O Tratado da Verdadeira devoção a Santíssima Virgem Maria

Redação VOTC

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Com a abertura do mês de maio, mês Mariano, trazemos ao nosso leitor uma profunda reflexão sobre uma das mais belas obras de nossa tradição Católica; O “Tratado da Verdadeira Devoção a Santíssima Virgem”, de autoria de São Luis Maria Grignion de Montfort.

Há poucos dias, exatamente em 28 de abril último, rememoramos a passagem de São Luís Maria Grignion de Montfort para os braços de nossa tão amada Virgem Maria, mãe de Deus, aos 43 anos de idade. São Luis Montfort foi beatificado pelo Papa Leão XIII e canonizado por Pio XII.

Apesar de viver somente 16 anos como sacerdote (ordenado em 1700 e falecido em 1716, vitimado por enfermidades), São Luís nos deixa um legado invejável do modelo de missionário e de intelectualidade Católica, Mariana em sua essência.

Escreveu várias obras consagradas e, dentre elas, destacamos o “Tratado da Verdadeira devoção à Santíssima Virgem”, expoente de Mariologia, que iremos tratar neste artigo.

O Tratado, escrito nos seus últimos anos da vida – provavelmente ao redor de 1712, em sua pequena casa na Rochelle, como o próprio São Luís profetizava permaneceu oculto em um cofre por 150 anos e, ao ser reencontrada, em 1842, foi publicada no ano seguinte.

O que você encontrará neste artigo:

  • O Tratado. Sua origem santa.
  • A estrutura do Tratado.
  • O que diz o Tratado.
  • O culto de Hiperdulia e seus Benefícios
  • Porque fazer a Consagração.

O Tratado. Sua origem santa.

São Luís Maria Grignion de Montfort, em seu recolhimento na cidade de La Rochelle em 1712, decide registrar em papel, a doutrina que seguia há anos e que, em suas homilias e catequeses, havia ensinado ao povo e em suas missões.

As fontes utilizadas como inspiração para sua obra foram obtidas de sua magnífica cultura e preparação de anos e anos, debruçado em livros, conversas com outros sacerdotes, sábios e letrados. Como fundo deste estudo, se encontravam também as suas profundas e ardentes orações, ao longo de décadas.

São Luís, preparado como era, já tinha a nítida visão de que a sua obra faria tremer as muralhas incandescentes do inferno, ao tratar com tanta dignidade daquela mais bela e perfeita criatura que Deus colocou na Terra: Maria. Assim, profetiza que esta obra seria combatida de forma ferrenha, a ponto de ficar perdida durante anos e anos:

“Prevejo que animais frementes se precipitarão com fúria para dilacerar com seus dentes diabólicos este pequeno escrito e aquele de quem o Espírito Santo Se serviu para escrevê-lo, ou ao menos para o envolver nas trevas e no silêncio de um cofre, a fim de que não apareça de forma alguma. Até mesmo atacarão e perseguirão aqueles e aquelas que o lerem e o puserem em prática”. (TVDSVM – n.114).

Não poderia ser diferente. Durante a insana Revolução Francesa, posta em prática por Robespierre junto aos “Les san cullotes” que determinava por decreto a cultura da “Deusa Razão” (a Lei) e o “Ser Supremo” (O Estado), foram queimadas inúmeras obras de cunho religioso. O manuscrito do Tratado foi encerrado numa caixa e escondido em Saint-Laurent-sur-Sèrvre, num campo próximo à capela dedicada a São Miguel Arcanjo.

Ali ele fica “esquecido” até 29 de abril de 1842, quando um missionário da Companhia de Maria o encontrou, junto a outras obras antigas.

A estrutura do Tratado.

O Tratado foi escrito em dezenove cadernos. Destes, os sete primeiros se perderam, do oitavo restaram apenas dez páginas e, do último, ficaram apenas seis.

Por esta razão não há como saber com exatidão o nome original dado ao tratado, mas, por tradição, supõe-se que seria batizado como: “Preparação para o Reino de Jesus Cristo pelas mãos da Virgem Santíssima”, porque São Luís assim o chama no manuscrito.

