Entenda como surgiu a ordem dos carmelitas

Redação VOTC

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Com uma história que remonta ao período anterior ao nascimento de Cristo, a espiritualidade carmelitana floresceu no coração da Igreja, formando santos, místicos e comunidades que ainda hoje preservam o ideal de “viver na presença do Senhor”.

Este artigo convida o leitor a conhecer mais profundamente a riqueza histórica, espiritual e cultural da Ordem do Carmo, desde os primeiros eremitas até as diversas ramificações e reformas que marcaram seu caminho, sempre sob a proteção e inspiração da Virgem Maria.

 

Origens no Monte Carmelo

A Ordem do Carmo remonta a quase mil anos antes de Cristo, quando, na montanha do Carmelo,  os eremitas em torno do Santo Profeta Elias (980 – 918 A.C.) prestavam culto profético à futura Mãe do Redentor do mundo; São Metódio, que viveu no fim do século III, afirma que Santo Elias foi instruído sobrenaturalmente sobre todos os mistérios de Maria e resolveu imitá-la por antecipação.

 

Primeiros santuários e expansão

Daquelas longínquas regiões, onde se levantaram os primeiros santuários em honra de Maria, vieram os arautos de sua fé e de seu culto para o ocidente, atraindo muitos adeptos com sua vida de oração, silêncio, contemplação e ação. 

Aí, em breve, como era de esperar, desenvolveu-se a árvore a cuja sombra haviam de abrigar-se, através dos séculos, milhares de cristãos de ambos os sexos e de todas as condições. 

Varões santos, despedindo-se do mundo, impelidos por diferentes sentimentos e desejos, e inflamados pelo amor do serviço divino, escolheram lugares, cada um conforme o próprio ideal e piedade. 

Uns, seduzidos pelo exemplo de Nosso Senhor, preferiram a vida eremítica naquele deserto inesquecível de Quarantena, onde Jesus jejuou quarenta dias depois do batismo, e aí lutavam heroicamente para o Senhor, vivendo em pequenas celas; outros, imitando o exemplo do homem santo e solitário que foi o Profeta Elias, professavam a vida eremítica no Monte Carmelo, sobretudo na parte que se avança sobre a cidade de Porfíria, a atual Haifa, próxima de uma fonte conhecida como a fonte de Elias, não longe do Mosteiro de Santa Margarida. 

E ali, como abelhas do Senhor, produziam o mel da doçura espiritual nas colmeias de suas humildes celas.

 

Santos carmelitas

Assim foram vivendo, espalhados em numerosos grupos, os adeptos do Profeta Elias (nascido no ano 980 A.C., 3073 anos da criação do mundo) sob as inspirações de Nossa Senhora, sendo digno de menção que alguns foram canonizados, como: 

  • São Telesforo (136-178), Papa e mártir; 
  • São Serapião (150-213), Bispo e Confessor; 
  • São Dionísio (200-272), Papa e Confessor; 
  • Santo Esperidião (270-350), Bispo e Confessor; 
  • Santo Hilarião (292 – 372), Abade; 
  • São Cirilo (317-444), Confessor e Doutor; 
  • Santa Eufrosina (408-450), Virgem;
  • Santa Eufrásia (412-442), Virgem; 
  • Santo Anastácio (600-628);
  • São Geraldo (906-1.047), Bispo e Mártir.

 

Fundação formal da Ordem

É incerto o ano da fundação da Ordem Carmelitana; historiadores de não pequena autoridade como G. Wessels, O. Car., V. Roefs, O. Carm., R. Hendriks, O. Carm. e Elisée De La Nativité, O.C.D. chegaram à conclusão de que, no seu sentido geral e na sua organização como é conhecida até hoje, ela não existia antes do ano 1153, e aceitam como fato histórico que a Ordem do Carmo com a atual organização só existiu após essa data, devendo a sua fundação ter ocorrido entre os anos de 1.153 e 1.159.

 

O primeiro prior geral

O primeiro Prior Geral foi São Bertoldo de Calábria, nomeado por D. Aimerico de Malafaide, Patriarca de Antioquia, Legado da Santa Sé. Bertoldo era primo de D. Aimerico, e tinha entrado na Ordem por devoção, em idade avançada; por revelação do profeta Elias, dirigiu-se para o Monte Carmelo; com o auxílio de D. Aimerico construiu uma pequena capela perto da Gruta de Elias e cerca às ruínas que existiam por lá. 

Aos poucos cresceu o número dos eremitas, que se espalharam pelo monte todo, vivendo, separados uns dos outros, nas cavernas do Carmelo.

 

A regra de Santo Alberto

Em 1.209, provavelmente, Santo Alberto, Patriarca de Jerusalém, deu-lhes uma Regra escrita e reuniu-os perto da Fonte de Elias, sob a obediência de São Brocardo que assim, de fato, foi o primeiro Superior Geral da Ordem, segundo as instituições latinas; podemos considerar esta Regra como uma codificação da vida que os Carmelitas já levavam no Monte Carmelo.

 

Preceitos da regra

A Regra era curta e extremamente simples, como convinha a almas contemplativas, que facilmente se sentiam embaraçadas no seu caminho para Deus, quando tinham de enfrentar uma multidão de preceitos. 

Os poucos mandamentos eram dados na forma mais adequada, negativa:
– abstinência: não comer carne;
– pobreza: não possuir nada como próprio;
– solidão: não falar;
– trabalho: não estar ocioso.

A única preocupação era dirigir as almas dentro da sua grande aspiração: “Viver no serviço de Jesus”, meditando dia e noite sobre a Lei do Senhor e vigiando em orações. Era o preceito central, no dizer dos mestres da espiritualidade carmelitana. 

