Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo.
Para sempre seja louvado.
O tema de hoje trata da virtude da caridade — a caridade de Maria para com Deus e para com o próximo. Esse é um dos primeiros capítulos da célebre obra Glórias de Maria Santíssima, de Santo Afonso Maria de Ligório, que, em sua segunda parte, aborda justamente as virtudes da Mãe de Deus.
Entre todas as virtudes presentes de modo perfeitíssimo em Maria, a caridade se destaca como a maior de todas.
O grande autor espiritual Antônio Royo Marín, em sua obra Teologia da Perfeição Cristã, define a caridade como a virtude teologal infundida por Deus na vontade, pela qual o justo ama a Deus por si mesmo, sobre todas as coisas, e a si mesmo e ao próximo por amor a Deus.
Cada palavra dessa definição carrega um peso profundo: é uma virtude teologal, pois tem a Deus como origem e fim. Ela é infundida por Deus; ou seja, sem Ele, não teríamos sequer a capacidade de amá-Lo ou de amar ao próximo. Deus é amor, e é esse amor que Ele derrama em nossos corações, tornando possível que O amemos. É por isso que Ele nos ordena: “Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração”. Mas só podemos cumprir esse mandamento se o próprio Deus derramar sobre nós.
Ninguém na Terra viveu a virtude da caridade de modo tão perfeito quanto a Virgem Maria. A ela se aplicam bem as palavras do Cântico dos Cânticos: “O meu amado é para mim, e eu sou para o meu amado.”
Maria é toda de Deus. Deus é tudo para Maria. Não há pessoa que tenha amado mais a Deus nesta Terra.
Amor, em Deus, é a sua essência. Ele é amor porque ama a si mesmo e a todas as coisas n’Ele. E esse amor é também uma Pessoa: o Espírito Santo, o divino Paráclito — o Amor do Pai e do Filho.
A oração ao Espírito Santo expressa: “Vinde, Espírito Santo, enchei os corações dos vossos fiéis e acendei neles o fogo do vosso amor.” São Paulo, na Carta aos Romanos, afirma que “o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado.”
A caridade é fogo. Esse fogo é derramado por Deus, e Maria foi toda abrasada por ele. Por isso, pode ser chamada de sarça ardente — uma imagem do amor que consome sem destruir.
No Apocalipse, São João relata a visão de uma mulher vestida de sol: Maria, resplandecente, vestida de Deus, vestida do fogo do amor divino.
Nossa Senhora revelou a Santa Brígida que, em sua vida terrena, não teve outro pensamento, desejo ou alegria senão o próprio Deus. Toda a sua vida foi um único e contínuo ato de amor.
Nós, seres humanos, conseguimos realizar vários atos de amor, mas não conseguimos manter um amor contínuo, ininterrupto. Maria, por privilégio singular, viveu toda sua existência em constante amor a Deus — até dormindo, dizem os santos, ela O amava. Seu amor era tão perfeito, tão intenso, que mesmo em seu repouso, permanecia abrasada pelo amor divino.
Isso nos leva a uma pergunta: quantos atos de amor a Deus realizamos em nosso dia? Quantos momentos vivemos realmente por amor a Deus?
Se formos sinceros, veremos que são poucos. E por isso, precisamos crescer em atos de amor, aprendendo com aquela que amou a Deus em todos os instantes de sua vida.
Maria deseja que amemos a Deus com todo o nosso ser. Todo o sofrimento que seu Filho passou foi redobrado no seu Imaculado Coração. Ela é a Virgem das Dores porque sentiu todas as dores da Paixão em seu coração.
Imaginemos: ela que tanto amou, quanto não sofre ao ver nosso desamor por Cristo? O quanto não a entristece ver o quão pouco amamos a vida de Cristo em nós?
Ao final de cada dia, devíamos nos perguntar: quantos atos de amor a Deus fiz hoje? E quantos atos fiz por amor a mim mesmo? Ao vermos essa desproporção, só podemos pedir perdão e rogar a Maria que nos ensine a amar, como uma boa mãe ensina seus filhos.
Nada alegra mais o Imaculado Coração de Maria do que ver seus filhos amando a Deus. Se quisermos amar a Deus verdadeiramente, precisamos nos deixar inflamar por Maria.
Santa Catarina de Sena dizia que Maria é a portadora do fogo do amor divino. E como acontece com qualquer fonte de calor, quanto mais perto estamos dela, mais nos aquecemos. Quanto mais nos aproximamos de Maria, mais o fogo do amor divino nos incendeia.
Aquele que se aproxima de Maria torna-se semelhante a ela.
Ela é a sarça ardente que Deus nos dá, para que, unidos a ela, sejamos transformados. Assim, o nosso amor por Deus se funde ao amor da Virgem Maria, tornando-se um único ato de amor.
Mas a caridade de Maria não se expressa apenas para com Deus — ela se estende, de forma inseparável, ao próximo. O amor de Maria é um só: a Deus e ao próximo por amor a Deus.
Como nos lembra São João: “Quem diz que ama a Deus, mas não ama ao seu irmão, é mentiroso.” Santo Tomás de Aquino ensina que quem ama a Deus, ama tudo o que Ele ama.
Logo, se amamos verdadeiramente a Deus, também amaremos o próximo — porque Deus o amou primeiro.
Vemos o amor ao próximo em dois grandes momentos da vida de Maria: a Visitação e as Bodas de Caná.
Na Visitação, Maria parte apressadamente pelas montanhas da Judeia para servir Isabel. Em Caná, intercede pelos noivos, antecipando o primeiro milagre de Jesus. Em ambos os momentos, ela é solícita, atenta, pronta para servir.
O que ela foi na Terra, continua a ser no Céu — e ainda mais.
Jesus revelou a Santa Brígida que, se não fossem os rogos de Maria, os pecadores não teriam esperança de perdão. Ela é Mãe de Misericórdia, mas somente para os que são misericordiosos com o próximo.
Se queremos praticar a virtude da caridade — rainha das virtudes cristãs — devemos aprender com Maria.
A caridade exige esquecimento de si mesmo, colocar-se em segundo plano e amar mais os outros do que a si próprio. Maria é o espelho perfeito dessa caridade.
Por isso, neste dia da novena, façamos um ato de entrega a Deus pelas mãos de Maria. Comprometamo-nos a praticar mais atos de amor a Deus e ao próximo. Só teremos mérito diante de Deus se tudo for feito com caridade.
Tudo por Deus! O nosso viver, nosso agir, nosso pensar — que tudo seja para a glória de Deus.
Renovemos, nesta noite, nossa entrega a Ele.
Que a Virgem do Carmo, ao entregar o seu Santo Escapulário — não como um amuleto, mas como a sua veste — nos inspire a revestirmo-nos dela.
Revestir-se de Maria é revestir-se de suas virtudes.
A nós, que trazemos o Santo Escapulário, cabe hoje o propósito firme de viver segundo as virtudes de Maria Santíssima, para amar a Deus e amar ao próximo com o mesmo amor.
Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo.
Para sempre seja louvado.