Por ocasião da primeira Edição Impressa, ele recebeu o título atual e assim permanece até os dias de hoje.

O que diz o Tratado.

“[..]Esta forma de devoção pode chamar-se, com toda a propriedade, a perfeita renovação dos votos e promessas do santo batismo, porque nela o cristão dá-se totalmente à Santíssima Virgem, para que, por Maria, pertença todo a Cristo.” (TVDSV – n.120).

Este trecho retirado da obra de São Luiz nos apresenta, de uma forma amorosa e resumida sobre o tema central de seu amoroso e preciso trabalho. Através da devoção Mariana, o fiel prepara-se para pertencer completamente a Cristo. E como é possível fazer isto? O próprio São Luís nos diz: “renovando os votos e promessas do santo batismo”, que significa retomar a graça Santificante que a nós é conferida por nosso batismo.

“Assim, a consagração é feita ao mesmo tempo à Santíssima Virgem e a Jesus Cristo: à Virgem Santa Maria, como o modo perfeito que Jesus Cristo escolheu para se unir a nós e nos unir a Ele; e a Nosso Senhor Jesus Cristo, como nosso fim último, a quem devemos tudo o que somos, porque é o nosso Redentor e o nosso Deus.

Além disso, devemos considerar que todo o homem, quando é batizado, renuncia solenemente, pela sua própria boca ou pela do seu padrinho e madrinha, a Satanás e às suas tentações e obras, e toma Jesus Cristo como seu Mestre e soberano Senhor, a fim de depender dele na qualidade de escravo de amor.

É o que realmente se faz nesta devoção: o cristão renuncia ao demônio, ao mundo, ao pecado e a si mesmo, e consagra-se totalmente a Jesus Cristo pelas mãos de Maria.” (TVDSV – n.126).

O culto de Hiperdulia e seus Benefícios

Assunto não tão incomum entre os irmãos desgarrados, também em certos círculos da Igreja, composto por sacerdotes e escrupulosos fiéis, é aquele que diz que os católicos “Adoram a Virgem Maria”, o que os levaria plena idolatria.

Fruto de uma insensatez que não merece muita atenção, mas sim oração e compaixão, este tema necessita de uma reflexão que venha a ser didática o suficiente para “retirar das trevas” as mentes que nisto acreditam.

A devoção é para Jesus, por Maria e não ao contrário. A Jesus devemos o culto de Adoração eterna (ou Latria), este que é nosso Salvador e filho de Deus.

Mais uma vez, a devoção é Cristocêntrica, ou seja, seu objetivo é Cristo, sua fundamentação está em Cristo e na obra de nosso pai supremo. O meio, é Maria. Por que não?

São Luís Montfort, nos fala a respeito do devido culto que se dá a Maria Santíssima:

“Honrá-la como a digna Mãe de Deus, com o culto de hiperdulia, quer dizer, estimá-la e honrá-la acima de todos os outros santos, como a obra-prima da graça e a primeira depois de Jesus Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro homem;” (TVDSV, 115.1)

Garrigou-Lagrange, em sua obra” A mãe do Salvador”, se debruça sobre o tema e esclarece mais ainda sobre “Hiperdulia”:

O culto, em geral, é uma honra tributada com submissão e dependência a uma pessoa que nos é superior, por causa de sua excelência.

 Seja ele somente interior ou ao mesmo tempo exterior, o culto se difere, portanto, conforme a excelência mesma da pessoa a que ele é devido.

A Deus, por causa de sua excelência infinita — de primeiro princípio e soberano mestre de todas as coisas é devido o culto supremo de latria ou de adoração, ato da virtude da religião. Ele é devido também à humanidade do Salvador, enquanto pertence à pessoa incriada do Verbo, e, de modo relativo, ao crucifixo e às outras imagens do Salvador, enquanto o representam.

Às pessoas criadas que têm certa excelência é devido um culto de dulia ou de respeito, que é o ato da virtude da dulia, subordinada à da religião.

Assim, já na ordem natural, o respeito é devido aos pais, aos reis, a um chefe do exército, a um professor, a um sábio; e, na ordem sobrenatural, a veneração é devida aos santos, por causa da excelência de suas virtudes, cuja heroicidade é reconhecida, e este culto tributado aos servos de Deus honra o próprio Deus que se manifesta neles eles e que, por eles, atrai-nos a ele.

