Como se preparar para a morte

Redação VOTC

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Você já parou para refletir sobre a morte com serenidade e sabedoria? Em tempos de distrações constantes e de uma vida acelerada, muitos evitam pensar no fim da vida. 

No entanto, meditar sobre a morte não é um ato mórbido, mas sim um exercício de profundidade espiritual e de preparação interior. 

Neste artigo, apresentamos um exercício de preparação para uma boa morte, fundamentado em textos clássicos da espiritualidade cristã.

Com base no capítulo “Da meditação da morte” da renomada obra Imitação de Cristo, você encontrará ensinamentos que alertam sobre a brevidade da vida e a importância de estar preparado: “Mui depressa chegará teu fim neste mundo; vê, pois, como te preparas…”. São conselhos que nos ajudam a viver bem o presente com os olhos voltados para a eternidade.

Além disso, o artigo traz reflexões espirituais profundas que nos convidam a manter a consciência sempre em ordem: “A morte tem pés de algodão… devemos estar de sobreaviso, a fim de que, quando ela vier, nos encontre preparados.”

Essa sabedoria prática mostra que pensar na morte é, na verdade, pensar na vida que realmente importa.

Como complemento espiritual, incluímos a Ladainha para uma boa morte e uma oração à Santíssima Virgem como auxílio para todos que desejam se preparar espiritualmente para o momento mais importante da existência: a passagem para a vida eterna.

Se você deseja refletir com profundidade, fortalecer sua fé e viver com mais sentido, continue a leitura. 

Este conteúdo pode transformar não só a forma como você encara a morte, mas sobretudo como vive o presente.

 

Da meditação da morte – Imitação de Cristo

 

  1. Mui depressa chegará teu fim neste mundo; vê, pois, como te preparas: hoje está vivo o homem, e amanhã já não existe. Entretanto, logo que se perdeu de vista, também se perderá da memória. Ó cegueira e dureza do coração humano, que só cuida do presente, sem olhar para o futuro! De tal modo te deves haver em todas as tuas obras e pensamentos, como se fosse já a hora da morte. Se tivesses boa consciência não temerias muito a morte. Melhor fora evitar o pecado que fugir da morte. Se não estás preparado hoje, como o estarás amanhã? O dia de amanhã é incerto, e quem sabe se te será concedido? 

 

  1. Que nos aproveita vivermos muito tempo, quando tão pouco nos emendamos? Oh! nem sempre traz emenda a longa vida, senão que aumenta, muitas vezes, a culpa. Oxalá tivéssemos, um dia sequer, vivido bem neste mundo! Muitos contam os anos decorridos desde a sua conversão; frequentemente, porém, é pouco o fruto da emenda. Se é tanto para temer o morrer, talvez seja ainda mais perigoso o viver muito. Bem-aventurado aquele que medita sempre sobre a hora da morte, e para ela se dispõe cada dia. Se já viste alguém morrer, reflete que também tu passarás pelo mesmo caminho. 

 

  1. Pela manhã, pensa que não chegarás à noite, e à noite não te prometes o dia seguinte. Por isso anda sempre preparado e vive de tal modo que te não encontre a morte desprevenido. Muitos morrem repentina e inesperadamente; pois na hora em que menos se pensa, virá o Filho do Homem (Lc 12,40). Quando vier aquela hora derradeira, começarás a julgar mui diferentemente toda a tua vida passada, e doer- te-á muito teres sido tão negligente e remisso. 

 

  1. Quão feliz e prudente é aquele que procura ser em vida como deseja que o ache a morte. Pois o que dará grande confiança de morte abençoada é o perfeito desprezo do mundo, o desejo ardente do progresso na virtude, o amor à disciplina, o rigor na penitência, a prontidão na obediência, a renúncia de si mesmo e a paciência em sofrer, por amor de Cristo, qualquer adversidade. Mui fácil é praticar o bem enquanto estás são; mas, quando enfermo, não sei o que poderás. Poucos melhoram com a enfermidade; raro também se santificam os que andam em muitas peregrinações. 

 

  1. Não confies em parentes e amigos, nem proteles para mais tarde o negócio de tua salvação, porque mais depressa do que pensas te esquecerão os homens. Melhor é providenciar agora e fazer algo de bem, do que esperar pelo socorro dos outros. Se não cuidas de ti no presente, quem cuidará de ti no futuro? Mui precioso é o tempo presente: agora são os dias de salvação, agora é o tempo favorável (2Cor 6,2). Mas, ai! que melhor não aproveitas o meio pelo qual podes merecer viver eternamente! Tempo virá de desejares, um dia, uma hora sequer, para a tua emenda, e não sei se a alcançarás.

