primeira via, porém há uma divergência quanto aos fundamentos. Aqui ele aborda a ordem entre as causas eficientes como ação e reação e as dependências criadas entre uma e outra.
Não há no Universo algum efeito sem uma causa primária que desencadeasse uma reação a tudo que a ela se relacione. Logo, pelo mesmo princípio de retroação a causa original, qual poderia ser se não fosse Deus esta causa eficiente original?
A terceira via: O Ser necessário
Motivo de profunda reflexão (novidade…) a terceira via é baseada na distinção entre o possível e o necessário. Durante a nossa vida, presenciamos coisas que podem ou não existir: a prova é o próprio ciclo de vida de cada existência. Nada escapa a este ciclo. Algo que existe só começou a existir graças a qualquer coisa existente. É necessário existir para que o que nos cerca exista também.
Ora, entendendo que em certo momento nada existente houvesse, nada existente haveria jamais. Parece óbvio, porém esta afirmação deve nos fazer refletir mais profundamente. É imperativo que o necessário exista. Assim, o raciocínio nos dirige ao ser Necessário por excelência, ao único ser realmente necessário: Deus.
A quarta via: O Ser perfeito
Esta via se baseia na hierarquia das perfeições que se apresenta ante nossa existência. Contemplamos que no universo existem diferentes belezas e perfeições. Algumas melhores ou não seguindo determinado aspecto.
Para isto, é essencial que exista um ponto de referência; algo que seja o máximo e ponto alto para que exista a comparação ao ponto da perfeição.
Assim, é possível dizer que este máximo é soberano e aquilo que é soberano é causa de todos os seres do mesmo gênero.
Logo existe aquele ser que é para todos os seres causa primeira das suas perfeições: Deus.
A quinta via: A primeira inteligência.
A base desta via é quela amais que nos parece ser mais acessível ao senso comum. Observando a natureza e seus fenômenos, vemos as coisas que não detêm conhecimento algum agirem segundo um determinado objetivo ou fim.
Pode-se dizer que para esta finalidade elas se comportam da mesma forma para atingirem o que é melhor para elas. Por exemplo, observemos as aves migratórias ou a hibernação dos ursos. Eles não têm conhecimento da tábua das marés, não possuem sextantes, termômetros e cartas de termografia, porém reagem à adversidade no tempo certo.
Estes animais visam a preservação de si e da espécie agindo de forma semelhante entre os seus. Há aqueles que migram para lugares com melhor oportunidade de sobrevivência, ou os que se preparam alimentando-se do máximo possível durante o verão para dormirem por todo o inverno.
Assim é possível entender que aquilo que é desprovido do conhecimento não pode tender a um objetivo se não for dirigido por um ser inteligente. Logo, então, existe o Ser Inteligente – a Primeira Inteligência – que orienta todas as coisas para o seu fim: Deus.
Porque ler Santo Tomás de Aquino?
Santo Tomas, não é soberba dizer, dispensa muitas apresentações. Em cada passagem de seus momentos neste mundo, é possível ver algo de nós em seus atos e emoções. Dúvidas, certezas, a busca pela verdade a todo preço, sofrimento, tristeza e alegria. Sentimentos tão difusos e confusos que tomam conta de nosso ser desde que nascemos e nos influenciam a seguir adiante ou estagnar em nossas vidas.
Em uma época em que a instantaneidade em se receber informação virou fonte de energia para tantos em busca da verdade, ler Tomás de Aquino nos transporta para uma realidade ímpar. O Doutor Angélico que explora em sua obra a profundidade do saber, tem o poder de nos fazer pensar e, com isto, entender porque somos filhos amados de Deus, quando perguntamos: “O que é Deus?”.
O céu recebe um filho amado
Santo Tomás de Aquino, aos 49 anos de idade nasce para o céu. Falece humanamente por uma moléstia na estrada em direção ao concílio de Lyon, convocado pelo Papa Gregório IX, deixando a Igreja muito mais forte do que havia encontrado. Seu testemunho se dá por sua obra assim como pelas narrativas contemporâneas de um tempo em que a fé precisava (como hoje) de heróis e mártires.
Ad Maiorem Dei Gloriam!
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