AGOSTO – MÊS DAS VOCAÇÕES

O mês de agosto foi eleito o mês das vocações, no Brasil, desde 1981. Naquela oportunidade, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), em sua 19ª Assembleia Geral, instituiu agosto como o Mês Vocacional. O objetivo principal era o de conscientizar as comunidades da responsabilidade que compartilham no processo vocacional.

Assim, para cada domingo do mês de agosto, é celebrada uma determinada vocação. No primeiro, celebra-se sacerdócio e os ministérios ordenados; no segundo, o matrimônio junto à semana da Família; no terceiro, a vida consagrada, e por fim, no quarto, a vocação dos Leigos.

O que você encontrará neste artigo:

  • Mas, o que significa “Vocação”?
  • A exclusividade da vocação…só que não…
  • O chamado à Santidade. E os Jovens?
  • A vocação nos Santos da Igreja.
  • Agostinho
  • Inacio de Loyola
  • São Camilo de Lellis
  • São João Maria Vianney
  • Santa Teresa de Jesus
  • O caminho vocacional: missão de heróis e heroínas

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Mas, o que significa vocação?

A palavra vocação tem origem no latim vocare que quer dizer “chamado”. A primeira vocação a que somos chamados é à vida pois o próprio Deus nos chamou a ela.

Em sua enorme sabedoria e misericórdia, traduzidas em puro amor, Deus nos amou e nos conheceu antes de existirmos. Como nos diz o Salmista: “Ó Senhor Deus, tu me examinas e me conheces. Conheces todos os meus pensamentos. Tu criaste cada parte do meu corpo; tu me formaste na barriga da minha mãe” (Sl 138/139).

São Josemaria Escrivá, o santo do cotidiano nos exorta a fazer uma leitura romântica sobre a palavra vocação, dando-lhe um sentido de “caminho”, “jornada”:

“Gosto desse lema: “Cada caminhante siga o seu caminho” – aquele que Deus lhe traçou -, com fidelidade, com amor, ainda que custe. [Sulco, 231]

“A tua felicidade na terra identifica-se com a tua fidelidade à fé, à pureza e ao caminho que o Senhor te traçou. [Sulco, 84]”

A vocação é uma proposta de Deus ao homem, porém este é livre para acolher ou rejeitar. Aqui está o livre arbítrio que nos é concedido por Deus para que dele façamos uso…o melhor uso que seja possível.

A exclusividade da vocação…só que não…

A vocação não é exclusividade de ninguém.

Todos temos vocações. Talvez não iguais as dos outros, porém cada um possui a sua vocação.

Deus nos criou com um proposito e uma finalidade a qual conheceremos ao longo de nossa “jornada” neste mundo repleto de contradições e de verdades.

No Antigo Testamento nos deparamos com várias personagens que protagonizaram importantes vocações. Abraão, Noé, Moisés, Josué, Davi, Salomão, João Batista…Jesus Cristo.

Mas não paramos por aí. Continuamos com os Apóstolos como Pedro, chamado a ser a pedra da Igreja de Cristo, mas ainda na presença do próprio Senhor não conseguia encontrar a sua vocação. “Pedro, tu me amas?…Apascenta as minhas ovelhas” [Jo 21,15-19]

Ou ainda com Saulo, com sua vocação para a Justiça e obediência tinha se tornado um implacável perseguidor de Cristãos e, ao cair de seu ginete na estrada de Damasco, começa a perceber que sua vocação seria movida em outra direção. Com os dons que acumulara em sua jornada, após as escamas caírem de seus olhos, abraçaria a fé e a defesa de Cristo de forma implacavelmente devota.

O chamado à Santidade. E os Jovens?

Um chamado comum a todas as pessoas é a santidade. Por isso é chamada vocação universal à santidade. Viver a santidade foi um apelo de Jesus “Portanto, sede santos, assim como vosso Pai do Céu é santo” (Mt 5,48).

Este chamado inclui a vida total e que contém o propósito de seguir e servir fielmente.