O Concílio de Trento o afirma contra os protestantes, que quiseram ver superstição nesta veneração aos santos (cf. Denzinger, nos 941, 952, 984).

Ademais, ensina-se comumente na Igreja que à Santíssima Virgem é devido um culto de hiperdulia ou de dulia extrema, por causa de sua eminente dignidade de Mãe de Deus (Denzinger, 1255 sq., 1316, 1570).”

E ainda complementa:

“[…] Ademais, é doutrina comum e certa que a Maria é devido um culto eminente de dulia, ou de hiperdulia, que lhe é próprio, enquanto que é Mãe de Deus. Este é o ensinamento tradicional, que aparece cada vez mais explicitamente nos escritos de São Modestos no século VII, de São João Damascen0 no VIII, e depois em Santo Tomás, São Boaventura, Scoto, Suárez e quase todos os teólogos católicos.

[…] Se, portanto, a Santíssima Virgem tivesse recebido somente a plenitude de graça e de glória, sem ser a Mãe de Deus, em outros termos, se ela tivesse sido somente superior aos santos pelo grau de glória consumada, este culto especial de hiperdulia não lhe seria devido.

Enfim, é uma doutrina mais provável e mais comum que este culto de hiperdulia não é somente um grau superior do culto de dulia devido aos santos, mais que é especificamente distinto, como a maternidade divina é, por seu fim, de ordem hipostática, especificamente distinto da ordem de graça e de glória.

Este culto de hiperdulia é tributado a Maria formalmente porque ela é a Mãe de Deus, Mãe do Salvador; mas é por este título supremo que ela tem também o título de Mãe de todos os homens, de medianeira universal e de corredentora.”

Porque fazer a Consagração.

A consagração a Virgem Maria, como nos diz São Luís, é nossa doação total a Jesus, por Maria, com o fim de tudo fazer por ela, com ela, nela e por ela, para a exclusiva glória de Deus.

Como nos diz Santo Agostinho:

“Se somos devedores a Maria, da encarnação que é a fonte universal da graça, é também por Maria que todos os filhos da Igreja recebem as outras operações que são dependências dela. Segundo o corpo, ela é mãe do Salvador, que é nosso Chefe; segundo o espírito, ela é a mãe dos fiéis, que são seus membros: Carne, mater capilis nostri; spiritu, mater membrorum ejus”

Como é digno, entregar-se de coração aberto a mãe do Salvador, aquela que é o “primeiro Sacrário vivo de Cristo”, que em seu ventre gestou por nove meses o senhor de nossas vidas, aquele que rendeu nossos pecados na cruz. Aquela que, durante trinta e três anos esteve presente na vida de Cristo, comprometida com a sua missão salvífica!

Por fim, ainda em sua obra, São Luiz nos diz por que esta (o Tratado) é a forma mais direta de se consagrar a Jesus, por Maria:

“Depois de ler quase todos os livros que tratam da devoção à Santíssima Virgem e de conversar com as pessoas mais santas e instruídas destes últimos tempos, declaro firmemente que não encontrei nem aprendi outra prática de devoção à Santíssima Virgem semelhante a esta que vou iniciar, que exija de uma alma mais sacrifícios a Deus, que a despoje mais completamente de seu amor-próprio, que a conserve com mais fidelidade na graça e a graça nela, que a una com mais perfeição e facilidade a Jesus Cristo, e, afinal, que seja mais gloriosa para Deus, santificante para a alma e útil ao próximo.” (TVDSV. 118)

Por fim, em seu livro “Amor da Eterna Sabedoria”, São Luís nos diz:

“Felizes os que compreendem estas verdades eternas! Mais felizes aqueles que acreditam, que as colocam em prática e as ensinam aos outros. Brilharão como estrelas no céu por toda a eternidade”.

Sejamos Felizes com Maria e com Jesus!

“Totvs tvvs ego sum, et omnia mea tua sunt.

Accipio te in mea omnia. Praebe mihi cor tuum, Maria”

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