Sob o véu do pão e do vinho, Corpus Christi revela o mistério do amor que se doa: Cristo, presente na Eucaristia, convida-nos a adorá-lo com o coração.
Esta festa, nascida no século XIII, é um hino à presença real de Jesus, que se faz alimento para a alma.
Neste artigo, exploramos o significado e a origem de Corpus Christi, sua importância teológica, as músicas e textos que a enaltecem, orações para nutrir a devoção e tradições que a tornam viva.
Que esta celebração, sob o manto de Nossa Senhora do Carmo, reacenda sua fé no Sacramento do Altar.
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O que é Corpus Christi? Significado e origem
Numa vila medieval de Liège, no século XIII, a beata Juliana, freira agostiniana, sonhava com uma festa que honrasse o Corpo de Cristo. Suas visões inspiraram a criação de Corpus Christi, instituída em 1264 pelo Papa Urbano IV.
Para a instituição da festa de Corpus Christi, o Papa encomendou a dois dos maiores teólogos da época, São Tomás de Aquino e São Boaventura, a criação de um ofício litúrgico completo para a celebração, incluindo hinos, orações e textos litúrgicos que exaltasse a presença real de Cristo na Eucaristia.
Diz-se que, ao ouvir a magnífica composição de São Tomás de Aquino, que expressava com grande profundidade teológica e poética o mistério da Eucaristia, São Boaventura teria ficado tão impressionado com a excelência da obra do Aquinate que, num gesto de humildade e reconhecimento, rasgou o seu próprio texto.
Essa história ressalta não apenas o talento singular de São Tomás, mas também a importância da festa de Corpus Christi como um marco para a valorização e difusão do culto ao Santíssimo Sacramento na Igreja Católica.
Além disso, o sucesso da composição de São Tomás foi fundamental para que a festa ganhasse grande repercussão litúrgica e popular, consolidando-se como uma das celebrações centrais da fé católica.
Fixada inicialmente no domingo após a Oitava de Pentecostes, a festa foi transferida em 1317 pelo Papa João XXII para a quinta-feira após a Solenidade da Santíssima Trindade, como celebra a Igreja até hoje.
Corpus Christi, do latim “Corpo de Cristo”, celebra a presença real de Jesus na Eucaristia, um mistério central da fé católica. O Catecismo da Igreja Católica (CIC 1374) ensina que, pela transubstanciação, o pão e o vinho tornam-se o Corpo e o Sangue de Cristo, mantendo apenas as aparências externas.
A importância de Corpus Christi para a Igreja
Corpus Christi é o coração pulsante da fé eucarística. Como ensina o Concílio Vaticano II em Lumen Gentium (n. 11), a Eucaristia é a “fonte e o ápice” da vida cristã, pois nela Cristo se faz presente, renovando seu sacrifício redentor.
Esta festa reafirma a doutrina da transubstanciação, convidando os fiéis a um encontro íntimo com Jesus, vivo no Sacramento do Altar.
Além do significado teológico, Corpus Christi une comunidades em testemunho público de fé. Em cidades do Brasil, como São Paulo, procissões eucarísticas transformam ruas em altares, com tapetes de serragem colorida e cânticos que elevam o coração.
A festa fortalece a Igreja como Corpo de Cristo, unindo os fiéis em adoração e missão.
Músicas e textos para celebrar Corpus Christi
A liturgia de Corpus Christi ressoa com hinos que cantam o mistério do amor divino.
São Tomás de Aquino, no século XIII, compôs o Pange Lingua, um hino que exalta a presença de Cristo na Eucaristia: “Canta, ó língua, o mistério do Corpo glorioso.” Seu Tantum Ergo, parte final do hino, é entoado na bênção do Santíssimo, unindo gerações em louvor.
A sequência Lauda Sion, também de São Tomás, é recitada na Missa de Corpus Christi, proclamando a doutrina da transubstanciação com poesia teológica: “Sion, louva teu Salvador, teu guia e pastor.”
Pange Lingua Gloriosi – São Tomás de Aquino no século XIII
Canta, ó língua, o mistério
do Corpo glorioso
e do precioso Sangue que verteu,
para resgate do mundo,
o Rei das nações, Filho de uma Mãe fecunda.
Dado a nós, por nós nascido
da Virgem Imaculada,
depois de ter vivido no mundo
e espalhado a semente da palavra,
encerrou com portentosa instituição
o tempo de sua permanência entre nós.
Na noite da Última Ceia,
estando à mesa com os irmãos,
depois de observar perfeitamente
a lei (mosaica) no que concerne ao banquete legal
(da páscoa), dá-se a si mesmo,
com as próprias mãos, como alimento à turba dos doze Apóstolos.
O Verbo humanado com uma palavra
fez de sua carne um pão verdadeiro,
e o vinho torna-se o Sangue de Cristo,
e se falham os sentidos, basta somente a fé
para confirmar os corações retos.
Prostrados, portanto, adoremos
a tão grande Sacramento;
ceda lugar a antiga aliança ao novo rito,
e supra a fé à fraqueza
dos sentidos.
Louvor e canto de alegria,
saudação, honra, poder e ação de graças
ao Pai e ao Filho;
igual homenagem se preste àquele (Espírito Santo),
que de ambos procede.
Amen.
Orações para manter viva a devoção ao Santíssimo Sacramento
A devoção a Corpus Christi se prolonga além da festa, nutrida por orações que elevam a alma ao Sacramento.
Após a Comunhão, uma oração de São Tomás de Aquino expressa esse anseio profundo pela graça divina:
“Eu peço que esta Santa Comunhão não me seja motivo de castigo, mas salutar garantia de perdão. Seja para mim armadura da fé, escudo de boa vontade e libertação dos meus vícios. Extinga em mim a concupiscência e os maus desejos, aumente a caridade a paciência, a humildade e a obediência, e todas as virtudes.”
- Você pode conferir aqui 11 orações para antes e depois da Santa Missa
O Tantum Ergo, cantado na bênção do Santíssimo, é um hino de adoração:
“Tantum ergo Sacramentum / Veneremur cernui: / Et antiquum documentum / Novo cedat ritui.”
(Tradução: “Portanto, tão grande Sacramento / Adoremos prostrados: / E a antiga lei / Dê lugar ao novo rito.”)
A oração silenciosa diante do Santíssimo Exposto, como praticada por santos carmelitas, também aprofunda a comunhão com Cristo.
Tradições e espiritualidade de Corpus Christi
A espiritualidade de Corpus Christi convida à adoração e à missão.
Como ensina São João Crisóstomo, “quem comunga o Corpo de Cristo deve tornar-se outro Cristo, vivendo para os pobres”.
A festa também inspira a prática da adoração perpétua, onde os fiéis passam horas diante do Santíssimo, como fazia Santa Teresa d’Ávila, que via na Eucaristia a força para sua reforma carmelita, um chamado ao coração eucarístico
Corpus Christi é mais que uma festa; é um convite a mergulhar no mistério do amor que se faz pão. Na Eucaristia, Cristo se entrega, renovando a aliança de sua Cruz.
Que as procissões, hinos e orações desta celebração nos levem a adorar com fervor e a viver como testemunhas do Cordeiro.
Sob o manto de Nossa Senhora do Carmo, que nosso coração diga: “Ó Sacramento divino, fazei-nos vossos para sempre!”
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