A Ordem Terceira do Carmo: Obra de Santidade.
Deus “quer-nos santos e espera que não nos resignemos com uma vida medíocre, superficial e indecisa. Com efeito, o chamado à santidade está patente, de várias maneiras, desde as primeiras páginas da Bíblia; a Abraão, o Senhor propô-la nestes termos: «anda na minha presença e sê perfeito» (Gn 17, 1)”.
Assim o Papa Francisco, em sua exortação apostólica “Gaudete et Exsultate”, nos convida a refletirmos sobre a busca pela santidade, de como é bom servir aos propósitos de Deus e que se esta não é a razão de nossas vidas, então talvez a nossa jornada neste mundo se resuma a uma caminhada insípida, seca e rasa.
Existem vários caminhos que levam á santidade e um daqueles que certamente, se bem trilhado, atinge este objetivo, é o da participação em uma Ordem Terceira ou Secular.

Nas Ordens Terceiras, sem se ter a obrigação de ser um clérigo ou uma freira, mas com obrigações próprias de um terceiro, o fiel experimenta o mesmo carisma da Ordem Primeira e também segue um caminho com puro odor de santidade onde pode-se vislumbrar, em sentido místico, uma porta aberta para aquela Santidade que Deus quer que abracemos.
Mas que tal saciarmos nossa sede por conhecimento sobre as Ordens e, em especial, a Venerável Ordem Terceira do Carmo?
O que você encontrará neste artigo:
As Ordens religiosas: fonte de devoção ao evangelho
O que é uma Ordem Terceira
O que é a Ordem Terceira do Carmo
A Venerável Ordem Terceira do Carmo Esplanada
A importância da VOTC para a Cidade
O que pretende a VOTC
A eficácia da Ordem Terceira
As Ordens religiosas: fonte de devoção ao evangelho.
De partida, antes de falarmos de uma ordem terceira, é importante conceituar o que são as Ordens religiosas.
A Igreja de Cristo começou há mais de dois mil anos e desde lá homens e mulheres se encantaram com a mensagem de Cristo e desejaram segui-la, deixando sua vida anterior para trás, adotando um novo estilo de existência dedicado ao evangelho.
Mas esta opção de vida nem sempre foi bem quista pelas comunidades e governos, inclusive sendo punida com perseguições e condenações que levavam com frequência os seus adeptos a morte corporal.
Mas o desejo por encontrar a paz interior e viver o mais próximo possível do Mestre vence o risco da morte e, assim, impulsionados por este desejo, homens e mulheres passaram a se reunirem em comunidades que se tornariam, com o tempo, mosteiros e conventos, abraçando princípios próprios de vida, ou seja, conselhos evangélicos de pobreza, obediência e castidade através da profissão solene de votos. Chamamos a isto “vida consagrada”.
Assim, formaram-se as Ordens religiosas, reunidas em mosteiros (ou monastérios), as quais são uma das formas de vida consagrada mais antiga na Igreja. Os primeiros mosteiros datam do século III, d.C.
Neste período da história, os monges viviam sozinhos ou em pequenas comunidades até a fundação dos grandes mosteiros.
Aqui então acabamos de conhecer o que é uma Ordem Primeira: é aquela ordem formada por homens que vivem em comunidade, seguem um Carisma, professam votos religiosos solenes, tem vida casta e, por excelência adotam a regra de obediência a Cristo e ao seu Superior.
Exemplos de ordens religiosas primeiras: Carmelitas, Franciscanos, Beneditinos, Jesuítas, Xaverianos, entre outras.
A Ordem segunda, ou secundária, é o ramo feminino de uma Ordem Primeira, ou seja, reúne mulheres que professam os votos de castidade, obediência e pobreza (em alguns casos) e igualmente à Ordem primeira, vivem em comunidade própria (freiras, Madres) e, em alguns casos, em claustro. Exemplos de ordens religiosas segundas: Clarissas, Agostinianas, Carmelitas, Ursulinas, entre outras.
O que é uma Ordem Terceira?
Por outro lado, fica aberta uma lacuna para aqueles homens e mulheres leigos que desejam seguir o carisma de uma ordem religiosa, porém possuem objetivos de vida em sociedade próprios (não menos responsáveis) e que querem se casar, trabalhar, estudar enfim: não buscam o isolamento.
Para isto Deus suscita na Igreja o sentimento de inclusão destes Leigos na forma das Ordens Seculares ou Terceiras.
O Código de Direito Canônico, da Santa Igreja Católica assim define:
Cân 303 – “As associações cujos membros, participando no século do espírito de algum instituto religioso e sob a sua alta orientação, levam uma vida apostólica e tendem à perfeição cristã, recebem o nome de ordens terceiras ou outra designação consentânea.”
