Nos dias 26, 27 e 28 de setembro, celebramos o tríduo em honra a Santa Teresinha, na Igreja da Venerável Ordem.
Durante esses dias, tivemos a graça de meditar sobre três virtudes que marcaram profundamente sua vida: a paciência, a renúncia e a confiança.
Abaixo, você pode conferir as homilias na íntegra e aprofundar-se na espiritualidade desta grande santa do Carmelo, Doutora da Igreja e mestra do amor confiante.
A paciência – Frei Marlon O.Carm
Com muita alegria, nós iniciamos hoje o tríduo preparatório para a festa solene de Santa Teresa do Menino Jesus e da Sagrada Face, esta grande santa, nossa intercessora junto de Deus.
Eu gostaria, de uma forma muito humilde, de começar esta pregação contando um pouco da minha história, para adentrarmos no tema de hoje: a devoção à Santa Teresa do Menino Jesus. Eu sei que não sou melhor do que ninguém. Nós também temos as nossas imperfeições, mas os mistérios de Deus vão agindo na nossa vida e configurando, assim, a nossa história e vocação.
Eu me recordo que tinha por volta de sete a oito anos quando tive um sonho. Eu poderia dizer que era um sonho infantil — ainda estava no período da infância — mas nunca esqueci deste sonho que marcou a minha vida, sobretudo a minha vida espiritual.
Eu sonhei que estava em um jardim, e neste jardim eu estava repleto, em volta de mim, de rosas. De repente, surge uma mulher. Essa mulher me entrega uma rosa e diz: “Você irá para o jardim da minha mãe.”
Acordei de manhã e a primeira coisa que fiz foi perguntar à minha mãe: “Mãe, a senhora tem um jardim?” Ela respondeu: “Mas por que você está dizendo isso?” Eu disse: “Porque esta noite eu sonhei com uma senhora que me entregou uma rosa. Ela tinha um véu na cabeça e disse que eu iria para o jardim da minha mãe. E a minha mãe é a senhora.”
A gente estava acostumado a ir para o sítio, para a fazenda, pois meu pai era filho de fazendeiro e minha mãe, de agricultor. Então, sempre nos fins de semana, estávamos por lá. Mas minha mãe disse que era impressão da minha cabeça, e a vida seguiu.
Quando fiz onze anos, num momento difícil que minha família enfrentava, na solenidade do Sagrado Coração de Jesus, fui rezar na igreja, fazer adoração — porque em Minas, neste dia, há toda uma programação bonita, especial.
Enquanto eu rezava, um colega bateu no meu ombro e disse: “Você não gostaria de entrar para o grupo dos coroinhas?” A primeira coisa que perguntei foi: “Mas eu não tenho roupa! Como vou fazer? Nem dinheiro para isso eu tenho.” Ele respondeu: “Não, aqui na paróquia eles dão a túnica para a gente. Após a missa, teremos uma reunião e então você pode entrar para o grupo.”
Quando entrei na sala dos coroinhas, na minha paróquia de origem, no canto da sala havia uma imagem de Santa Teresinha do Menino Jesus, mais ou menos deste tamanho, parecida com a que temos no convento. Comecei a chorar porque pensei: “Esta mulher é a mulher do meu sonho. E como ela está aqui?” Meu primeiro contato com Santa Teresinha foi desta maneira.
Depois, passando por uma dificuldade em casa, os meninos, vendo que eu tinha chorado ao encontrar aquela imagem, me deram uma novena das rosas, uma novena de Santa Teresinha. Resolvi fazê-la em segredo, porque acredito que, quando rezamos, como Jesus diz, não é necessário que os outros saibam. Às vezes, queremos fazer algo de piedade para nós mesmos, para a edificação da alma.
Já no último dia, eu estava quase como São Tomé: “Meu Deus, estou fazendo essa novena e até agora nada. Me disseram que eu ganharia uma rosa, cadê essa rosa?” Eu já ia à igreja com o interesse de recebê-la. E nada.
Naquele dia, voltei para casa. Como ninguém sabia que eu estava fazendo a novena, passei pela casa da minha avó e vi uma rosa em cima da mesa. Minha avó disse: “Foi uma mulher que pediu para deixar pra você aqui. Ela disse que é nossa vizinha, mas eu moro aqui há quarenta anos e não a conheço.” Será que era de fora? Minha cidade tem vinte mil habitantes, conhecemos praticamente todos.
