Devemos estar profundamente agradecidos a Deus por nos permitir viver esta solene novena, dedicados à contemplação das virtudes de Nossa Senhora. Nela vemos os bons hábitos que, unidos à graça, aperfeiçoam e embelezam a Mãe de Deus — e nossa Mãe.
Hoje, convido-vos a meditar sobre uma virtude que, como alicerce oculto, sustenta todo o edifício da perfeição da Santíssima Virgem: a virtude da sua pobreza.
Sim, pobreza. Mistério que o mundo despreza, mas que o Evangelho exalta. Pobreza: virtude rejeitada pelos soberbos, mas buscada pelos santos como um tesouro escondido no campo.
Hoje, elevamos nosso olhar ao trono de Maria, não para vê-la cercada de pompa, mas para contemplá-la no seu despojamento espiritual, no seu desapego radical, na sua perfeita liberdade interior.
Nosso Senhor Jesus Cristo iniciou sua pregação com estas palavras: “Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o Reino dos Céus.” Nessa frase, encontra-se o princípio de toda vida santa.
A verdadeira pobreza não consiste apenas em não possuir bens materiais, mas em ter o coração livre deles. É o estado da alma que não se pertence, que nada retém, que deseja apenas a Deus e tudo quer para Ele.
Assim foi Maria. Assim é Ela: bem-aventurada, pobre de espírito, antes mesmo que seu Filho proclamasse o Sermão da Montanha.
Contemplai, irmãos, Maria em sua casa de Nazaré: pequena, sem ornamentos, feita de pedra simples, sem mármore, sem bronze, sem luxo. Aquele ar cheirava a pão recém-cozido, a madeira trabalhada, a linho secando ao sol. Ali, Maria fiava, calava-se e rezava. Não havia tilintar de moedas, nem desejo de conforto, nem orgulho de nobreza. Ali morava a Rainha do Céu, envolta em silêncio e humildade.
Contemplai Maria em Belém: não numa casa, mas num estábulo; não entre parentes, mas entre animais. Não coloca seu Filho num berço de marfim, mas sobre a palha. A Virgem pobre oferece ao mundo o Verbo Encarnado, envolto não em ouro, mas em panos humildes, aquecido apenas pelo seu alento.
E seu coração? Nada exige, nada reclama, não murmura. Tudo acolhe como vontade do Altíssimo.
No templo, a Lei mandava oferecer um sacrifício, e Maria, por ser pobre, oferece duas pombinhas. E Deus se compraz mais nessa pobreza obediente do que em todas as riquezas dos poderosos.
Depois, no Egito, Maria é forasteira, estrangeira, sem propriedade, sem pátria. Emigra com o Filho, levando consigo apenas o Tesouro escondido do Pai.
Mas se quereis contemplar o cume da pobreza de Maria, não olheis apenas o presépio ou a vida oculta de Jesus. Olhai o Calvário.
Ali está Maria, não como Rainha, mas como Mãe dolorosa, de pé, firme como uma torre, junto à cruz, coluna da salvação. Perdeu tudo. Não tem casa, nem esposo, nem descanso. Já não pode abraçar o Filho, nem conta com braços que a sustentem. O céu parece fechado, os homens, endurecidos, e o demônio, solto. Mas Ela não se quebra, porque nada possuía e nada lhe foi tirado — já havia entregado tudo no “Fiat” de Nazaré.
Por isso, aos pés da cruz, Maria é a mais pobre entre todas as criaturas — e, justamente por isso, a mais poderosa. Despojada de tudo, é livre como ninguém. Sua pobreza é o seu trono. Sua renúncia, a sua coroa.
Mesmo após a gloriosa ressurreição do Filho, Maria permanece humilde e pobre — não por necessidade, mas por escolha livre e amorosa. Nessa profunda pobreza, entrega-se inteiramente à missão que o Senhor lhe confiou: a edificação da Igreja nascente. Com o coração desprendido de tudo, dedica-se à formação espiritual dos apóstolos, ao fortalecimento da fé dos discípulos e à expansão do Reino de Deus.
A pobreza de Maria não foi impedimento, mas a fonte de sua força e liberdade. Assim, ela pôde servir com generosidade, preparando-se para a gloriosa Assunção que a esperava.
Mistério sublime: Maria foi elevada ao céu em corpo e alma. Pobre como viveu, não levou túnicas bordadas, nem jóias, nem bagagens. Subiu despojada de todos os afetos terrenos, revestida apenas da graça. Porque só os pobres de espírito podem entrar pela porta estreita do Reino. Quem vive sem fardos, pode voar sem travas.