São Josemaria Escrivá falava constantemente em suas tertúlias e escritos sobre o chamamento universal para a santidade e que este chamado não se limitava ao ministério ordenado, mas a todos:

“Repara bem: há muitos homens e mulheres no mundo, e nem a um só deles deixa o Mestre de chamar. Chama-os a uma vida cristã, a uma vida de santidade, a uma vida de eleição, a uma vida eterna.”. [Forja, 13]

São Joao Paulo II, em sua mensagem para o 21º dia mundial de orações pelas vocações, exorta os jovens a buscarem dentro de si as vocações que deem verdadeiro sentido às suas vidas: não a observância do Mundo, mas a de Deus:

“Hoje, caríssimos jovens, são muitas as vozes que tentam insinuar-se nas vossas consciências. Como distinguir a voz que dá o verdadeiro sentido à vossa vida? Jesus faz-se ouvir no silêncio e na oração. Neste clima de intimidade com ele, cada um de vós poderá compreender convite doce, mas também firme, do Bom Pastor que lhe diz: “Segue-me” (cf. Mc. 2, 14; Lc. 5, 27).

E ainda sobre os jovens e suas vocações, nos diz o Papa Bento XVI, em 6 de outubro de 2021, por ocasião da festividade do 50º dia mundial de orações pelas vocações:

“Do mesmo modo, desejo que os jovens, no meio de tantas propostas superficiais e efémeras, saibam cultivar a atracção pelos valores, as metas altas, as opções radicais por um serviço aos outros seguindo os passos de Jesus. Amados jovens, não tenhais medo de O seguir e de percorrer os caminhos exigentes e corajosos da caridade e do compromisso generoso.

Sereis felizes por servir, sereis testemunhas daquela alegria que o mundo não pode dar, sereis chamas vivas de um amor infinito e eterno, aprendereis a «dar a razão da vossa esperança» (1 Pd 3,15).”

A vocação nos Santos da Igreja.

Santo Agostinho

Santo Agostinho é aquele santo que nos custa aceitar que teve uma mudança tão radical de vida a ponto de se tornar um dos maiores Santos e doutores da Santa Igreja. Em uma vida regrada por desafios, indecisões, escolhas erradas, buscava a verdade em tudo e em todos. A ponto de se relacionar com uma Cartaginesa e com ela gerar seu filho Adeodato, mas permanecer no concubinato.

Agostinho possuía a vocação para ser um grande orador, professor, encantador.

Palavras do próprio Santo Agostinho:

“Estive longo tempo ocupado em muitos e diferentes assuntos, e esforçando-me com empenho durante muitos dias para me conhecer a mim mesmo, o que devo fazer e o que hei evitar.

De repente, me veio uma voz, não sei se de mim mesmo ou de outro, de fora ou de dentro, e me disse: em quem você vai confiar para continuar? (Solilóquios I, 1)”

Ao encontrar Santo Ambrósio, Bispo de Milão, como que as escamas caem de seus olhos e ele renasce para a sua verdadeira vocação: a de ser Santo!

Assim, após uma longa jornada repleta de quedas e erguidas, de sonhos realizados e fracassos dolorosos, Santo Agostinho entrou em seu mundo interior, que ele assim descreve:

“Quando eu pensava em me consagrar ao serviço do Senhor, meu Deus, como há tempo havia colocado em meu coração, era eu quem queria e também era eu quem não queria. Precisamente porque eu não queria totalmente, nem queria plenamente, lutava comigo mesmo e me quebrava a mim mesmo” (Confissões VIII, 10,22).

Santo Inacio de Loyola

Fidalgo espanhol, educado para a o galanteio de formosas donzelas, para a guerra como intrépido guerreiro, Ignácio de Loyola, ou apenas Iñigo (seu apelido) não poderia imaginar que um petardo que quase arrancaria sua perna na batalha de Pamplona iria mudar o rumo de sua vida para sempre.

Após ter sido atingido por uma bala deflagrada pelos canhoes franceses, foi acolhido pelos inimigos e levado a ser tratado em um hospital (praxe do tratamento de guerra para com oficiais). Neste hospital, assistido por sua irmã, desejava passar o tempo de sua recuperação lendo novelas de cavaleiros e damas: puro romantismo sedutor para um homem onde a virilidade tinha de ser testemunhada nos quartos e também nos campos de batalha.

Mas o que restara para ler naquela cidade dominada eram obras bem diferentes daquelas que estava acostumado. Sua irmã lhe entrega a Bíblia, “A Legenda Aurea”, de Jacopo de Varazze e também “Vita Christi” de Ludolfo da Saxônia.

Inácio começa e descobrir heróis de verdade, não mais aqueles de capa e espada, porém outros homens e mulheres que deram a sua vida por aquele que se tornaria a sua paixão: Jesus Cristo. Assim, apaixonado pelo leão de Judá. Iñigo encontra a sua vocação última e com sua Ordem dos Jesuítas embarcados em caravelas e enfrentando mares bravios, leva a mensagem do evangelho de Cristo a povos distantes a continentes de onde estava.  