No dia seguinte, recebi a graça que havia pedido a Santa Teresinha. Deus, por intercessão desta grande Santa, me deu a oportunidade de começar a minha vida de fé através desta experiência. Depois, Deus me deu a graça de ser ordenado diácono no dia 1º de outubro de 2016, também dia de Santa Teresinha, em Roma. Ou seja, há um legado especial entre esta Santa e seus filhos e filhas.
O interessante é que, quando comecei a fazer o encontro vocacional no Carmelo, uma das primeiras coisas que aprendemos foi o significado da palavra “Carmelo”, que quer dizer “jardim florido”. Aquilo me emocionou profundamente, pois me fez recordar o sonho de criança: “Você será do jardim da minha mãe.” Hoje sou carmelita, faço parte do Jardim de Nossa Senhora do Carmo.
Quis começar esta pregação contando isso, de forma humilde, não por vanglória, nem para dizer que sou melhor que ninguém. Tenho certeza de que cada um de vocês aqui presentes também tem uma história de amor e conversão.
Se fizermos um exame de consciência, perceberemos que Deus sempre esteve presente em nossa vida, também falando por meio dos seus santos.
Que a graça de Deus possa penetrar no nosso coração e transformar a nossa vida.
Quando lemos A História de uma Alma, que são os escritos de Santa Teresinha do Menino Jesus, percebemos o quanto ela cresceu na fé através dos acontecimentos da sua vida, dos sofrimentos que purificaram seu coração. Desde a tenra infância, com a perda da mãe, precisou ressignificar sua vida e confiar em Deus, para que Ele realizasse, em sua pequenez, aquilo que ela é hoje.
O tema escolhido para este primeiro dia do tríduo é a paciência. Na vida de Santa Teresinha, ela foi exercitada ao longo da sua breve existência. Santa Teresinha precisou abrir seu coração à graça benfazeja de Deus para que o amor divino acontecesse em sua vida, na de sua família, daqueles por quem rezava e, depois, no mosteiro onde viveu.
Ela fez de sua entrega um ato de amor. E que amor é este? O amor que nos aponta a doutrina da infância espiritual — ser como crianças no braço do Pai. E como somos crianças no braço do Pai? Confiando.
Infelizmente, nós católicos temos o hábito de rezar desconfiando da nossa própria oração. Repetimos pedidos por anos e, muitas vezes, somos os primeiros a não acreditar no que pedimos. Surgem pensamentos como: “Não sei por que estou rezando, isso não vai acontecer mesmo.”
Na espiritualidade teresiana da pequena via, da entrega total e do amor misericordioso, aprendemos a confiar plenamente em Deus.
Devemos confiar que Ele pode converter nosso coração e nos livrar do pecado. Mas facilmente deixamos o pecado dominar nossa existência. Vivemos num mundo marcado pelos vícios, onde o “ter” e o “poder” são conquistados a qualquer custo.
Quando olhamos para Teresa Martin, a Teresa do Menino Jesus, aprendemos a estar nos braços do Pai. Aprendemos que Deus é amor. Quem confia no amor caminha na fé, na esperança e na caridade.
O outro título de Teresinha é “da Sagrada Face”. Temos o costume de correr da cruz do Senhor. É bonito fazer Via-Sacra na Quaresma, mas esquecemos de, no dia a dia, oferecer pequenas penitências e sacrifícios pela nossa conversão e pela do povo de Deus.
Verônica enxugou o rosto de Jesus no caminho do Calvário, e a Sagrada Face ficou estampada no pano. Nós também deveríamos enxugar o rosto de Jesus — e fazemos isso pela oração. Não adianta dizer que temos vida espiritual se não rezamos, se a oração não nos transforma.
Devemos carregar a cruz com Ele, como Ele nos pede no Evangelho. Santa Teresinha nos ensina com precisão o que é isso. Devemos trazer em nós a imagem do Cristo. Sua vida foi marcada pela paciência: a morte da mãe, a entrada das irmãs no convento, o pedido ao Papa para entrar ainda menor de idade, o sofrimento com a doença do pai… tudo isso ela enfrentou com paciência e oração.