As Ordens Terceiras são associações de leigos católicos (podendo também, fazer parte sacerdotes diocesanos), vinculados àquelas tradicionais ordens religiosas que se desenvolveram na Idade Média e que ansiavam em viver o evangelho em sua plenitude.
A Ordem Terceira proporciona ao leigo poder participar do Carisma de uma Ordem primeira, ter os mesmos privilégios espirituais que Monges e freiras, viver a intensidade de uma vida comunitária onde também são professados votos, em especial o de obediência, sem que a sua vida em sociedade tenha de ser limitada.
A castidade, por sua vez, tem parte também nos votos, mas aqui com uma conotação especial quanto a orientação de homens e mulheres se manterem castos dentro do matrimônio ou, para os solteiros, ter vida regrada.
Sob a benção de São Francisco de Assis, foi criada a primeira Ordem Terceira, com o objetivo de agregar os homens e mulheres, ambos leigos, aos princípios das ordens religiosas sob uma regra de vida consagrada, orientada ao evangelho e na trilha da Santidade.
O que é a Ordem Terceira do Carmo?
“Mas a cada um de nós foi dada a graça, segundo a medida do Dom de Cristo… é por ele que todo o corpo é coordenado e unido por conexões, que estão ao seu dispor, trabalhando cada um conforme à atividade que lhe é própria” (Ef 4, 7-16).
Seguindo o caminho aberto por São Francisco, com o tempo, também a ordem Carmelita passou a agregar leigos desejosos de seguirem o caminho de graça da ordem, de se aprofundarem no carisma Carmelitano e, por fim, sentirem o doce perfume de Nossa Senhora do Monte Carmelo que exala na Ordem e a tantos atraíra pela devoção ao Escapulário assim como pelo exemplo de solidez e santidade do Profeta Elias, pai espiritual da Ordem do Carmo.
Mais tarde então, capitaneada pelo Beato João Soreth, é erigida a Ordem Terceira Secular do Monte Carmelo que recebe aprovação pelo Papa Nicolau V através da Bula Papal Cum Nulla (1451).
Em 1455, o Beato João Soreth institui uma regra de vida para os terceiros, com os propósitos de seguimento espiritual e pessoal laical. A Cum Nulla foi posteriormente explicitada (explicada em detalhes) por outra bula, a Dum attenta de Sisto IV, de 28 de novembro de 1476.
Desse modo, a Venerável Ordem Terceira da Nossa Senhora do Monte Carmelo pode ser entendida como uma associação de fiéis leigos (homens e mulheres) que, em resposta ao chamado de Deus, se comprometem a viver intensamente o espírito do Evangelho em comunhão aos Carismas da Ordem Carmelita e permanecem sob sua orientação.
Assim como os leigos, também é facultado aos sacerdotes diocesanos que encontram no carisma carmelita apoio para suas vidas espirituais e para o desenvolver de sua missão na Igreja e no mundo, participarem da Ordem Terceira do Carmo.
Como tradição do carisma Carmelita, também os leigos organizados na ordem terceira terão especialmente a oração como Carisma e base de sua vida em sociedade e na Ordem, de forma a tornar o ambiente em que vivem frutífero em caridade e santidade a ponto de serem reconhecidos e de forma diferenciada, pelo amor e humildade com que desenvolvem suas atividades
A Venerável Ordem Terceira do Carmo Esplanada.

Como nos conta o grande irmão terceiro Raul Leme Monteiro, em sua obra “Carmo, Patrimônio da História, arte e Fé”, os padres Carmelitas, após aportarem na cidade de Santos em abril de 1582 e ali se estabelecerem, sobem até o planalto do Piratininga, em 1590 e, quatro anos depois concluem a construção do Convento e da Igreja do Carmo.
Assim, em 1594 está estabelecida em São Paulo, na várzea do Rio Tamanduateí (que viria a ser conhecida mais adiante como a esplanada do Carmo), a Ordem Primeira do Carmo, agora nominada como Provincia Carmelitana de Santo Elias.
Na data de 26 de janeiro de 1587, foi concedida a patente que autorizava a criação das Ordens terceiras do Carmo no Brasil e, no mesmo ano do estabelecimento da Ordem primeira do Carmo, em 1594, é fundada a Venerável Ordem Terceira do Carmo (Esplanada ou Ladeira), por um grupo de leigos fiéis e devotados ao Carisma Carmelitano, estes em busca de trilhar o caminho da perfeição Cristão, através dos passos de Maria e de Santo Elias.
Em 1632 é fundada a Igreja da Venerável Ordem Terceira do Carmo.
Assim, a Venerável Ordem Terceira do Carmo Esplanada já conta com mais de 425 anos de existência em solo Paulistano e, desde a sua fundação, muitos personagens de suma importância para a história de nosso país por aqui passara, foram irmão ou tiveram relação intima com a Ordem.
