A castidade da Santíssima Virgem – Padre Thiago Fragoso

Redação VOTC

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Queridos fiéis, caro Frei Lyon, é uma alegria estar aqui hoje para presidir esta solene novena em honra da Senhora do Carmo. Essa igreja que, há séculos, preside sobre esta colina os destinos da cidade de São Paulo. Séculos, séculos de fato, nos ligam a uma história privilegiada. Uma história que começa no Monte Carmelo. A história que tem seus albores na vida do profeta Santo Elias, nosso pai, Santo Elias.

Esta ininterrupta sequência de graças, começando no Monte Carmelo, espalhando-se pelo mundo inteiro, chegando até esta nossa cidade de São Paulo, é testemunho das inúmeras graças dispensadas pela Santíssima Virgem, ao longo destes séculos. Nós que estamos aqui, particularmente aqueles que fazem parte da venerável Ordem Terceira do Carmo de São Paulo, têm o privilégio de gozar destas graças, destas infinitas graças que a Santíssima Virgem derrama sobre nós todos os dias.

O propósito da novena deste ano, do Novenário Solene de Nossa Senhora do Carmo, é meditar sobre as virtudes de Maria Santíssima. E hoje, de um modo todo particular, é nos oferecido um tema muito querido a Nossa Senhora, que é a virtude da castidade. A castidade de Maria, que deve se espelhar na castidade dos filhos de Maria. Porque não adiantaria apenas contemplar, como faremos, a glória da pureza de Maria, se não fosse para imitá-la na sua castidade, imitá-la na sua pureza, imitá-la na glória da sua integridade.

E quando falamos de integridade na pessoa de Maria, não nos referimos apenas a uma integridade espiritual, a uma castidade de alma pura e simplesmente, mas também, na pessoa de Maria, uma castidade de corpo, uma virgindade corporal. Este tema, o tema da castidade, essa virtude tão importante, se liga a um dos quatro dogmas, uma das quatro verdades de fé que a Igreja professa a respeito da sempre Virgem Maria: justamente esta, que Maria Santíssima foi, é, virgem antes, durante e depois do parto. Fala da integridade de Maria. Repito: não apenas uma integridade de alma, mas sobretudo também uma integridade de corpo. Todo o ser de Maria era um ser voltado para Cristo, voltado para a sua missão. E esse deve ser o nosso espelho. Também todo o nosso ser deve se voltar para Nosso Senhor.

A castidade, a pureza, a virgindade, são temas hoje abandonados pelo nosso século. Temas para os quais a sociedade olha com desdém, muitas vezes com ridicularização. Se um casal de jovens namorados se propõe a viver um namoro casto, é imediatamente ridicularizado pelos amigos. Se um jovem, sobretudo um jovem do sexo masculino, se propõe a viver uma vida de virgindade à espera do matrimônio, se pensa em casar virgem, é ridicularizado, muitas vezes inclusive na família.

Infelizmente, o nosso tempo, já tão depravado, já tão carcomido pelo pecado, já não se concebe capaz de virtudes como a castidade. Parece que castidade, virgindade e pureza são coisas de outros tempos. Mas, ao contrário, são virtudes do hoje da Igreja, do hoje dos cristãos. E em Maria, nós temos o mais perfeito testemunho dessa virtude.

É verdade que a Santíssima Virgem foi virgem, foi casta, foi pura no seu seio. Foi virgem, casta e pura no seu corpo. Mas é verdade também que, acima de tudo, Maria foi casta de alma. E Maria viveu com um coração indiviso. Não havia no coração de Maria espaço para mais ninguém, a não ser Deus e quem a Deus pertencia. Toda a vida de Maria – e a Igreja dá esse testemunho, toda a vida de Maria, as Sagradas Escrituras assim nos narram – era voltada para Jesus, para sua pessoa, para sua missão.

Portanto, Nossa Senhora se consagrou de corpo e alma, desde a mais tenra idade, ao seu Deus. Nós devemos imitar Maria. Consagrar os nossos esforços, as nossas energias, canalizar as nossas energias para o abandono do pecado, para abraçar a via da graça, para abraçar a via da virtude.

Castidade não é um ideal para além das nossas forças. Ninguém dirá que se trata de uma virtude que nós podemos alcançar com facilidade. Ninguém dirá que a pureza, que a castidade, que a virgindade são coisas que a gente consegue manter com tranquilidade, como quem põe uma roupa ou como quem corta o cabelo. Ao contrário, castidade, pureza, virgindade são palavras que demandam da nossa alma – são virtudes que demandam da nossa alma – um grande e hercúleo esforço.

Mas não reside aí, precisamente aí, o encanto da vida cristã? O encanto do esforço de ser bom e, mais do que bom, de ser perfeito? Não reside aí todo o enlevo do cristianismo, todo o afã do povo cristão de alcançar a perfeição divina? E quem melhor que Maria para nos ensinar como chegar à perfeição?