Hoje vivemos numa sociedade impaciente. Basta ver o trânsito, o ambiente de trabalho. Briga-se por qualquer coisa. Falamos muito, ouvimos pouco. Não sabemos lidar com frustrações. E isso gera ansiedade, depressão, baixa autoestima e insegurança.
Começamos e não terminamos. Compramos livros e os deixamos na estante. Iniciamos exercícios físicos e logo desistimos. Casais que antes se amavam, ao menor sinal de crise, perdem a paciência um com o outro. Tudo isso porque não cultivamos a paciência.
E a paciência nasce do silêncio, da escuta, da oração. Mas hoje nem sabemos mais fazer silêncio. No metrô, no ônibus, sempre com fones de ouvido. Não temos tempo para rezar? Mas passamos horas no WhatsApp, Instagram, olhando a vida “faz de conta” dos outros, enquanto vamos perdendo a nossa. As pessoas dizem: “Padre, minha vida espiritual está um fracasso, porque eu não tenho tempo pra nada!” E eu pergunto: quanto tempo você passou no celular hoje?
É muito grave isso. Porque assim, vamos perdendo a beleza da fé, a piedade, a essência da nossa natureza humana. Vamos nos desconectando daquilo que temos de mais sagrado.
Nesta semana — melhor dizendo, no final da semana passada — tivemos a eleição do novo Prior Geral da nossa Ordem Carmelita. O Capítulo Geral foi encerrado hoje, na Indonésia. E as palavras do nosso novo Padre Geral, Padre Desidério, foram claras: “Contemplação! Carmelitas, voltem à contemplação!” E como voltamos à contemplação? Retornando à nossa vocação a Deus. Retornando àquilo que temos de mais belo e sagrado em nós: a presença de Deus.
É isso que os santos nos ensinam. É isso que Teresa do Menino Jesus e da Sagrada Face nos ensina: a sermos pacientes, porque sua vida foi um exercício constante de paciência.
Nos últimos nove meses de sua vida, ela sofreu terrivelmente. Passou por uma secura espiritual intensa, mas isso não a impediu de renovar sua vida e se entregar plenamente a Deus. E é por isso que, até hoje, ela faz cair sobre nós uma chuva de rosas. Porque a paciência gera esperança — e a esperança não decepciona.
É por isso que caminhamos rumo à santidade. É por isso que caminhamos para o céu. É verdade que temos que andar olhando o chão que pisamos, mas não podemos esquecer, de vez em quando, de olhar para o céu. Porque, quando olhamos para o céu, temos a certeza: é para lá que eu quero ir, é lá que eu quero estar.
Mas, para chegar até o céu, é necessário primeiro passar por esta terra, este vale de lágrimas. E podemos fazer deste vale uma oportunidade de santificação e conversão de vida.
Como tem sido a minha relação com Deus? Tenho tido paciência na minha vida cotidiana, nas minhas orações, na minha família, no meu trabalho, na minha vocação religiosa? O que tenho feito para que a graça de Deus esteja cada vez mais em mim? Estou, de fato, colocando em prática aquilo que o Senhor espera de nós?
Somos imagem e semelhança de Deus. Jamais nos esqueçamos disso. E nós, que somos devotos dessa querida Santa, possamos trazer o seu testemunho para dentro de nós: sermos como crianças nos braços do Pai e termos, estampada em nosso coração, a Face Sagrada e Misericordiosa de Jesus Cristo, nosso Senhor.
Que Deus nos ajude a termos essa paciência que, desde criança até os seus 24 anos, Teresa foi cultivando em sua vida, até se tornar aquilo que ela é para a Igreja no dia de hoje.
E não nos esqueçamos jamais de suas palavras: “A nossa vida é um brevíssimo segundo.” Por isso, vivamos o hoje, busquemos o céu.
Amém!
A renúncia – Frei Evandro OFMcap
Queridos irmãos e irmãs, o tema desta noite é a renúncia de Santa Teresinha. E, fortalecidos pela graça de Deus que nos deu os santos, possamos também com eles — com os santos, com Santa Terezinha — trilhar este caminho de renúncia que nos leva para o céu, que nos conduz para Deus.
Portanto, queridos irmãos e irmãs, não podemos ter medo de ir para Deus. Se temos fé, se somos filhos e filhas, batizados, se recebemos a semente do Espírito do Senhor e somos feitos templos, não podemos ter medo de ir até Deus, diante de quem se fez criança, diante de quem se tornou homem para nossa salvação.
