A obediência de Maria – Frei Lyon Mendonça 

Redação VOTC

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Chegamos a mais uma noite de nossa novena em honra à Nossa Senhora do Carmo. O tema desta noite é a obediência de Maria.

No Evangelho de Lucas, no capítulo um, versículo de vinte e seis a trinta e oito, o anjo Gabriel anuncia à Virgem Maria os planos de Deus para a salvação da humanidade. Ou seja, Deus quis contar com ela para ser mãe do Salvador. 

No diálogo com o anjo, a resposta de Maria é: “Eis aqui a serva do Senhor! Faça-se em mim segundo a tua palavra.” Acontece aí um momento de total obediência e abandono à vontade de Deus. Na sua perfeita obediência, acontece a encarnação do Verbo. Uma jovem, prometida em casamento, fica embaraçada com o anúncio do anjo, mas a resposta que ela dá é de serviço e de obediência. Não se coloca como rainha, mas como serva: “Eis a serva do Senhor.” Diante das palavras do anjo, Maria mostra grande fé e obediência.

E, como ela, devemos também nós obedecer. Nós, religiosos consagrados da Primeira Ordem dos Carmelitas, bem como de diversas ordens também aqui presentes — capuchinhos, da Ordem Terceira — fazemos três votos: castidade, pobreza e obediência. Mas, se nós não vivermos bem a obediência, nem a castidade nem a pobreza serão bem vivenciadas. E Maria viveu bem todos os conselhos evangélicos. O que, na desobediência de Eva, no jardim do Éden, foi desatado — o nó que Eva fez com a desobediência — Maria desatou com a sua fé. Maria é exemplo de obediência para nós, cristãos. Desde o momento da anunciação do anjo Gabriel até os pés da cruz, quando, em obediência a seu Filho, assume a maternidade da humanidade inteira. Maria é modelo de obediência e serviço para todos os cristãos. Na Igreja, quem não obedece e quem não está em comunhão, cria cisma.

Maria é obediente: obedece ao anúncio do anjo, obedece quando tem que correr para o Egito para esconder a criança, obedece quando recebe a necessidade de sua prima Isabel e, apressadamente, se coloca para lá. Para nós, carmelitas, o modelo e as virtudes de Maria Santíssima são setas que nos guiam com esperança para comunhão com o Papa, com os bispos, com os irmãos, na busca da unidade. Unidade na diversidade. Cada pessoa é única, com suas ideias, com a sua formação e criação. Mas, no ideal, temos o mesmo objetivo: servir a Cristo e viver em obséquio de nosso Senhor Jesus Cristo todos os dias, ao redor da fonte que é o próprio Cristo.

A Mãe de Deus e nossa Mãe, no caminho da obediência, faz a vontade de Deus Pai. Mostra para nós que é seguro e reto seguir a Jesus Cristo, e esse caminho nos aponta para o céu. O sim de Maria muda a história do mundo. A humanidade inteira muda o percurso de sua vida. Sua resposta generosa é prova de sua fé em Deus. E esse sim foi dado com prontidão, de modo gratuito, sem reservas e sem condições. Maria é a nova Eva. Pelo pecado da desobediência dos nossos primeiros pais, havíamos perdido o Paraíso, mas pela obediência da Virgem Maria — do Monte Carmelo à Senhora do lugar — nasce a esperança. Ela gera a salvação da humanidade. Ela esmaga a cabeça da serpente, trazendo-nos o Salvador, Jesus Cristo. “Eis que uma virgem conceberá e dará à luz a um filho, e o seu nome será Deus conosco, Emanuel”, vimos na profecia de Isaías.

Em cada acontecimento da vida, favoráveis ou não, Maria se manteve firme e perseverante e fiel ao seu sim dado a Deus. Em tudo: nas suas virtudes, nas atitudes, nas palavras, nos pensamentos, nos sentimentos, abriu mão da sua própria vontade para obedecer à vontade de Deus. Ou seja, ela viveu em tudo a obediência divina. Poderia ter dito não ao anjo, com rebeldia, mas, pelo contrário, em obediência, salvou a humanidade com o seu sim.

Peçamos a Deus a graça de nos abrirmos para sua vontade, a graça de abrir mão da nossa própria vontade, muitas vezes imatura, e que Ele nos abra os ouvidos e o coração, dando-nos sensibilidade espiritual para ouvir a sua voz e obedecer prontamente como Maria. Pois obedecer a Deus e buscar em tudo fazer a sua santa vontade é um caminho seguro para a pátria celeste.

Parece, às vezes, que a palavra obedecer é difícil. Sim ou não? Sim. Mas, se você não obedece, você está se auto sabotando. Os filhos obedecem aos pais. Os funcionários obedecem aos seus patrões. Nós obedecemos ao Papa, ao bispo, ao diretor espiritual. É assim a nossa vida a priori. E nem sempre parece que é justo, mas devemos enxergar a vontade de Deus através dos nossos superiores. Santa Teresinha do Menino Jesus dizia: os superiores são bússolas que nos conduzem ao céu. Obedecer é buscar fazer não a nossa vontade, mas a vontade do Pai.

Maria não teve outra alternativa, não teve argumentação. Ela só disse: “Eis a serva do Senhor.” Aproveitemos esse tempo tão rico de nosso novenário, esse grande retiro espiritual anual, para aprender com Maria que a obediência nos torna livres para amar. Porque quem busca o amor, busca Deus, mesmo sem saber. Santa Teresinha do Menino Jesus, grande devota de Nossa Senhora do Carmo, Nossa Senhora do Sorriso, dizia assim em um de seus pensamentos: praticando as pequenas virtudes, a Santa Virgem tornou visível o caminho do céu.

As virtudes de Maria tornam para nós vivo, visível, o caminho para o céu. Que, praticando a virtude da obediência com fé, fidelidade e amor, abandonemos as nossas próprias vontades, andando nos caminhos que nos levam ao Pai, com reta intenção e em tudo buscando agradar a Deus e alcançar o céu, onde todos nós estaremos um dia contemplando a face de Deus e de Nossa Senhora, Mãe e Rainha dos Carmelitas.

Homilia do Frei Lyon Mendonça no sétimo dia do solene novenário de Nossa Senhora do Carmo de 2025.

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