As obrigações do silêncio e da solidão eram secundárias, como condições que tendiam a facilitar a vida contemplativa e modelar a vida religiosa dos eremitas do Carmelo.

 

Expansão para a Europa

Logo no século XII os Carmelitas passaram para a Europa, onde rapidamente se espalharam pela Itália, Inglaterra, França, Espanha e Alemanha, atingindo grande esplendor. 

Desde então, participando dos tempos e contratempos da Igreja, a Ordem Carmelitana tem vicejado, prosseguindo sempre avante, gerando homens de eximias virtudes e sabedoria. 

Sob a proteção da Virgem do Carmo, a Ordem vem mantendo sempre vivo o lema de Elias, seu Pai e Inspirador: “Vive o Senhor em cuja presença me encontro”.

 

Anonimidade e espiritualidade

A glória dos Carmelitas é a sua impressionante anonimidade, que passou a caracterizar toda a vida espiritual da Ordem. O grande mistério da vida Carmelitana – “vivere Deo” não pode ser exteriorizado por qualidade visível; só pode ser envolvido pelo silêncio e recolhimento. 

A Ordem, nascida no Carmelo, é tão oculta na sua origem como na sua vida contemplativa. 

Entretanto, a História nos diz que em todos os cometimentos da humanidade os Carmelitas tomaram parte destacadamente.

 

Ramificações da Ordem

  • Da Ordem religiosa do Monte Carmelo surgiu a Ordem dos Carmelitas Mendicantes, instituída na Síria no século XII; 
  • A Congregação de Nossa Senhora do Monte do Carmo, dedicada ao tratamento dos enfermos e ensino das crianças, canonicamente instituída por Xisto IV (1471-1484) e reformada em 1678 pelo Padre Emiliano Jacomelli; 
  • Os Carmelitas da Congregação de Mantua, fundada por Thomaz Connecte na primeira metade do século XV; 
  • A Ordem dos Carmelitas Descalços, fundada na Espanha por Santa Teresa de Jesus; a Confraria do Monte do Carmo, fundada com o fim de propagar a devoção do Escapulário, de conformidade com a bula “Universis et singulis Christi fidelibus”, vulgarmente conhecida pelo nome de Sabatina, decretada pelo papa João XXII, em 3 de março de 1322 e confirmada depois por vários pontífices; 
  • A Ordem dos Irmãos Terceiros, instituída a 11 de novembro de 1476 pela Bula do papa Xisto IV; 
  • E enfim Ordem militar e hospitaleira de Nossa Senhora do Monte do Carmo, instituída por Henrique IV, rei de França, em louvor à Virgem Maria, e sob os mesmos fundamentos da Ordem de S. Lázaro.

 

Ordem das Carmelitas para mulheres

Para a vida religiosa de mulheres, em comunidade, foi instituída a Ordem das Carmelitas, por João Sareth, geral dos carmelitas, cuja fundação se verificou em 1451, dando para o seu regime uma regra análoga à dos religiosos conventuais, isto é, os que aceitaram a reforma do papa Eugênio IV (1431-1447). 

Aprovada a ordem por Nicolau V (1447-1455), multiplicou-se Espanha, e daí rapidamente, sobretudo nos Países Baixos e na sua introdução em Portugal e posteriormente nas suas possessões ultramarinas. 

Aquela primitiva Regra vigorou até a constituição da nova Ordem das Carmelitas Reformadas, fundada por Santa Teresa de Jesus no convento da cidade de Ávila, na Espanha, e aprovada pelo papa Pio IV em 1562.

 

Ordem das Penitentes

Dos moldes desta ordem surgiu na França a das Penitentes, ou Convertidas, e depois em Ovieto, na Itália, seguindo esta a regra carmelitana aprovada pelo papa Inocêncio IV. 

Esta ordem tinha por fim o recolhimento de mulheres “que, depois de viverem no mundo vida licenciosa, foram buscar a solidão do Claustro, consagrar-se a Deus por meio de solenes votos, e terminar sua carreira mortal nas asperezas de uma vida penitente, a exemplo de Santa Maria Madalena, sua padroeira”.

 

Classes dos Carmelitas Conventuais

Os Carmelitas conventuais dividem-se nestas três classes: Observantes, que são os que permanecem fiéis às regras primitivas; Descalços, os que aceitaram a nova regra de Santa Teresa e de São João da Cruz; e Reformados, os que abraçaram a reforma da província francesa de Turon.

 

Congregações e mosteiros

Da Ordem Carmelitana dependem ainda muitos Mosteiros de Religiosas de Clausura, e a ela estão agregadas muitas Congregações Religiosas que se dedicam às mais diversas atividades, como escolas, hospitais e missões.

Ainda hoje floresce Carmelitana em diversas partes do mundo.

 

(Livro do Carmo, patrimônio da história, arte e fé – Raul Leme Monteiro).

 

O carmelo: uma escola de santidade

Ao longo dos séculos, a espiritualidade carmelitana tem sido um farol para aqueles que buscam uma vida de intimidade com Deus, marcada pelo silêncio interior, pela oração constante e pelo serviço humilde. 

Mais do que uma Ordem religiosa, o Carmelo é uma escola de santidade, onde cada alma é chamada a mergulhar no mistério de Deus, vivendo em simplicidade, desapego e profunda união com o divino.

Conhecer a história e a vivência da Ordem do Carmo é mais do que estudar um passado glorioso — é abrir-se a um caminho de transformação interior e reencontro com o essencial. 

Que este contato com o legado carmelitano inspire você a explorar mais a fundo essa espiritualidade que continua a transformar vidas e a apontar, com serenidade e profundidade, para o Deus vivo e presente.

 

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