A renúncia de Santa Teresinha está fortalecida, clara e verdadeiramente, na renúncia do próprio Deus. Recordar o céu é a arte do bem morrer, e também é a arte do bem viver. Porque quem vive uma vida de renúncia sabe como morrer, e quem vive uma vida de renúncia sabe como viver.
Morrer para viver. Para que Deus seja tudo em nós, para que Deus seja tudo em todos, é preciso não possuir nada: nada neste mundo, nada na vida, nada em qualquer coisa que seja.
A renúncia de Santa Terezinha é iluminada pela graça da entrega total, do abandono, da generosidade a Cristo Jesus, e com uma confiança através da sua pequena vida — o amor, a entrega, a graça e a misericórdia de Deus.
Queridos irmãos e irmãs, nos tornar como crianças: isso sim é o pedido de Deus. Abandonando nosso orgulho e nossa vaidade, para esquecermos de nós e nos lembrarmos do Senhor. Enchermos de confiança, desapegando-nos da vaidade, das coisas humanas e das realidades da vida.
Se olharmos para o mundo, como caminham os homens, como caminham as mulheres, e principalmente neste templo, podemos ver que estão sempre cheios de si. E os santos, pela renúncia — e hoje, Santa Terezinha — nos ensinam que devemos nos esvaziar de si.
Essa é a renúncia.
Se queremos ser de Deus, é preciso se esvaziar. Se queremos ser de Deus, é preciso se abandonar. Se queremos ser de Deus, é preciso renunciar — principalmente ao pecado, à vaidade, aos apegos, aos ciúmes, à inveja, às realidades humanas.
Passar pela pequena via, que é a via do amor a Deus sobre todas as coisas, o amor ao próximo, esquecendo-se de si, e o amor a si mesmo — para que a graça divina em nós, pelo batismo, nos santifique. E, a partir daí, encontramos a vida, a vida eterna.
Se não renunciarmos a nós, às nossas feições, se tornará mais difícil a nossa caminhada para Deus, a nossa caminhada para o Cristo. E encontrar a vida eterna… se tornará mais difícil.
A vida de Santa Terezinha é marcada pelo abandono a Deus e pelo abandono de si a Deus — na pobreza de Jesus e na fraqueza de si mesma. Desta maneira, ela se torna dependente do amor e da misericórdia. É como aquela alma vazia, com a imagem de duas mãos estendidas, em que Nosso Senhor do Céu derrama todas as graças necessárias e abundantes àquele que não possui nada para si, mas se esvaziou de tudo para que Deus seja tudo.
Caminhar com confiança e humildade. Essa é a palavra-chave para nós: humildade. O mundo está cheio de orgulho, mas nós precisamos caminhar na humildade. E essa humildade vai nos ajudar a renunciar. O orgulho não ajuda na renúncia. O orgulho se infla de cobiça.
Portanto, irmãos e irmãs, se Deus nos dá tudo, se Deus nos provê tudo, se Deus nos sustenta e garante tudo… Quantas vezes nós, desorientados, perdemos o rumo, saímos do caminho, não mais olhamos para a cruz, não mais olhamos para Jesus?
Às vezes, também pode nos impedir de receber Jesus na comunhão. E bem! E vazios de si!
Queridos irmãos e irmãs, não sejamos aflitos. Trilhamos o caminho dos santos e de Santa Teresinha, porque sentimos nossa alma atribulada, às vezes confusa e meio enganada, em meio às turbulências da vida.
A realidade do mundo, a realidade dos homens que não buscam ser santos, que não buscam a santidade…
Portanto, estamos neste caminho. E este caminho é para ser trilhado.
O nosso maior exemplo é o nosso Deus, que de tudo se fez nada, para nos dar tudo. De Deus se fez homem para nos enriquecer, e de homens, voltarmos para Deus.
Santa Teresinha encontrou o seu caminho e a sua vida. Encontremos também o nosso caminho, a nossa via: o Cristo de braços abertos, capaz de nos engrandecer com as suas graças, onde se dissipa o ódio, o medo e a desconfiança.
Pela renúncia, quando a Igreja nos ensina a jejuar, a penitenciar, a renunciar, é porque sabe que nossa alma será fortalecida para encontrarmos com Cristo.
