O Dia do Trabalhador – Como santificar o dever cotidiano

Redação VOTC

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Comemoramos em 1º de maio o Dia do Trabalho ou, mais diretamente, o Dia do Trabalhador.

Porém é muito salutar recordar que nesta data é celebrada a memória de São José Operário, que representa de forma perfeita, o que é ser um trabalhador.

Neste dia 1º de Maio elevemos uma prece especial a São José operário para que abençoe e interceda por todos aqueles que tem emprego e rezar por aqueles que se encontram desempregados, desejosos de tão logo conseguirem uma recolocação no mercado de trabalho”, nos diz Dom Orani Tempesta, Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ.

No artigo a seguir, encontraremos algumas reflexões as quais considero bastante agradáveis de serem degustadas na calma de uma cadeira voltada para o sol, acompanhadas de um fumegante café ou chá.

O que você encontrará neste artigo:

  • O que é o dia do Trabalho?
  • São José Operário – O Missal.
  • A Igreja e o trabalho.
  • Santificar o trabalho, santificar-se no trabalho, santificar com o trabalho.
  • Sete atitudes para santificar o dia a dia segundo São Josemaría Escrivá.
  • Oremus…

O que é o dia do Trabalho?

Em 1º de maio de 1886, na cidade de Chicago, Estados Unidos da América, trabalhadores foram às ruas para reivindicar melhores condições de trabalho. Pediam a redução da carga horária de trabalho diária já que, naquele tempo as jornadas superavam 12 horas por dia, sem direito a descanso).

Também exigiam que fossem concedidas melhores condições de trabalho, já que os salários eram muito baixos e não havia condições de segurança e salubridade. Os acidentes e problemas de saúde dos trabalhadores eram comuns e, em sua maioria, fatais.

Esses eventos, que ocorreram a partir de 1º de maio, tornaram-se símbolos da luta pelos direitos trabalhistas. Porém, a data só foi reconhecida e se tornou feriado na Europa em 1890.

A partir deste evento, novos protestos ocorreram. Porém a ação de 4 de maio ficou conhecida já que uma bomba explodiu durante manifestação na Praça Haymarket, em Chicago. Manifestantes e policiais ficaram feridos e houve mortes. A reação da polícia foi abrir fogo contra os trabalhadores manifestantes, o que aumentou ainda mais o número de mortos e feridos.

Após esse protesto, houve repressão contra os trabalhadores. Os líderes do movimento, que eram anarco sindicalistas, foram presos e quatro deles foram condenados à morte, sem provas de culpa. Os líderes mortos ficaram conhecidos como Mártires de Chicago.

São José Operário – O Missal.

O Missal cotidiano, no dia 1º de maio nos traz uma belíssima reflexão sobre o Dia do Trabalhador, mais precisamente sobre o porquê da dedicação deste dia a São José Operário e também do porquê a Igreja é tão comprometida com a data:

“Em 1955, Pio XII instituiu a festa de “S. José operário”, para dar um protetor aos trabalhadores e um sentido cristão à “festa do trabalho”.

[…]A figura de S. José, o humilde e grande artesão de Nazaré, orienta para Cristo, Salvador do homem, Filho de Deus, que participou em tudo da condição humana (cf GS 22;32). Destarte, é afirmado antes de tudo que o trabalho dá ao homem o maravilhoso poder de participar na obra criadora de Deus e de aprimorá-la; que ele possui autêntico valor humano. O homem moderno tomou consciência deste valor, ao reivindicar o respeito aos seus direitos e à sua personalidade.

A Igreja “batiza” hoje a festa do trabalho para proclamar o real valor do trabalho, aprovar e bendizer a ação das classes trabalhadoras na luta que, em alguns países, prosseguem para obter maior justiça e liberdade. Fá-lo também para pedir a todos os fiéis que reflitam sobre os ensinamentos do Magistério eclesiástico nestes últimos anos (Mater et Magistra de João XXIII e Populorum Progressio de Paulo VI, por exemplo). “

A Igreja e o trabalho

A Igreja como instituição divinamente inspirada nos traz, em seus mais longínquos escritos, a relação do sagrado com o trabalho. A própria escritura sagrada inicia falando sobre o trabalho. No primeiro capítulo do livro do Gênesis, o próprio Senhor do Universo é apresentado trabalhando na obra da criação.

