O Advento inaugura o ano litúrgico e nos conduz a um dos mistérios centrais da fé: a vinda de Cristo.
Neste artigo, veremos o que a Igreja ensina sobre esse tempo, sua origem histórica, seus símbolos, seu papel no calendário litúrgico, o significado das cores, o sentido dos quatro domingos, a relação entre advento e a vida espiritual e como vivê-lo bem.
É um período marcado pela vigilância, pela esperança e pela preparação interior, não apenas para recordar o nascimento de Cristo em Belém, mas para acolher sua presença hoje e aguardar, com fé, sua vinda gloriosa no fim dos tempos.
O que é o advento?
O Advento é um tempo de preparação ativa. A Igreja contempla dois movimentos inseparáveis:
- A primeira vinda de Cristo, no mistério da Encarnação.
- A segunda vinda, na qual o Senhor retornará em glória para julgar os vivos e os mortos.
Por isso, o Advento não é um período de nostalgia, mas de sobriedade e vigilância. A fé que olha para Belém também olha para a eternidade.
A Igreja recorda que a espera do Messias acompanha toda a história da salvação: patriarcas, profetas e o povo de Israel viveram essa esperança antes de sua realização em Cristo. No Advento, o cristão se une espiritualmente a esse povo que “esperava o libertador prometido”.
Num mundo que rejeita a espera e busca resultados imediatos, o Advento nos educa para a paciência, o silêncio interior e a conversão. É o tempo em que o cristão pergunta: como preparo o meu coração para acolher Aquele que vem?
A origem do advento
As raízes do Advento remontam aos primeiros séculos. Antes de se fixar como preparação para o Natal, ele esteve ligado à preparação para a Epifania, quando os catecúmenos eram preparados para o Batismo.
Com o passar dos séculos, a Igreja estruturou as quatro semanas de espera como as conhecemos hoje, um itinerário espiritual voltado tanto para o nascimento de Cristo quanto para sua vinda gloriosa.
No plano teológico, o Advento ecoa o “anseio messiânico” do Antigo Testamento. Cada profecia, cada promessa feita ao povo eleito, encontra no Advento sua atualização litúrgica. Assim, a Igreja vive um tempo de expectativa que é histórica, espiritual e escatológica.
O propósito continua atual: preparar o interior para encontrar Cristo, ontem, hoje e sempre.
As cores litúrgicas do advento
A liturgia utiliza duas cores ao longo do Advento:
Roxo — a cor da vigilância: Usado na maior parte do tempo, o roxo expressa penitência, sobriedade e a atitude de quem se prepara para algo grandioso. No Advento, essa cor tem caráter menos penitencial que na Quaresma e mais relacionado à espera atenta.
Rosa — a cor da alegria: Utilizada apenas no terceiro domingo do advento, o domingo Gaudete, ela anuncia que a espera já se ilumina pela proximidade do Natal. É um sinal de esperança: o Salvador está perto.
O advento no ano litúrgico: um caminho em quatro domingos
O Advento inaugura o ciclo litúrgico e se estende do domingo mais próximo de 30 de novembro até a véspera do Natal.
Nesse período, a Igreja conduz os fiéis por quatro domingos, que formam um verdadeiro itinerário espiritual — uma ascensão que parte da vigilância e culmina na contemplação do mistério da Encarnação.
Cada domingo acende uma nova luz no caminho da espera cristã, revelando uma dimensão própria da preparação para a vinda do Senhor.
1º Domingo – Vigilância: No primeiro domingo, a liturgia desperta o fiel do torpor espiritual e recorda com firmeza: Cristo virá. Somos chamados à vigilância, à lucidez interior e ao abandono das distrações que nos impedem de perceber a presença de Deus na história.
2º Domingo – Conversão: O segundo domingo é marcado pela figura de João Batista, cuja voz ressoa como no deserto: “Preparai o caminho do Senhor”.
Aqui, o Advento assume seu caráter mais exigente: a conversão real do coração. Sem arrependimento, não há verdadeira preparação.
3º Domingo – Alegria (Gaudete): No terceiro domingo, a liturgia suaviza seu tom com o Domingo Gaudete. A cor rosa anuncia que o Senhor está próximo e que a salvação não é apenas uma promessa distante, mas uma alegria que já desponta.
É a alegria da esperança, fundada na certeza da presença de Deus que vem ao nosso encontro.
4º Domingo – Contemplação e Disponibilidade: O último domingo nos aproxima intimamente do mistério da Encarnação. A liturgia apresenta a fé de Maria e José, que acolheram o plano divino com confiança.
Este é o domingo da disponibilidade, da docilidade interior, do coração que diz com a Virgem: “Faça-se em mim segundo a tua palavra.”
O advento e a vida espiritual
O Advento é um período para repensar a vida espiritual. Ele nos lembra que Cristo vem ao nosso encontro não apenas no Natal, mas em cada sacramento, em cada oração, e, de modo definitivo, no fim dos tempos.
A experiência cristã do Advento envolve:
- Silêncio diante do excesso de ruídos externos.
- Oração como escuta da vontade de Deus.
- Vigilância para evitar a indiferença espiritual.
- Conversão como resposta concreta ao Evangelho.
- Esperança que sustenta a vida no tempo presente.
O Advento educa o coração a viver no tempo com os olhos fixos na eternidade.
Advento: tempo de esperança teologal
A esperança cristã não é otimismo nem espera passiva. É confiança firme em Deus, mesmo quando tudo parece contrário.
O Advento recorda que esta esperança tem um fundamento real: Cristo virá.
Ao longo dessas semanas, a Igreja reacende essa virtude, ensinando-nos a olhar para a história com confiança, a enfrentar dificuldades com coragem e a aguardar o encontro definitivo com Cristo como a grande promessa da fé.
Como viver bem o advento
Viver bem o Advento não significa multiplicar atividades, mas aprofundar a vida interior. Entre as práticas essenciais estão:
- Silêncio e oração diária: Criar espaço para que Deus fale ao coração.
- Caridade concreta: Ajudar quem precisa, com gestos reais.
- Confissão: A conversão é o eixo central do Advento.
- Leitura espiritual: Textos bíblicos e meditações que iluminam o mistério da vinda de Cristo.
- Sobriedade interior: Evitar excessos e dispersões que impedem a preparação espiritual.
O Advento não é um convite ao sentimentalismo, mas à fidelidade.
É o tempo litúrgico que nos pergunta: estamos realmente preparados para acolher Cristo?
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