Que “o conhecimento verdadeiro e amor de Deus Nosso Senhor possua inteiramente e reja vossas almas por toda esta peregrinação, até vos conduzir, com outros muitos por vosso meio, ao último e fidelíssimo fim de sua eterna bem-aventurança”.

São Camilo de Lellis

Homem forte, violento, soldado, amante de um bom jogo de cartas, parece ter uma história muito parecida com nossos dois heróis acima. Quando Camilo tinha dezenove anos, seu pai faleceu. Como herança, Camilo recebeu a espada e o punhal do pai. Como o pai, ele passou a ganhar e a perder tudo que tinha no jogo.

Apesar de sua violência, que afastava qualquer pessoa, um certo frade franciscano não teve medo daquele homem e passou a ter conversas com ele a ponto de se tornarem amigos.

Ao sentir o amor que aquele frade tinha em sua simplicidade, Camilo tem seu coração aquecido por ver que alguém conseguiu enxergar sofrimento e bondade nele. Motivado, descobre uma vocação escondida: a de se tornar religioso Franciscano, mas… seu ingresso foi barrado por causa de uma enorme ferida no pé. Em sua misericórdia, os Franciscanos enviaram Camilo para receber tratamento no hospital de São Tiago, na cidade de Roma.

Ali ele descobre que a sua ferida na verdade nunca cicatrizaria pois era um tumor incurável.

Como não tinha dinheiro para fazer o tratamento, ofereceu-se para trabalhar como servente e conseguiu trocar sua força de trabalho pelos cuidados médicos. Mas ainda restara a ele uma ferida maior: o vício do jogo. Este vício o leva direto para a rua: É demitido da ordem.

Em sua tristeza, deixado à rua, sem trabalho, sem dinheiro e com uma doença incurável, se candidata a servente de pedreiro na construção de um mosteiro Capuchinho.

Aos vinte e cinco anos, em certa ocasião, teve uma visão que nunca foi revelada a ninguém. Porém, depois dela, ele abandonou a jogatina e se converteu verdadeiramente.

Camilo então pede para ingressar novamente na Ordem Franciscana. Porém, novamente por causa de sua ferida, não teve êxito. Os franciscanos, porém, conseguiram que ele fosse internado de novo no hospital de São Tiago. Algo revelador ali aconteceria.

No hospital ele tratava de sua ferida, porém passou a cuidar dos outros doentes como voluntário. Sua atenção era mais ainda voltada para aqueles que eram mais repugnantes, desprezados ou abandonados pelos funcionários do hospital.

São Camilo de Lélis passou a enxergar nos doentes terminais, rejeitados e repugnantes, o próprio Jesus Cristo. Amava-os de todo o coração e passou a viver por eles de maneira completamente entregue.

Muitos se converteram ao serem cuidados por São Camilo. E o mais belo é que, aqueles que não conseguiam se curar e sucumbiam ao véu da morte, partiam na graça de Deus, pois Camilo os levou ao arrependimento e à confissão.

⁠” Os Hospitais são os nossos jardins e as nossas missões. Os Doentes são a pupila e o rosto de Deus.”

São Joao Maria Vianney

A vida de São João Maria Vianney não era um “mar de rosas”, pelo contrário, como todo grande santo passou por dificuldades diversas e profundas. Buscava de forma intrépida a sua vocação de servir a Deus.

No seminário, em atendimento do seu chamado para Deus, alguns professores não o consideravam apto para receber os ensinamentos com objetivo ao sacerdócio já que os resultados dos exames pelos quais era submetido não eram favoráveis. Sofreu muito, mas com humildade foi ordenado padre e foi designado a uma pequena aldeia: Ars.

Pouco tempo após sua chegada à aldeia, teve de enfrentar mentiras de seus paroquianos. Como se isto não bastasse, também era criticado e falsamente acusado por sacerdotes de outras paróquias, que deveriam ser seus irmãos fiéis na fé. Era constantemente atacado pelo demônio em seu corpo e que procurava insanamente tirar a sua paz de espírito. Por outro lado, sua fé era tamanha que o número de conversões só fazia crescer e peregrinos de toda a parte vinham até a pequena cidade de Ars para presenciar aquele que era um exemplo de santidade vivo. Há relatos que, em 1855, o número de peregrinos em visita ao Cura D’Ars somava mais de 20 mil.

