A ausência paterna: suas consequências na vida emocional do filhos
Hoje em dia, a família é uma das realidades mais deturpadas e atacadas, e a ausência paterna é um dos reflexos mais evidentes desse ataque. A sociedade atual tem se empenhado em destruir tudo o que corresponde à ordem natural, para que, uma vez removidos os fundamentos nos quais se apoia a ordem sobrenatural, esta também se desfaça em pedaços.
Esse esforço para desmantelar a família, que é a célula da sociedade e da Igreja doméstica, é evidente. Segundo o IBGE, o número de divórcios no Brasil bateu recorde, chegando a 420 mil casos. Em 2022, houve um aumento de 8,6% em comparação a 2021, saltando de 386 mil para 420 mil.
Porém, ao considerarmos uma correta concepção de família, percebemos que os dados não se reduzem apenas a números. Seguindo a doutrina de Santo Tomás de Aquino, a família é definida como uma comunidade natural formada pela união matrimonial indissolúvel entre um homem e uma mulher, ordenada para a procriação e educação dos filhos, bem como para o apoio mútuo dos cônjuges. É uma instituição fundamental que garante o bem-estar dos seus membros, através da autoridade dos pais e da honra e obediência dos filhos, constituindo a base essencial para a sociedade humana.
A destruição da família implica na substituição da instituição matrimonial por uniões passageiras (concubinato, ajuntamento, etc.), divórcio, aborto, legalização da homossexualidade, entre outros. Um dos resultados desses ataques à família é a decomposição da figura paterna.
Continue lendo para entender o impacto dessa decomposição, o que é a figura paterna e como ela tem sido enfraquecida nos dias de hoje.

O que você encontrará neste artigo?
- A Figura As partes
- O que é um pai ausente?
- Principais consequências da ausência paterna
- Conheça a Ordem Terceira
A Figura paterna
Para entender a figura paterna, é necessário compreender três verdades sobre ela. A primeira é que a paternidade é uma realidade de ordem natural, ou seja, não foi uma invenção humana. Ela é essencial para a sociedade humana e insubstituível para a ordem social.
A segunda verdade é que a paternidade também é um dom, uma vocação divina, e, consequentemente, uma responsabilidade diante de Deus, pois o filho é um dom de Deus, e todo pai responde diante de Deus pelos seus filhos. Se de Caim foi exigido o sangue de seu irmão, o que não exigirá Deus daqueles a quem associado ao Seu poder criador através da paternidade biológica?
A terceira verdade é que toda a paternidade vem de Deus; portanto, aprenda a ser pai na escola de Deus Pai. O padre José Kentenich, em seu livro En las manos del Padre , dizia:
O pai humano é, em todos os sentidos (de acordo com sua vocação e conforme suas possibilidades), o mais maravilhoso reflexo do eterno Pai Deus e o mais direto, ainda que ocorram distorções nesse reflexo, que, segundo a lei psicológica da transferência de afetos , também se aplica a Deus. É protetor, então, examine as qualidades do Pai eterno e medite sobre como essas qualidades podem ser aplicadas também ao pai humano.
O pai toma algumas características de Deus Pai e está relacionado com o modo como um pai terreno deve ser. Dentre eles, podemos citar:
- Deus é onipresente: portanto, apesar de o pai humano não poder estar em todas as partes, ele deve tentar estar presente na vida de seus filhos o quanto for possível, seja afetivamente, fisicamente, psicologicamente, etc.
- Deus é onisciente : por isso, o pai, na medida do possível, deve saber o que diz respeito aos seus filhos, desenvolvendo um conhecimento particular de cada um: sua identidade, seus problemas, suas aspirações, seus ideais, etc.
- Deus é misericordioso e justo: assim, os pais devem aspirar a ser justos, mas também saber perdoar, ter uma mão de ferro, mas com uma luva de seda.
Assim como Deus Pai nos sustenta no Ser, e dependemos Dele, de modo analógico, o filho depende da figura paterna tanto para se desenvolver quanto para manter sua saúde psicológica.