Importa considerar algo ainda mais alto: a pobreza de Maria não é resignação, nem conformismo diante da sorte. Não é a pobreza do vencido que se conforma. Não! É pobreza escolhida, abraçada, amada. Maria foi pobre por virtude, não apenas por condição. Poderia ter desejado outra realidade, mas escolheu a humildade.
Seu “fiat” não foi só dito em Nazaré, mas renovado todos os dias, como resposta livre ao plano de Deus.
Metafisicamente, sabemos que toda criatura é pobre. Nada somos perante o Criador. Comparados a Ele, somos pó, barro, radical dependência. Mas Maria elevou essa verdade à prática: não se rebelou contra sua pequenez, antes a abraçou. Não quis igualar-se ao Altíssimo, como o anjo caído, mas se humilhou — e por isso foi exaltada.
Sua pobreza é fidelidade à verdade: Deus é tudo, e sem Ele nada somos. Por isso sua alma engrandece o Senhor, porque ela mesma não se engrandece. Esvazia-se de si e das criaturas, e por isso pode ser plena de Deus.
Essa pobreza espiritual, essa liberdade interior, é o que torna Maria capaz de todas as virtudes. Porque quem é pobre não cobiça, não inveja, não se exalta, não se irrita — pois não defende o que é seu. A pobreza torna a alma prudente, pois sabe estimar tudo conforme o peso da eternidade; justa, pois não retém o que não lhe pertence; forte, pois nada a domina; religiosa, pois vive inteiramente para Deus; piedosa, pois é aberta à misericórdia, pronta para servir.
A pobreza é a base da humildade. E a humildade é o trono da graça. Por estar vazia de si, Maria está cheia de Deus. Por isso o anjo a saúda como “cheia de graça”.
E aqui encontramos outro mistério grandioso: Maria, a mais pobre entre todas as criaturas, é também a medianeira de todas as graças. Deus resiste aos soberbos, mas se inclina aos humildes. E quis que nenhuma graça chegasse à terra sem passar pelas mãos virginais de Maria. Aquela que nada retém para si, recebe tudo para dar aos outros. Aquela que nada possui, é depositária dos dons divinos. Porque se esvaziou totalmente, Deus a encheu sem medida e por Ela faz descer Sua misericórdia sobre o mundo.
Diante dessas verdades, perguntemo-nos com sinceridade: o que seria de nós se começássemos a imitar, ao menos um pouco, a pobreza de Nossa Senhora?
Ganharíamos a alma. Ganharíamos a paz interior que o mundo não pode dar. Ganharíamos a verdadeira liberdade, aquela que não se compra. Ganharíamos o gosto pelo eterno, pelas coisas que duram. Pois quem despreza o que passa, já começa a viver como cidadão do Céu. Ganharíamos uma alegria pura: quem nada espera do mundo, tudo recebe de Deus.
Fazei a experiência: renunciai às ambições, silenciai nas humilhações, dai sem esperar retorno, fazei a esmola em segredo, amai sem recompensa — e conhecereis a alegria escondida dos pobres do Evangelho.
Mas, ao contrário, ai da alma cobiçosa! Porque onde estiver o seu tesouro, aí estará também o seu coração. E se o tesouro está na terra, o coração não se eleva ao céu.
Hoje, a cobiça se disfarça de necessidade legítima, de prudência, de progresso. Mas sob esses nomes nobres, esconde-se muitas vezes o velho vício do coração insaciável. Mas Deus vê o coração. E o coração que não se esvazia, não pode ser preenchido.
Ai da alma invejosa! Só quem deseja o que é do outro se atormenta. A inveja é irmã da cobiça e mãe do ódio oculto. Maria, porém, se alegra com o bem alheio. Glorifica a Deus pelo que Ele realiza nos outros e em nós.
Ai da alma soberba! Pois ela não tolera a pobreza. Quer dominar, aparecer, destacar-se. Mas o soberbo cairá, e o humilde será exaltado.
A pobreza é o princípio da ordem e do amor. Ninguém ama verdadeiramente enquanto unicamente ama apenas a si mesmo.
Mas não nos perturbemos, irmãos. O Senhor conhece o mais íntimo do coração. Ele não rejeita os humildes, nem abandona os que se voltam a Ele com sinceridade.
Maria, nossa Mãe, não desvia o olhar do filho ferido, mas o acolhe nos braços e o leva ao Médico das almas.
Se nos reconhecemos soberbos, vaidosos, apegados ao mundo, louvemos a Deus por termos sido iluminados. O início da cura é a consciência da doença.
Oremos, então, com confiança. E deixemos que a Virgem pobre nos conduza ao seu Filho — Ele que, sendo rico, se fez pobre por nós.