Quando nós contemplamos a sua imagem – não apenas esta gloriosa imagem que preside o altar principal desta centenária igreja – mas quando nós olhamos para qualquer imagem de Nossa Senhora, nós enxergamos no semblante de Maria o esplendor da virtude. A própria iconografia cristã, o próprio modo como a arte cristã apresenta Maria, dá testemunho da sua pureza, da sua integridade, do esplendor da glória que a revestia.

Mas, longe de nós pensar que esse esplendor não é alcançável. Seríamos infelizes se assim pensássemos. “Mas Nossa Senhora é muito distante… mas a virtude de Maria, a castidade de Maria, a pureza de Maria estão muito aquém das minhas possibilidades…” Longe de nós um pensamento tal! Pelo contrário, com a ajuda de Maria, com o socorro da sua intercessão, nós podemos sim ser castos.

Mas é verdade também que não basta a intercessão de Maria. É verdade também que não basta o socorro da sua proteção, o socorro do seu amparo. É preciso que nós queiramos imitá-la. Em todas as virtudes – hoje meditamos especialmente esta da castidade – é preciso querer ser casto. É preciso compreender que a ausência da castidade, portanto, a depravação do pecado, desumaniza o nosso corpo e a nossa alma. É preciso compreender que, sem a castidade, eu me distancio, dia após dia, do Senhor.

Não obstante, o socorro me é oferecido por Maria. A Santíssima Virgem não pode realizar todo o trabalho. É preciso que nós também nos esforcemos. Por isso esta novena. A novena de hoje, tão tradicional, tão preciosa para essa nossa Ordem Terceira, tão preciosa para a nossa cidade. A novena é tão antiga, com seus cantos, com a poesia da sua música, com a expressividade das suas orações – hoje acompanhadas pelo coro da Ordem Terceira, primeiro ano do coro da Ordem Terceira – e louvo a Deus pela presença de todos nessa noite.

Que a nossa oração seja dirigida à Maria, pedindo a graça da castidade. Todos nós, a começar do sacerdote até o último fiel, precisamos de uma vida casta. Também os casados precisam de uma vida casta. Aqueles que se propõem agora a namorar precisam de uma vida casta. Quem está se preparando pelo noivado para o casamento precisa de uma vida casta. Quem é solteiro precisa de uma vida casta. Os religiosos da Ordem Terceira também precisam de uma vida casta. Precisam abraçar esta virtude tão fundamental e tão agradável a Nosso Senhor.

A castidade é, antes de tudo, um coração indiviso. Um coração todo voltado para Cristo, a ponto de desprezar o que não pertence a Ele. Santo Agostinho uma vez escreveu, na Cidade de Deus, que os homens construíram a cidade, abraçando o vício e abandonando a Deus. O objetivo da Igreja é construir a Cidade de Deus, voltada completamente para Deus Nosso Senhor, a ponto de rejeitar aquilo que não lhe pertence.

É verdade, repito, não se trata de uma tarefa fácil. Mas aí está a Santíssima Virgem para nos socorrer. Queiramos, caros fiéis, uma vida de castidade. Queiramos, caros fiéis, agradar a Deus por uma vida íntegra, uma vida sem mancha, uma vida imaculada, como foi a vida da Santíssima Virgem.

Hoje, na nossa oração, contemplando a imagem de Maria, vendo resplandecer nesta imagem uma fímbria da glória de Maria, vamos pedir à Nossa Senhora que nos ajude a ser mais castos. Que nos ajude a abandonar aqueles pensamentos que nos assaltam, por vezes fruto de uma vida passada, desregrada, mas que constantemente vem à nossa mente e, quantas vezes, também nos fazem pecar.

Se posso pedir, como ministro de Deus, uma graça para os fiéis hoje, é que, na

hora da tentação contra a castidade, o Senhor ilumine a nossa inteligência com a imagem de Nossa Senhora. Que a lembrança de Nossa Senhora seja o freio dos nossos vícios. Que a lembrança da Virgem Imaculada nos inspire a buscar a virtude. Que a lembrança daquela toda casta, toda pura, toda santa, nos faça desejar ser castos, puros e santos.

Que a Santíssima Virgem continue a interceder por nós. Na sua imagem, que preside o nosso altar, Maria nos recorda: nós não somos um povo abandonado. Nós temos mãe. E que alegria para nós é contar com a Mãe que assim nos ama. Para além do amor que nós já temos da mãe da terra, podemos contar com o auxílio da Mãe do céu.

Que a Santíssima Virgem continue a interceder por nós e nos alcance no Senhor as suas melhores bênçãos.

 

Ó Maria concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a vós.

Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amém.

 

Homilia do Padre Thiago Fragoso no quinto dia do solene novenário de Nossa Senhora do Carmo de 2025.

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