Entretanto, apesar dessa necessidade, o que vemos hoje em dia é uma forte ausência dos pais na vida dos filhos. Grande parte das crianças da nossa sociedade atual tem o pai ausente.
O que é um pai ausente?
São João Paulo II disse, durante sua visita ao Brasil, aos jovens no estádio do Maracanã, que por causa do “amor livre”, “no Brasil há milhares de filhos órfãos de pais vivos”.
De fato, segundo dados da Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais (Arpen-Brasil), em 2023, dos 2,5 milhões de nascidos no Brasil, 172,2 mil têm pais ausentes, uma quantidade 5% maior que a registrada em 2022, de 162,8 mil. Segundo pesquisa baseada nos dados da PNADC (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua) do 4º trimestre de 2022, dos 75,3 milhões de domicílios existentes no Brasil, 14,9% (11,3 milhões) tinham como pessoa de referência mães solo.
Entretanto, não podemos reduzir os “pais ausentes” apenas aos dados apontados acima. Muitas vezes, o pai ausente não é somente aquele que se separou do cônjuge, mas também aquele que, mesmo morando na mesma casa que o filho, não contribui para a educação da prole, prejudicando a vida dos filhos e afetando várias esferas de sua formação, como a vida afetiva e o amadurecimento da própria imagem.
Por conseguinte, é fundamental refletirmos sobre as consequências dessa ausência paterna, tanto física quanto emocional, e como ela impacta profundamente o desenvolvimento das crianças e adolescentes.
Principais consequências da ausência paterna
Nas últimas décadas, este tema interessou a muitos psicólogos e sociólogos, e algumas conclusões alcançadas são de grande utilidade.
O livro “Growing Up with a Single Parent: What Helps, What Hurts”, de Sara McLanahan e Gary Sandefur, oferece uma análise abrangente sobre o impacto da criação por um único pai sobre os filhos, baseada em vários parâmetros e dados de pesquisa. Eles concluíram:
Comparados com os adolescentes de condição similar que são criados por dois pais em casa, os adolescentes que crescem separados de um de seus pais durante parte de sua infância têm o dobro de probabilidade de fracasso escolar no ensino secundário, o dobro de probabilidade de ter um filho antes dos 20 anos e é 1,5 vezes mais provável que se dediquem a vagar — sem frequentar a escola nem ter um trabalho — em torno dos 18-20 anos.
Há um trabalho realizado na Suécia pelo sociólogo Duncan Timms (da Universidade de Estocolmo). Trata-se de um acompanhamento de 18 anos de todas as crianças nascidas na Suécia em 1953 (cerca de 15.000). Cada uma delas foi submetida a um psicodiagnóstico em intervalos regulares.
“Os que apresentaram maior grau de disfunção psicológica foram meninos nascidos de mãe solteira e que cresceram sem pai. Convergem com essas conclusões os resultados de um acompanhamento de mais de 17.000 menores de 17 anos realizado nos Estados Unidos pelo National Center for Health Statistics (1988): o risco de disfunção psicológica (problemas emocionais e/ou de conduta) é significativamente mais alto para crianças que cresceram sem pai (entre 2 e 3 vezes mais alto).”
O pai é fundamental para o desenvolvimento de diversas áreas da criança, como a maturação afetiva, o respeito à autoridade, o desenvolvimento psicosexual e a formação da imagem de Deus.
Como a Ausência Paterna Afeta a Maturação Afetiva do Filho
O pai é crucial para o processo de maturação afetiva do filho. Segundo o professor Aquilino Polaino-Lorente, a ausência paterna resulta na falta de uma presença necessária, levando a diversos transtornos psicopatológicos. A falta de interação entre pai e filho pode causar déficits no desenvolvimento emocional, cognitivo e social da criança.
O mesmo oferece um marco normativo que ajuda a criança a entender a realidade e a superar desejos instintivos, além de contribuir com apego, ternura e afeto para a formação da personalidade do filho. A presença do pai proporciona segurança e autoconfiança, fundamentais para o crescimento da autoestima.