É confiantes em Cristo que devemos ir a Ele, permanecer com Ele, depender d’Ele, sermos d’Ele. É isso que faz a renúncia.
Se a demora dói, a oração consola.
Se o silêncio, às vezes, nos angustia, o sacramento nos alivia.
Não é isso?
Quantas dores sofremos?
Quantas penitências fazemos?
Quantas aflições, às vezes, se abatem sobre nós?
É diante do Cristo, feito criança, o Cristo, mistério de Deus, que nos consola e nos ajuda a renunciar, a esvaziar e a confiar.
Santa Teresinha nos ensina que, pela renúncia, entregamos tudo a Ele. Tornamo-nos como almas que estão disponíveis para a cruz, disponíveis para o sofrimento, disponíveis para receber o amor divino.
É por isso que se faz necessário renunciar. Porque quem se enche de si, não se encontra com o Altíssimo, e produz dificuldades, impedimentos.
Aceitar a cruz, e as pequenas cruzes e contrariedades do dia a dia — a renúncia do orgulho, do pecado, do mal, da mentira, da discórdia — são caminhos para a via da santidade, são caminhos para a via da graça.
Portanto, irmãos e irmãs, ao ponto de alcançarmos a conversão tornando-nos crianças.
“Quem não for semelhante a essa criança”, disse Jesus, “não entrará no Reino dos Céus.”
E tornar-se como uma criança significa esvaziar-se de si mesmo, fugir de toda maldade e loucura deste mundo e desta vida, e olhar para Jesus.
Sermos como uma criança que confia verdadeiramente tudo aos seus pais, desprendida do mundo, da sua própria vida e segurança, de todas as coisas, e ir ao encontro dos braços abertos daquele que ama e acolhe — como Santa Teresinha confiou e depositou a sua vida em Jesus.
É isso que devemos fazer.
É isso que precisamos entender.
Queridos irmãos e irmãs, na via da santidade, Santa Terezinha — que viveu a renúncia do seu modo, alcançando Cristo e acolhendo o mistério da vida eterna — escolhe bem os seus amigos.
Se queremos trilhar uma vida de perfeição, de renúncia e de graça, escolhamos também os nossos amigos:
- Amigos que renunciam,
- Amigos que têm fé,
- Amigos que servem a Deus,
- Amigos que têm boas intenções,
- Amigos que se dedicam ao Reino,
- Amigos que buscam a via do amor.
Caso contrário, meus queridos irmãos e irmãs, só encontraremos não vias de graça, mas vias de confusão.
Deus, portanto, nos dá santos a seu tempo. E nos deu Santa Teresinha, uma imagem luminosa da graça do Senhor Deus Altíssimo, que, através da sua entrega total, nos ensina a abandonar os desejos do mundo para nos consagrarmos ao amor do Cristo — pela via da santidade e da castidade.
Ser obediente. Escutar o Cristo. Não escutar o mundo.
E é dessa forma, a exemplo de Santa Teresinha, oferecer todos os atos, desejos, vontades, virtudes — até nossas misérias — a Jesus Cristo.
Unindo os nossos sentimentos e o nosso mísero amor, o pequeno amor que temos por Ele, para nos tornarmos crianças a Ele, que é a fonte e a satisfação da nossa alma.
É isso que nos torna crianças, que nos torna fiéis, que nos faz ser homens e mulheres de corações santos, puros, sinceros e verdadeiros, para encontrarmos em Jesus a vida, a vida eterna — não apenas lá no céu, mas o sentido de tudo que fazemos, nos movemos e somos já aqui neste mundo.
E que Santa Teresinha nos ajude a termos essa experiência com Jesus.
Esvaziarmo-nos de tudo: do nosso egoísmo, da nossa vaidade.
E como almas de mãos abertas, deixar cair do céu — deixar Jesus enviar as suas graças necessárias para que saibamos renunciar, para que sejamos servos e servas do amor e da verdade.
Louvado seja o Nosso Senhor Jesus Cristo.
A confiança – Frei Lyon O.Carm
Chegamos à terceira noite do nosso tríduo em preparação à festa de Santa Teresinha do Menino Jesus. Fazer uma novena, fazer um tríduo, é um momento de retiro espiritual. Cada noite foi proposto um tema, e o tema desta noite é a confiança.