 

  1. Olha, meu caro irmão, de quantos perigos te poderias livrar e de quantos terrores fugir, se sempre andasses temeroso e desconfiado da morte. Procura agora de tal modo viver, que na hora da morte te possas antes alegrar que temer. Aprende agora a desprezar tudo, para então poderes voar livremente a Cristo. Castiga agora teu corpo pela penitência, para que possas então ter legítima confiança. 

 

  1. Ó louco, que pensas viver muito tempo, quando não tens seguro nem um só dia! Quantos têm sido logrados e, de improviso, arrancados ao corpo! Quantas vezes ouviste contar: morreu este a espada; afogou-se aquele; este outro, caindo do alto, quebrou a cabeça; um morreu comendo, outro expirou jogando. Estes se terminaram pelo fogo, aqueles pelo ferro, uns pela peste, outros pelas mãos dos ladrões, e de todos é o fim a morte, e, depressa, qual sombra, acaba a vida do homem (Sl 143,4). 

 

  1. Quem se lembrará de ti depois da morte? E quem rogará por ti? Faze já, irmão caríssimo, quanto puderes; pois não sabes quando morrerás nem o que te sucederá depois da morte. Enquanto tens tempo, ajunta riquezas imortais. Só cuida em tua salvação, ocupa-te só nas coisas de Deus. Granjeia agora amigos, venerando os santos de Deus e imitando suas obras, para que, ao saíres desta vida, te recebam nas eternas moradas (Lc 16,9). 

 

  1. Considera-te como hóspede e peregrino neste mundo, como se nada tivesses com os negócios da terra. Conserva livre teu coração, e erguido a Deus, porque não tens aqui morada permanente. Para lá dirige tuas preces e gemidos, cada dia, com lágrimas, a fim de que mereça tua alma, depois da morte, passar venturosamente ao Senhor. Amém. 

 

Reflexões 

Como seríamos felizes, minhas queridas almas, se, desocupados de qualquer outro afazer, pensássemos seriamente em preparar as contas de nossa consciência, a fim de estarem em ordem para serem prestadas no dia que nos está marcado! Pois a morte tem pés de algodão, isto é, ela vem tão de mansinho que nem se percebe e nos pega de surpresa. Por isso devemos estar de sobreaviso, a fim de que, quando ela vier, nos encontre preparados: Estai preparados, porque na hora em que menos pensais, virá o Filho do Homem. Vigiai, pois, porque não sabeis o dia nem a hora (Mt 24,44; 25,13). Pensemos, portanto, muitas vezes na morte, mas que não seja com um medo e temor excessivos. Tomemos a resolução de morrer com um coração pacífico e tranquilo, e como é uma coisa que vai acontecer com toda certeza, devemos manter-nos sempre no mesmo estado que queremos estar na hora da morte. Este é o verdadeiro meio de preparar-se para morrer bem, e podemos estar certos de que, se fizermos isto cuidadosamente, chegaremos à eternidade bem aventurada e, deixando esses dias dos mortos, chegaremos aos dias da vida, para lá louvar e bendizer eternamente a divina Majestade (Sermon pour le V e jeudi de Carême, IV, 369). 

Exercitai-vos muitas vezes em pensamentos da grande doçura e misericórdia com a qual Deus, nosso Salvador, recebe as almas em seu desenlace, quando elas confiaram nele durante sua vida, e procuraram servi-lo e amá-lo cada qual em sua vocação. Como sois bom, Senhor, para os que têm o coração puro! (Sl 73,1). Elevai muitas vezes vosso coração por uma santa confiança, impregnada de uma profunda humildade para com nosso Redentor, como que dizendo: Sou miserável, Senhor, e vós recebeis minha miséria no seio de vossa misericórdia, e me levareis com vossa mão paterna para o gozo de vossa herança: sou mesquinha e abjeta, mas vós me amareis, naquele dia, porque esperei em vós e desejei ser vossa (84 e lettre spirit., XII, 144). 

 

Oração 

Senhor, recebei-me sob vossa proteção nesse dia espantoso. Tornai-me esta hora feliz e favorável, mesmo que todas as outras de minha vida sejam tristes e de aflição (Introduction à la vie dévote, parte I, cap. XIII, I, 27). 

 

(Imitação de Cristo: I, Capítulo 23 – Da meditação da morte).

 

Ladainha para uma boa morte

Estas preces em forma de ladainha para pedir uma santa morte foram compostas, pelo que consta, por uma moça convertida da heresia protestante à religião católica com 15 anos e morta, em odor de santidade, aos 18 anos de idade. Pio VII as aprovou com um rescriptum de 12 mai. 1802 e Leão XII, com o decreto confirmativo “Urbis et Orbis”, de 11 ago. 1824.