Como exemplo da importância e veneração para com a ordem, temos que o pai do Bandeirante Fernão Dias Paes Leme, Pedro Dias Paes Leme, foi sepultado na capela-mor da Igreja do Carmo, prática comum àquela época. A isto atesta uma inscrição existente em uma das paredes da Igreja e datada de 1632 que dá ciência do fato.
Também por aqui passaram ilustres irmãos terceiros como, mas não limitado a esta lista, os seguintes homens e mulheres de Deus:
Pedro Taques de Almeida,
Amador Bueno da Veiga,
Pe. Diogo Antônio Feijó,
Libero Badaró,
Conde de Prates,
Dr. Antônio Franco da Rocha,
Dr. Raphael Tobias de Aguiar,
Barão de Itapetininga,
Marquesa de Santos,
Dr. Jose Maria Whitaker.
Alguns destes ilustres personagens tem seus restos mortais depositados na Cripta da Ordem Terceira, como memorial de sua coragem, devoção, exemplo de vida e de louvor a Deus e a Virgem do Monte Carmelo.
Nas dependências da Ordem também se encontram as poltronas onde sentaram-se o Imperador do Brasil, Dom Pedro II e a Imperatriz, Dona Thereza Christina em 12 de abril de 1846, em visita a Ordem Terceira. Inclusive há registros de que a família Imperial acompanhava as procissões que tinham com partida a Igreja do Carmo em direção a Igreja Jesuíta do Pátio do Colégio.
Hierarquicamente a Ordem está organizada da seguinte forma
Prior (Priora) – Autoridade maior na VOTC com funções administrativas e de gestão do patrimônio da Ordem. Também tem suma importância na preservação das tradições da Ordem como as Novenas, procissões, solenidades e no engajamento dos irmãos nestas obrigações. Trata-se de cargo eletivo com vigência de três anos.
Mesa Administrativa – Composta por irmãos com votos professos (definitivos) cuja função é ser o conselho para a apreciação de temas nas esferas administrativas, financeiras e comportamentais (irmãos). Possui mandato de três anos e é formada por:
– Prior(a)
– Assistente Espiritual (Diretor)
– Procurador Geral
– Secretário
– Tesoureiro
– Mestre(a) De Noviços
Assistente Espiritual – Sacerdote indicado para manter a espiritualidade da Ordem sempre atuante.
Procurador Geral, Secretário, Tesoureiro – Exercem Funções administrativas e de gerência financeira.
Mestre(a) de Noviços – Encarregado(a) da formação dos Postulantes, Noviços e Professos.
Irmãos Professos – Aqueles que, após sua jornada de tempo determinado pela ordem (por volta de cinco anos), passaram pelas fases de Postulantado, Noviciado e adquiriram fração suficiente para professarem seus votos definitivos. Tem direito a voto nas eleições da Mesa e do(a) Prior(a).
Irmãos Noviços – Já possuem vivência na ordem, passaram pela fase de Postulantado e professam dois votos (em anos diferentes) de seguimento às regras da Ordem Terceira Carmelita.
Irmãos Postulantes – Iniciam no carisma Carmelitano e passam por formação para serem aceitos como noviços.
A importância da Venerável Ordem Terceira do Carmo para a cidade
Além da importância do cunho histórico que a presença da Venerável Ordem Terceira traz a nossa cidade, é justo trazer à tona as ações que a Ordem exerce junto ao meio social e cultural e que fazem crescer em nós o espírito de coletividade, amor a Cristo e às suas obras.
A arquitetura da Igreja da Venerável Ordem Terceira do Carmo, em estilo Barroco, traz luz a mente de nossos estudantes de arquitetura e engenharia, características únicas da qualidade de suas edificações, como as paredes estruturadas em Taipa e óleo de baleia, de grande espessura e capazes de resistirem a petardos de canhões em caso de invasões.
O estilo arquitetônico remonta ao século XVI com obras de pintura especialíssimas, assim como as imagens construídas em madeira e Gesso sendo o altar, construído em madeira de lei que resiste a mais de quatro séculos, o centro da celebração da santa eucaristia até os dias de hoje.
Não se limitando somente ao contexto histórico, a Venerável Ordem Terceira do Carmo tem como princípio ações sociais concretas, como a cessão de espaço (edifício) para o trabalho da valorosa Missão Belém com a finalidade de abrigar irmãos em situação de rua, além de concessão de cestas básicas, mensalmente, para organizações não governamentais e que apoiam causas semelhantes junto à comunidade. No meio religioso, a Ordem auxilia Seminários, Irmandades pobres e casas de formações como também acolhe as necessidades particulares de algumas pessoas que vão a ela pedindo por ajuda.