A sua ausência pode levar a insegurança, imaturidade e dificuldades em assumir responsabilidades futuras. A família, para ser completa, requer a presença simultânea dos genitores.
Formação do respeito à autoridade
A presença e o papel do pai são fundamentais para a formação do respeito à autoridade. A autoridade masculina em casa é necessária para controlar excessos e ensinar autocontrole, especialmente durante a adolescência. A ausência da mesma pode levar à desorganização social e caos na vida dos jovens.
O pai, responsável por prover o necessário para a família, oferece um modelo com o qual os jovens se identificam. Sem esse modelo, outros menos exemplares podem ocupar o vazio, como líderes de gangues.
A ausência paterna e os seus efeitos no desenvolvimento psicossexual
Graças à relação com o pai, tanto o menino quanto a menina afirmam sua identidade sexual. A ausência ou rejeição da função paterna pode levar ao desprezo pela diferença de sexos e à valorização da ideologia homossexual. Joseph Nicolosi, em seu livro “Guia para Pais sobre como Prevenir a Homossexualidade”, observa que muitos de seus pacientes homossexuais sentiam que seus pais não tinham nada a oferecer. Ele enfatiza que os filhos não precisam de terapia, mas da presença ativa e positiva do pai.
A presença ativa e positiva do pai é fundamental para a saudável maturação da identidade sexual dos filhos, sejam eles meninos ou meninas. Em seu comentário ao livro de Mons. Paul Cordes, “O Eclipse do Pai”, Juan Manuel Burgos resume as características e contribuições positivas que Cordes atribui à paternidade:
- Ruptura da unidade mãe-filho: A unidade entre mãe e filho é essencial, tanto fisicamente quanto espiritualmente, mas não deve ser absoluta. O pai desempenha um papel crucial ao romper essa exclusividade, ajudando o filho a se abrir ao mundo e a mãe a evitar possessividade.
- Formação da identidade do filho: O pai é fundamental para a formação da identidade do filho, oferecendo fortaleza, sabedoria e companhia, elementos essenciais para que o filho aprenda a se inserir no mundo e desenvolver sua identidade como homem.
- Identidade sexual e modelo paterno: O pai serve como um modelo de referência para a identidade sexual do filho, especialmente para os meninos, ensinando valores como força e controle. Para as filhas, o pai ajuda a fortalecer sua feminilidade ao se contrapor à masculinidade dele.
Sobre este último ponto, Aurora Pimentel acrescenta:
Uma jovem educada sem um pai tem menos segurança em si mesma, baixa autoestima, exige muito menos dos homens e, ao contrário, cai no primeiro espejismo ou promessa de amor esporádico. Quando uma jovem não pode confiar e amar o primeiro homem de sua vida — seu pai —, o resto de suas relações resultará danificado.
Formação da imagem de Deus
A ausência paterna traz sérias consequências no plano espiritual e teológico. A teoria freudiana do complexo de Édipo, segundo os estudos do Dr. Paul Vitz, não justifica suficientemente que os homens, por projeção da dramática e conflituosa relação com seu pai, inventem a ideia de Deus. No entanto, ela se mostra interessante para explicar como homens que têm uma relação penosa com seu progenitor acabam projetando uma ideia negativa de Deus, e até mesmo negando a existência Dele. O próprio Freud reconhece os inúmeros casos de jovens que perdem a fé religiosa assim que a autoridade paterna desmorona para eles.
Esta é uma verdade fundamental que apenas aplica um princípio básico: o sobrenatural se enraíza no natural; a ordem inferior (natural) é expressão, meio e proteção para a superior.
Conheça a Ordem Terceira
A Ordem Terceira do Carmo, localizada no coração de São Paulo, é uma instituição dedicada a promover e vivenciar os valores e a espiritualidade carmelitana. Com uma trajetória marcada pelo compromisso com a formação espiritual, a Ordem busca oferecer uma experiência autêntica e profunda do carisma carmelitano, especialmente por meio das mídias sociais. Conheça a nossa programação em nosso canal do YouTube.