 

Ato de abandono. — Senhor Jesus, Deus de bondade, pai de misericórdia, eis-me aqui, diante de Vós, de coração humilhado, contrito e confuso; encomendo-Vos a minha hora suprema e tudo o que depois dela vier.

  1. Quando os meus pés imóveis me indicarem já estar consumada a minha passagem neste mundo, benigníssimo Jesus: tende piedade de mim. 
  2. Quando as minhas mãos, cansadas e trêmulas, não puderem mais segurar Vossa imagem, ó Jesus crucificado, e quando, à minha revelia, elas caírem com a cruz sobre o meu leito de morte, benigníssimo Jesus: tende piedade de mim.
  3. Quando os meus olhos, escurecidos e aterrorizados com o rosto da morte que se avizinha, se dirigem a Vós, tristes e a ponto de cerrar-se, benigníssimo Jesus: tende piedade de mim.
  4. Quando os meus lábios, frios e trêmulos, pronunciarem pela última vez o Vosso santo nome, benigníssimo Jesus: tende piedade de mim.
  5. Quando o meu rosto, pálido e lívido, inspirar compaixão e horror aos circunstantes, e quando os meus cabelos, eretos e a suarem o suor letal, anunciarem a proximidade do meu fim, benigníssimo Jesus: tende piedade de mim.
  6. Quando as minhas orelhas, incapazes de atender à voz dos homens, se alçarem para escutar a sentença irrevogável, que irá determinar o que será de mim para sempre, benigníssimo Jesus: tende piedade de mim.
  7. Quando a minha mente, agitada por tristes e horrendos pensamentos, estiver prostrada de abatimento; quando o meu espírito, turbado pela consideração de minhas iniquidades e pelo medo de Vossa justiça, lutar contra o príncipe das trevas, que, ocultando-me Vossas misericórdias, tentará levar-me ao desespero, benigníssimo Jesus: tende piedade de mim.
  8. Quando o meu coração, débil, oprimido pela doença, trespassado pelos horrores da morte, se enfraquecer na luta contra os inimigos de minha salvação, benigníssimo Jesus: tende piedade de mim.
  9. Quando receberdes, em sacrifício expiatório, minhas últimas lágrimas, a anunciarem a chegada da morte, a fim de que eu expire como vítima de penitência; neste momento terrível, benigníssimo Jesus: tende piedade de mim.
  10. Quando os meus pais e amigos se puserem à minha volta, chorando pela minha sorte, e Vos invocarem em meu favor, benigníssimo Jesus: tende piedade de mim.
  11. Quando eu for privado de todos os sentidos e vir passar diante de mim a figura deste mundo e, assim oprimido, chegar à hora da agonia, benigníssimo Jesus: tende piedade de mim.
  12. Quando os últimos suspiros do meu coração instarem minha alma a que abandone o corpo, sejam-Vos eles um sinal de que quero desprender-me para estar convosco; benigníssimo Jesus: tende piedade de mim.
  13. Quando a minha alma, então a fluir-me pelos lábios, disser adeus ao mundo para sempre e deixar-me o corpo pálido, rígido e exânime, recebei a destruição deste corpo em reconhecimento do Vosso supremo domínio; benigníssimo Jesus: tende piedade de mim.
  14. Enfim, quando a minha alma comparecer diante de Vós e, pela primeira vez, contemplar o esplendor de Vossa majestade, não a lanceis para longe de vossa face, mas acolhei-me no seio de Vossa misericórdia, para que eu cante os Vossos louvores para sempre; benigníssimo Jesus: tende piedade de mim.

Oração. — Ó Deus, que para o nosso bem nos sentenciastes à morte, mas não quisestes que soubéssemos o dia nem a hora, dai-me a graça de viver justa e piedosamente todos os dias de minha vida, para que eu morra na vossa paz e no vosso amor. Por Nosso Senhor Jesus, Vosso Filho, que convosco vive e reina na unidade do Espírito Santo. Amém.

 

Oração à Santíssima Virgem para obter uma boa morte

Ó Maria, concebida sem mácula, orai por nós que a Vós recorremos. Ó Refúgio dos pecadores, Mãe dos agonizantes, não nos desampareis na hora da nossa morte, mas alcançai-nos uma dor perfeita, uma contrição sincera, a remissão dos nossos pecados, uma digna recepção do Santíssimo Viático, a fortaleza, do Sacramento da  Unção dos enfermos, para que possamos seguros apresentar-nos ante o trono do justo mas também misericordioso Juiz, Deus e Redentor nosso. Amém

 

Escolhe um dia de cada mês para consagrá-lo à meditação da morte e a preparar-te para ela com leituras piedosas e fervorosas orações. 

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