Não é incorreto dizer que o trabalho de Deus na criação. De certa forma, serve como fundo para a regulamentação do trabalho do homem, principalmente quando mostra que era necessário descansar após a criação – “Deus criou todo o universo e os seres vivos em seis dias e descansou no sétimo dia (Gn. 2;2; Ex. 20:9-11).

No Evangelho, João relata uma passagem em que Cristo enfrenta os fariseus que o condenavam por trabalhar no “Shabbat”:

“Jesus autem respondit eis Pater meus usque modo operatur et ego operor (Mas Jesus respondeu-lhes: “Meu Pai não cessa de operar, e eu opero também.”) (Jo 5:17).

O Santo Magistério da Igreja, sempre preocupado e comprometido com o bem social, vem defendendo o trabalho como fonte de dignidade para o povo de Deus desde sempre. A carta encíclica “rerum novarum’, do sumo pontífice Papa Leão XIII, exorta ao povo de Deus para que reflita na condição do trabalho, quanto aos direitos e deveres do cidadão:

“A Igreja, além disso, provê também directamente à felicidade das classes deserdadas, pela fundação e sustentação de instituições que ela julga próprias para aliviar a sua miséria; e, mesmo neste género de benefícios, ela tem sobressaído de tal modo, que os seus próprios inimigos lhe fizeram o seu elogio.

Assim, entre os primeiros cristãos, era tal a virtude da caridade mútua, que não raro se viam os mais ricos despojarem-se do seu património em favor dos pobres. Por isso, a indigência não era conhecida entre eles; os Apóstolos tinham confiado aos Diáconos, cuja ordem fora especialmente instituída para esse fim, a distribuição quotidiana das esmolas, e o próprio S. Paulo, apesar de absorvido por uma solicitude que abraçava todas as Igrejas, não hesitava em empreender penosas viagens para ir em pessoa levar socorros aos cristãos indigentes.

Socorros do mesmo género eram espontaneamente oferecidos pelos fiéis em cada uma das suas assembleias: o que Tertuliano chama os «depósitos da piedade», porque eram empregados «em sustentar e sepultar as pessoas indigentes, os órfãos pobres de ambos os sexos, os domésticos velhos, as vítimas de naufrágio»”

São João Paulo II, na abertura de sua carta encíclica “Laborem Exercens”, de 14 de setembro de 1981, traduz ainda de maneira mais clara a relação entre a Igreja e o trabalho:

“É mediante o trabalho que o homem deve procurar-se o pão quotidiano e contribuir para o progresso contínuo das ciências e da técnica, e sobretudo para a incessante elevação cultural e moral da sociedade, na qual vive em comunidade com os próprios irmãos.

[…] Feito à imagem e semelhança do mesmo Deus no universo visível e nele estabelecido para que dominasse a terra, o homem, por isso mesmo, desde o princípio é chamado ao trabalho.

O trabalho é uma das características que distinguem o homem do resto das criaturas, cuja actividade, relacionada com a manutenção da própria vida, não se pode chamar trabalho; somente o homem tem capacidade para o trabalho e somente o homem o realiza preenchendo ao mesmo tempo com ele a sua existência sobre a terra.

Assim, o trabalho comporta em si uma marca particular do homem e da humanidade, a marca de uma pessoa que opera numa comunidade de pessoas; e uma tal marca determina a qualificação interior do mesmo trabalho e, em certo sentido, constitui a sua própria natureza.”

Santificar o trabalho, santificar-se no trabalho, santificar com o trabalho.

São Josémaria Escrivá, o “Santo do cotidiano” sempre pregava que era possível ao homem e a mulher, santificarem-se as suas vidas como leigos, santificando o trabalho, a família, as diversões e momentos pessoais.

“Queres de verdade ser santo? – Cumpre o pequeno dever de cada momento; faz o que deves e está no que fazes. (Caminho, 815)

Esta frase resume com maestria o que São Josemaría queria que soubéssemos como nos santificarmos em nosso trabalho e, mais ainda, santificar o nosso trabalho. Ser santo é uma tarefa que não está resumida aos sacerdotes e religiosos, mas a todos nós, filhos e filhas de Deus. Não importando o seu tamanho, cumprir o dever com o coração voltado para o alto, com amor e estando presente naquilo que fazemos.