Vamos aprofundar na confiança, sob a ótica e a experiência de Santa Teresinha do Menino Jesus e da Sagrada Face.
Em 2023, em comemoração aos 150 anos do nascimento de nossa flor do Carmelo, o Papa Francisco, grande devoto de Santa Teresinha, lança a exortação apostólica intitulada “Só a Confiança”. Só a confiança, e nada mais que a confiança.
Lembramos o que diz o apóstolo Paulo: “Quando sou fraco, então é que sou forte.” A confiança é a força de Santa Teresinha do Menino Jesus na pequena via, no caminho.
Como podemos viver o amor sem confiança? A gente só confia em quem a gente ama. E o amor de Santa Teresinha por Nosso Senhor Jesus Cristo era tão grande que ela chega a essa experiência da confiança e do abandono em Nosso Senhor.
Como viver sem confiança e sem esperança? É impossível. A esperança não decepciona, e a confiança em Deus nos aproxima cada vez mais d’Ele e dos outros.
A confiança, quando total, enraizada no amor, não gera dúvida. Confiar em Deus é cantar sempre, dentro de nós, o cântico do Bom Pastor. Mesmo nas noites escuras da vida, nos desertos espirituais, devemos lembrar, como diz Teresinha: confiança e abandono.
Santa Teresinha chega a um grau de confiança tão grande em Nosso Senhor que diz: “Eu queria ser uma bolinha na mão do Menino Jesus.” Poderia ser qualquer outro brinquedo, chique, caro… mas ela não. Ela diz: “Eu quero ser uma bolinha, para alegrar o Menino Jesus e para que Ele faça de mim aquilo que Ele deseja.” Só a confiança — e nada mais — nos conduz ao amor.
A confiança daquela adolescente que, quando ninguém mais acreditava que ela poderia entrar no Carmelo e lhe disseram: “Vai falar com o Papa”, ela foi ao Santo Padre, numa época em que não era permitido falar com ele. Beija as mãos e os pés de Leão XIII e diz: “Santo Padre, quero entrar no Carmelo.”
O encontro de uma francesa com um italiano que não entendia o que aquela jovenzinha queria. Um sacerdote intervém e diz: “Santo Padre, é uma criança que quer entrar no Carmelo.” E o Papa Leão XIII se inclina até Teresinha, numa atitude de acolhida e escuta, e diz: “Fazei o que os vossos superiores decidirem.”
E a confiança de Teresinha não decepcionou. Manteve-se em oração, esperando a licença, e obteve-a aos 15 anos, graças à sua fé e confiança em Nosso Senhor Jesus Cristo.
Mais tarde, ao escrever História de uma Alma, ela destaca a palavra bússola, dizendo que os superiores são como bússolas que nos conduzem ao céu. O que ela ouviu do Santo Padre colocou em prática, obedecendo e confiando em Deus também por meio dos superiores.
Ela escreve uma carta à Irmã Maria do Sagrado Coração de Jesus, dizendo:
“Ah, fiquemos muito longe de tudo o que brilha. Amemos nossa pequenez. Gostemos de nada, de sentir então que somos pobres. E Jesus virá procurar-nos, por mais longe que estejamos. Ele nos transformará em chamas vivas de amor.”
Fujamos do extremismo do aparecer. Que Nosso Senhor reine, e nós desaparecemos. É a confiança, só a confiança, que deve nos levar ao amor. Confiança e abandono. Confiar em Deus e se abandonar em sua infinita misericórdia.
Lembremos que cada dia é um pequeno passo, e cada passo, uma pequena vitória. Talvez não tenhamos a possibilidade de sermos grandes pregadores, de sermos missionários que atravessam oceanos, mas na nossa realidade, confiando em Deus, podemos cumprir com amor a missão que Ele nos confiou.
Santa Teresinha ilustra a confiança com a analogia do elevador: a confiança em Deus é o único caminho para a salvação. Não são os méritos que nos conduzem ao céu, mas o total abandono no amor misericordioso de Nosso Senhor.
Foi a confiança em Deus que lhe deu coragem para lutar por sua vocação. Foi a confiança em Deus que a ajudou a vencer inúmeros desafios ao longo da vida: nos relacionamentos, no trabalho e nas atividades dentro do Mosteiro de Lisieux.
