O Decor Carmeli é o manual dos Terceiros Carmelitanos. “Nele se consubstancia o espírito que deve reinar na Ordem Terceira (…) e abrange tudo quanto é concernente à edificação espiritual dos irmãos terceiros”. (Cônego Manfredo Leite).
Mas sabendo da riqueza que o Decor Carmeli possui, iremos compartilhar alguns conselhos neste artigo, na íntegra, que estão presentes nesta edição de 1927.
Que estes conselhos não fiquem restritos aos irmãos, mas cheguem a todos os fiéis desta Venerável Ordem.
As disposições, que se vão ler, constituem o que se chama um Método de vida cristã nos nossos tempos. Cumpre, porém, ter presente que o cristão e mais ainda o Terceiro Carmelitano é também membro da Igreja e da Sociedade civil.
Como tal, corre-lhe o dever de cooperar para o engrandecimento da colectividade religiosa, bem como da civil. Há depois, tomar parte ativa no movimento criado pelos legítimos Superiores eclesiásticos, assim como não se recusar em tudo quanto fôr legitimamente exigido para bem da Pátria
A inação é imprópria de um cristão. Para facilitar essa prática, quer individual, quer social, executem as disposições que damos em seguida, e que, resumindo todas as nossas instruções e bons desejos, queremos estejam bem presentes a todos.
RESOLUÇÕES QUE CADA UM DEVE TOMAR:
- Cada dia: Ao despertar-me, oferecerei meu espírito e meu coração a Deus por um ato de adoração e de amor; levantar-me-ei á hora determinada; vestir-me-ei com modéstia e sem vaidade, porém, com o asseio conveniente; nunca aparecerei diante de ninguém sem estar completamente vestido e, antes de sair do quarto ou logo que puder, só ou em companhia, rezarei com toda a devoção a oração da manhã.
- Meditação e Missa: Acabada a oração da manhã, se o tempo m’o permitir, meditarei durante um quarto de hora ou mais, servindo-me ordinariamente de um livro próprio para este fim; irei ouvir missa, e, na impossibilidade, unirei, ao menos, minha intenção à do sacerdote e dos assistentes.
- Trabalho e Refeições: Depois disso, entregar-me-ei ao trabalho, oferecendo-o a Deus, e farei consistir principalmente minha vida espiritual no cumprimento exato das obrigações do meu estado. Nunca omitirei a pequena oração ordinária antes e depois da comida; nesta evitarei todo o excesso e toda a sensualidade, observando exatamente a abstinência e os jejuns ordenados pela Igreja.
- Conversações e Visitas: Nas conversações, evitarei com cuidado as palavras que possam ofender a religião, a caridade ou a modéstia; falarei pouco de mim e abster-me-ei de todo o gracejo inconveniente; pensarei com frequência na presença de Deus, e evitarei toda a visita inútil e perigosa.
- Leitura espiritual e Terço: Se durante o dia não tiver tempo de fazer uma leitura espiritual, procurarei fazê-la à noite; rezarei o terço contemplando os mistérios correspondentes ao dia.
- Exame e deitar: Nunca deixarei de rezar a oração para noite devotamente e de joelhos, parando o tempo suficiente no exame para conhecer as faltas cometidas durante o dia; e se, por desgraça, houver cometido algum pecado grave, pedirei humildemente perdão a Deus, formando a resolução de confessar-me o mais depressa possível. Ao depois, deitar- me-ei á hora determinada, com modéstia, ocupado com algum bom pensamento, e sobretudo da morte, da qual o sono é verdadeira imagem; e, se me acordar durante a noite, levantarei meu pensamento a Deus por alguma curta e fervorosa jaculatória.
CADA SEMANA:
- Nos domingos e festas, evitarei com cuidado as viagens não necessárias, os jogos proibidos, as reuniões noturnas, os bailes, as visitas, os teatros e outros divertimentos, desde que sejam perigosos. Assistirei com devoção à Missa ouvindo atentamente a prática, se houver.
- Se não for possível visitar todos os dias o Santíssimo Sacramento, fá-lo-ei, ao menos, uma ou duas vezes por semana e em particular nas quintas-feiras.
- Nas sexta-feiras, procurarei praticar alguma mortificação, sobretudo na comida, e pensar mais particularmente na Paixão de Nosso Senhor.
- Nos Sábados, irei à missa na Ordem e pedirei com grande confiança à Nossa Senhora que me conserve sempre debaixo de sua maternal proteção.
CADA MÊS:
- Confessar-me-ei regularmente uma vez por mês, e com mais frequência, se meu confessor julgar a propósito, preparando-me com o maior esmero para este ato.
- Procurarei fazer, com devoção e fervor, todas as comunhões que me forem permitidas, pensando nisso de quando em quando, nos dias precedentes, para bem preparar-me, e nos seguintes para dar graças a Deus.
- No primeiro dia de cada mês, irei ler, sem falta, estas resoluções.
CADA ANO:
Procurarei fazer, todos os anos pela Páscoa ou em outro tempo favorável, uma revista das faltas do ano; farei esta confissão como dispondo-me para aparecer proximamente diante de Deus; farei o meu Retiro, a fim de preparar-me para o cumprimento deste preceito, bem como para o da Comunhão.
RESOLUÇÕES GERAIS
- As verdades eternas: A Morte, o Juízo, o Céu, o Inferno, a Eternidade, a Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo serão objeto mais ordinário de minhas meditações.
- A exemplo de Jesus Cristo, procurarei adquirir o espírito da pobreza, o amor das humilhações e dos sofrimentos.
- Nunca faltarei ao respeito nem aos meus pais, nem a qualquer dos meus superiores.
- Sofrerei as contradições com paciência e conformidade, fazendo quanto em mim couber para viver em paz com as pessoas da minha família, com os Irmãos da Ordem, com os meus vizinhos e com toda a gente.
- Nunca causar dano a ninguém, nem mesmo nas menores coisas, porque de nada serve ganhar o universo inteiro se se vier a perder a alma.
- Evitarei com cuidado toda a maledicência; nunca falarei dos ausentes senão como falaria se estivessem presentes, sem querer ofendê-os, e como desejo que se fale de mim.
- Prezarei a santa virtude da pureza mais do que todos os tesouros do mundo; evitarei com o maior cuidado toda a familiaridade perigosa, sobretudo com pessoas de costumes suspeitos.
- Nos meus exames de consciência de cada dia, aplicar-me-ei especialmente em conhecer e em combater o meu defeito dominante, do alcoolismo, do jogo, e tantos outros que dão cabo da saúde e das fortunas.
- Manter-me-ei na firme disposição de tudo sofrer, mesmo a morte, antes do que cometer um pecado mortal; e, se tiver a infelicidade de cometê-lo não deixar passar o dia sem confessar-me.
- Procurarei fazer cada dia o que quisera ter feito na hora da morte, porque afinal uma coisa só é necessária: SALVAR A MINHA ALMA.
(Decor Carmeli – Manual dos Terceiros Carmelitanos da cidade de São Paulo, no Brasil, 6ª edição revista, 1927)