Também é importante citar que a Venerável Ordem Terceira vem se aprimorando na utilização de meios de comunicação em massa, como as redes sociais, para democratização do conhecimento sobre temas atuais da Igreja, da Ordem Terceira, da fé, espiritualidade e de cidadania.
O que pretende a Ordem Terceira do Carmo?
Após lermos o que aqui foi apresentado, podemos afirmar que a Venerável Ordem Terceira possui função espiritual e de cidadania ímpares para o ambiente onde está instalada. Seu carisma de oração, a organização secular com base nos preceitos da Ordem Primeira leva seus integrantes a experimentarem a misericórdia de Deus em seu mais precioso grau: O amor aos irmãos, à vida de Cristo e a Nossa Senhora, que nos guia a enfrentarmos todas as dificuldades de um mundo moralmente corrompido e sedutor, tendo numa mão a palavra de Deus e na outra a tradição milenar da Espiritualidade Carmelitana.
Quanto a sua função para o meio social em que participa, não podemos nos furtar a dizer o quanto as Ordens Terceiras, especialmente a Venerável Ordem Terceira do Carmo desde sua fundação há mais de 425 anos, representam de singular e critica importância para o crescimento de todo o entorno onde estão presentes trazendo a caridade aos mais desfavorecidos, o suporte à vida da comunidade e, porque não dizer, acrescentar mais beleza à nossa cidade através de suas edificações e obras de arquitetura e de arte que ali se encontram estimulando o turismo, o estudo das futuras gerações de arquitetos, engenheiros e decoradores e a preservação de nossa história.
A eficácia da Ordem Terceira
A Ordem Terceira do Carmo Esplanada tem a graça de ter recebido, em suas fileiras, irmãos que faleceram em odor de Santidade e que cujas vidas foram determinantes na história recente.
Um exemplo disto é nosso saudoso irmão, Dr. José Maria Whitaker.
Nascido a 20 de maio de 1878 em São Paulo, com 18 anos se formava em Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade do Largo de São Francisco.
Em 1897, buscando constituir família, casa-se cm D. Amelia Peres. Em sua vida familiar Deus o agraciou com quatorze filhos que, ao longo do tempo geraram netos e bisnetos.
Seu trabalho, repleto de ações importantíssimas para a cidade de São Paulo e para o País, o levou a galgar posições estratégicas em nossa sociedade como por exemplo sua nomeação para a Presidência da Associação Comercial de Santos.
Em 1912 fundou o Banco Comercial do Estado de São Paulo e foi nomeado Presidente do Banco do Brasil, em 1920, pelo próprio Presidente em exercício, Epitácio Pessoa
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Em 20 de maio de 1905, ingressa na Ordem Terceira do Carmo. Em 1906 professa seus votos e em outubro deste mesmo ano, é eleito Definidor da Mesa Administrativa.
Patriota e observador das virtudes teologais, o Dr. Jose Maria Whitaker conduz sua vida pessoal, profissional e espiritual com a convicção de sempre fazer o melhor e o correto, defendendo a soberania da nação em momentos importantes como a Revolução de 1932 onde foi nomeado como Presidente da Comissão Diretora da Campanha Ouro para a Vitória”.
Defendeu a atividade agrária, à época os cafeicultores ameaçados pelo confisco cambial sobre as exportações de Café. Recebeu diversas comendas, em especial a Grã-Cruz da Ordem de Rio Branco e a Condecoração da Ordem Nacional do Mérito, concedidas em seus 90 anos. Falece em 19 de novembro de 1970, após uma vida de trabalho intenso dedicado ao país, a família e a Deus.
Homem profundamente católico, praticava a caridade para quem o procurasse observando sempre a condição humana de forma a não somente oferecer uma ajuda pontual, mas sim apontando para formas de melhorar a vida de quem o interpelasse.
Deixou um testamento espiritual denominado “Ensaios Espirituais” onde revela seu caráter religioso através de nove capítulos onde convida a quem lê se aprofundar na fé em Deus, na oração (principalmente), na caridade e na humildade.
Abaixo, segue um trecho deste livro, extraído do capítulo dedicado a Oração Dominical para que, como final deste artigo, reflitamos.
“Dois períodos, apenas, contém a oração perfeita que nos ensinou Jesus: num, afirmamos nossa crença; noutro, manifestamos nossas necessidades. Um é ato de fé; outro, de petição: ambos se entrelaçam na caridade, na associação reiterada a nossos semelhantes, tanto nas súplicas, como na adoração.
Humildemente, mas com filial segurança recorremos a Deus, não somente como Onipotente, mas, principalmente, como Criador. Adoramo-lo na sua potestade, porém, à sua Ternura, obrigando-nos desde logo num vocativo submisso, que é, simultaneamente, afirmação de fé, promessa de obediência, certeza de atendimento.”
Dr. José Maria Whitaker, Irmão Terceiro Carmelita.
Deo Gratias!