Assim como “O homem é capaz de Deus” (CigC), ele também é capaz de buscar a Santidade em todos os momentos de sua vida.  São Josemaría ainda nos alerta quanto a santificação não ser apenas mais uma opção, mas sim uma decisão de vida, uma obrigação:

“Tens obrigação de santificar-te. – Tu também. – Alguém pensa, por acaso, que é tarefa exclusiva de sacerdotes e religiosos? A todos, sem exceção, disse o Senhor: “Sede perfeitos, como meu Pai Celestial é perfeito” (Mt 5,48). (Caminho, 291)

Em um outro momento, em sua obra Sulco, o Santo de Barbastro (sua terra natal), incentiva que busquemos a perfeição em nossa vida pessoal, mas, mais ainda, na vida profissional. O trabalho precisa ser feito com esmero, responsabilidade, dedicação e não somente como uma forma qualquer de sustento. Trabalhamos e oferecemos o fruto deste trabalho para Deus!

“Retificar. – Cada dia um pouco. – Eis o teu trabalho constante, se de verdade queres tornar-te santo. (Caminho, 290)”

Sete atitudes para santificar o dia a dia segundo São Josemaría Escrivá.

A santidade é para todos e não se trata de uma “santidade barata”, é um convite a se tornar um “verdadeiro contemplativo no mundo”, é algo profundamente sério e em consonância com a Doutrina e Tradição católica. Veja agora 7 passos simples que podem te ajudar a santificar o seu dia a dia:

1.Ame a realidade do dia a dia

“Queres de verdade ser santo?” perguntou São Josemaría. “Cumpre o pequeno dever de cada momento; faz o que deves e está no que fazes”.

“Não há outro caminho, meus filhos: ou sabemos encontrar o Senhor em nossa vida de todos os dias, ou não O encontraremos nunca”.

2.Descubra a presença de Deus nas coisas cotidianas

Deus está em tudo, se move em todos. O Papa Bento XVI disse “Deus está perto de nós”, se Deus está perto de nós, cada detalha ao nosso redor está cercado por Deus. Disse são Josémaria:

 “Vivemos como se o Senhor estivesse longe, lá em cima, onde brilham as estrelas, e não percebemos que ele também está sempre ao nosso lado. Como então encontrá-lo, como entrar em relação com ele? Não esqueçamos nunca: há algo de santo, de divino, escondido nas situações mais comuns, algo que a cada um de nós compete descobrir”.

3. Um santo é uma pessoa autêntica

Uma pessoa autêntica, de acordo com São Josémaria é uma pessoa que aprende a integralidade da vida, uma pessoa em que a oração está profundamente ligada ao aperfeiçoamento pessoal.

“Perguntas-me: – Por que essa Cruz de madeira? – E copio de uma carta: ‘Ao levantar a vista do microscópio, o olhar vai tropeçar na Cruz negra e vazia. Esta Cruz sem Crucificado é um símbolo. Tem um sentido que os outros não entenderão. E aquele que, cansado, estava a ponto de abandonar a tarefa, aproxima de novo os olhos da ocular e continua trabalhando: porque a Cruz solitária está pedindo uns ombros que carreguem com ela’.”

4. Aprenda a ver Cristo nos outros

Todos os dias cruzamos com dezenas de pessoas, na rua, no trabalho, até mesmo online através das redes sociais. A vida humana é uma vida de relacionamentos, família, amigos e para Josémaria o segredo era: “reconhecer nos nossos irmãos o Cristo que vem ao nosso encontro”.

“Nenhuma pessoa é um verso solto: fazemos todos parte de um mesmo poema divino, que Deus escreve com o concurso da nossa liberdade”.  “O apostolado é o amor de Deus que transborda e se dá aos outros”. (Cristo que passa, 111)

5. Aprenda a oferecer o seu trabalho

O seu trabalho, ou o seu estudo são suas obrigações diárias, é aquilo que você faz todo dia e que é sua responsabilidade. São Josémaria dizia: “Põe um motivo sobrenatural na tua atividade profissional de cada dia, e terás santificado o trabalho”.