Filha de santos — Santa Zélia e São Luís Martin —, perdeu a mãe muito cedo, com apenas quatro anos, mas confiou-se à Virgem Maria.
Santa Teresinha sonhava em ser missionária, apóstola, ser tudo. “Eu escolho tudo”, como dizia. E no claustro da clausura, entre o parlatório e a capela do Mosteiro de Lisieux, tornou-se padroeira das missões, sem nunca sair de casa.
No ano passado, fomos agraciados com a visita das relíquias de Santa Teresinha do Menino Jesus.
Uma santa pequena, humilde, que rejeitava o extremismo, mas cujo testemunho de vida ecoa até hoje por toda a humanidade. Suas relíquias rodam o mundo inteiro: é a chuva de rosas que ela prometeu, alcançando graças a todos que lhe pedirem, pois ela mesma disse:
“No céu não ficarei ociosa. Olharei para todos os que pedirem a minha intercessão.”
Por obediência, escreve sua experiência espiritual, que leva o título de História de uma Alma. A obra já foi traduzida para mais de sessenta idiomas e é impossível determinar o número exato de edições. Devia ser o nosso livro de cabeceira.
Quando estivermos em dificuldade, recorramos a essa santinha que não aponta para si, mas aponta para o amor misericordioso de Jesus.
Com apenas 24 anos, viveu uma vida curta, porém profunda, com grande experiência com Deus. Compôs músicas, poesias, escreveu peças de teatro, pintou casulas, foi mestra de noviças, sacristã.
Conhecendo a grandeza da águia — uma das mais belas aves — ela disse:
“Já que eu não posso ser uma águia, serei um passarinho nas mãos do meu Senhor, para agradá-lo, para lhe roubar sorrisos, para alegrar o Menino Jesus.”
Ela colocou sua confiança em Nosso Senhor — e foi feliz.
Já no fim da vida, acometida pela tuberculose, uma doença incurável em sua época, jamais reclamou. Confiava-se, a todo tempo, na intercessão de Maria, a quem venerava como Nossa Senhora da Alegria.
E uma de suas últimas palavras foi: “Não morro, entro na vida.”
Uma vida sem sofrimento, onde se contempla a face de Deus, dos anjos e de Nossa Senhora. E, como ela prometeu, “Mandarei uma chuva de rosas”.
Essas rosas continuam a cair sobre o mundo inteiro, pois Santa Teresinha é venerada entre católicos e não católicos, conhecida por cristãos e não cristãos. Sua obra lhe rendeu o título de Doutora da Igreja, com uma única obra: História de uma Alma.
Que possamos, meus irmãos e irmãs, ao concluir este tríduo, olhar para essa santa tão jovem, tão pequena — cerca de 1 metro e 50 de altura, olhos azuis, cabelos cacheados, que repousa no relicário do Mosteiro de Lisieux, na França.
Mas nessa pequenez, foi imensa. Buscou o escondimento, o silêncio e o total abandono e confiança em Nosso Senhor.
Que também nós possamos nos abandonar e confiar na infinita misericórdia do Pai. Nos momentos de aflição, recorramos a Jesus, à Nossa Senhora e à intercessão de Santa Teresinha do Menino Jesus.
Um lar santo: seus pais foram canonizados em 2015 pelo Papa Francisco — Santa Zélia e São Luís Martin. Uma de suas irmãs, Irmã Leônia, está em processo de beatificação. A única que não se tornou carmelita, tornou-se Irmã Visitandina.
Ao longo dos anos, homens e mulheres, conhecendo a doutrina da Pequena Via, se aproximam de Jesus. Santa Teresinha é a santa das grandes conversões.
Irmã Leônia, a quem Teresinha chamava de “minha irmã difícil”, foi três vezes ao convento e voltou. Mas na terceira vez, perseverou — e ficou.
Que a nossa vida, mesmo com suas noites escuras e dificuldades, possa olhar para a vida dos santos e dizer: “Eles conseguiram, e agora intercedem por mim. Então eu também posso conseguir.”
Porque ser santo é fazer com amor aquilo que nos foi confiado.
Que a confiança e o abandono, tão bem vividos por Santa Teresinha, sejam para nós um impulso de coragem, para nos confiarmos cada vez mais em Nosso Senhor Jesus Cristo, pela intercessão de Nossa Senhora do Carmo.
Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo.
Para sempre seja louvado.