Podemos e devemos antes de começar a trabalhar ou estudar oferecer tudo a Deus.

Abaixo segue duas orações de oferecimento das obras que é comum de serem ouvidas ao início dos trabalhos de Catequese do Pe. Padre Paulo Ricardo de Azevedo:

“Inspirai, ó Deus, as nossas ações e ajudai-nos a realizá-las,

para que em vós comece e em vós termine tudo aquilo que fizermos.

Por Cristo nosso Senhor.”

“Recebei, Senhor, minha liberdade inteira.

Recebei minha memória, minha inteligência e toda a minha vontade.

Tudo que tenho ou possuo de vós me veio;

tudo vos devolvo e entrego sem reserva para que a vossa vontade tudo governe.

Dai-me somente vosso amor e vossa graça

e nada mais vos peço, pois já serei bastante rico.

Amém.”

6. Santificar o descanso é possível

O nosso trabalho precisa ser santificado, assim como o nosso descanso. O descanso foi dado por Deus na criação, pois no sétimo dia Deus descansou.

“Nós devemos descansar em Cristo, abandonar nossas preocupações nele” (Mt 11, 28-30) e aproveitar o descanso para unir-se a Deus em comunhão.

“O descanso dominical e festivo adquire uma dimensão ‘profética’, defendendo não só o primado absoluto de Deus, mas também o primado e a dignidade da pessoa sobre as exigências da vida social e econômica, e antecipando de certo modo os ‘novos céus’ e a ‘nova terra’, onde a libertação da escravidão das necessidades será definitiva e total. Em resumo, o dia do Senhor, na sua forma mais autêntica, torna-se também o dia do homem”. (Dies Domini)

7. Fazer tudo por amor

Fazer tudo por amor, essa frase resume muito bem a espiritualidade de São Josémaria Escrivá. Colocando amor em tudo, santificamos nosso dia a dia, nossas relações, nosso trabalho, e aqueles à nossa volta.

“Tudo o que você faz por amor adquire beleza, grandeza”

Um personagem comum nas histórias que São Josemaría contava era a do Burrinho de Nora, que ficava junto ao poço cuja vida, aparentemente insípida e monótona, se revela extraordinariamente fecunda.

“Bendita perseverança a do burrico de nora! – Sempre ao mesmo passo. Sempre as mesmas voltas. – Um dia e outro; todos iguais. Sem isso, não haveria maturidade nos frutos, nem louçania no horto, nem teria aromas o jardim. Leva este pensamento à tua vida interior”.

A santidade, como nos mostra São Josémaria, não está nas coisas grandes, mas em cumprir com amor a Deus cada atividade, em tudo oferecer ao Senhor.

“Portanto, ainda que, na Igreja, nem todos sigam pelo mesmo caminho, todos são, contudo, chamados à santidade, e a todos coube a mesma fé pela justiça de Deus” (LUMEN GENTIUM).

Oremus…

Concluímos aqui este artigo com a oração do dia, da liturgia de 1º de maio, memória de São José Operário:

“Ó Deus, criador do universo, que destes aos seres humanos a lei do trabalho, concedei-nos, pelo exemplo e proteção de São José, cumprir as nossas tarefas e alcançar os prêmios prometidos.

Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

Amém”

Fontes:

Dia do Trabalhador: conheça a origem do dia 1º de maio. https://www.serasaexperian.com.br/carreiras/blog-carreiras/dia-do-trabalhador-conheca-a-origem-do-dia-1-de-maio/

Sete atitudes para santificar o dia. https://misericordia.com.br/sao-josemaria-escriva-7-atitudes-para-santificar-o-dia-a-dia/

Missal Romano Cotidiano. 1o de maio – São José Operário – Próprio dos Santos.

ESCRIVÁ, Josemaría. Caminho. Ed. Quadrante 2016

ESCRIVÁ, Josemaría. Amigos de Deus. Quadrante. 2013

PAULO II, João. Carta Apostólica Dies Domine, 31-05-1998, n. 68

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