Santa Teresa de Jesus

Determinada determinación”. Este era o lema de Teresa de Ahumada Y Cepeda, que viria a se tornar uma das maiores Santas doutoras de nossa Igreja: Santa Teresa de Jesus ou de Santa Teresa D’Avila (nome da sua cidade).

Teresa, muito longe de ter uma vida tranquila de menina em um século conturbado por diversas mudanças culturais e religiosas, enfrentou desafios enormes para levar a sua vocação adiante. Mulher forte, enfrentou turbilhoes em sua vida migrando de uma vida que certamente levaria ela a contrair um bom casamento, ter filhos, fortuna e longevidade, para uma outra vida arrebatadora: de dificuldades, preconceitos, luta e fé, muita fé.

Para se ter ideia, na tenra idade, ela decide ir de mãos dadas com seu irmão Rodrigo, ao encontro dos sarracenos para defender a fé e se oferecer em martírio, pela causa de Cristo! Apenas não contava que, no seu “caminho” de ida encontraria um tio que, vendo duas crianças de malas prontas a atravessarem a cidade, decidiu “convencê-las” que esta não era uma boa atitude.

Teresa passou por desafios enormes: doença (ao ponto de ser velada como morta), preconceitos por parte do clero, até estar à beira da inquisição por conta de seus escritos onde relata a sua vida e o caminho espiritual em direção a Deus. Vocação!

Teresa confiou toda sua vida ao serviço de Deus, a reformar os Carmelos, formar uma nova geração de devotos e devotas, trazer ao centro da ordem do Carmelo a necessária adoração a Deus em seus sacramentos. Tudo em direção a graça divina. Sua vocação à Igreja levou-a a feitos considerados como impossíveis em seu tempo e a sua mística, maravilhosamente retratada em relatos de suas companheiras e madres, é tema de estudo de inúmeros teólogos.

O caminho vocacional: missão de heróis e heroínas.

Em todo o caminho vocacional há momentos de prova. Situações em que notamos cansaço ou em que perdemos os pontos de referência que antes guiavam o nosso caminhar. É então o momento de recordar o primeiro chamado, de voltar “àquele ponto incandescente onde a Graça de Deus me tocou no início do caminho.

É desta fagulha que posso acender o fogo para o dia de hoje, para cada dia, e levar calor e luz aos meus irmãos e às minhas irmãs. A partir daquela fagulha, acende-se uma alegria humilde, uma alegria que não ofende o sofrimento e o desespero, uma alegria mansa e bondosa” [1]

O Padre Paulo Ricardo de Azevedo, da Diocese de Cuiabá, nos fala que a vocação diz respeito a “uma relação muito íntima: a do vocacionado e de quem o chama à vocação” e que o grande mal do homem moderno é que não deseja mais se oferecer em sacrifício por ninguém; vive em um hedonismo comprometedor, que o leva apenas a tristeza e a frustração:

“A Vocação, por outro lado, trata de relação. Se existe um chamado, significa que existe alguém que chama. O sentido está para além da pessoa e implica uma saída de si mesmo para corresponder à voz do outro. Em linhas gerais, descobrir a própria vocação significa descobrir como você vai doar a sua vida pelos outros, pelo chamado que você recebe. E essa é a grande dificuldade do homem moderno, que não deseja se sacrificar por ninguém. O homem moderno deseja apenas a própria satisfação. E, por essa razão, termina sempre frustrado, porque nunca encontra o sentido de sua vida.”

Rezemos pelas vocações, não somente aquela que nos leva ao altar como sacerdote, mas também àquela que nos leva à vida matrimonial e a vida consagrada para que, como diz São Josemaria Escrivá, todo homem é chamado à Santidade em tudo o que faz. Sobre isto nos escreve o Monsenhor Guillaume Derville para o site da Opus Dei:

Ser santo não significa ser superior aos outros; o santo pode ser, pelo contrário, muito débil e ter em sua vida numerosos erros. A santidade é o contato profundo com Deus: fazer-se amigo de Deus, deixar o Outro atuar, o Único que pode fazer de fato que este mundo seja bom e feliz. Quando Josemaria Escrivá fala de que todos nós, os homens, somos chamados a ser santos, parece-me que no fundo está se referindo à sua experiência pessoal, porque nunca fez por si mesmo coisas incríveis, mas limitou-se a deixar Deus atuar. E por isso surgiu uma grande renovação, uma força de bem no mundo, embora continuem presentes todas as debilidades humanas.

A Santidade é o contato profundo com Deus! Sejamos Santos em tudo o que fazemos dando asas a nossa vocação de Santidade!]

Ad Maiorem Dei Gloriam.

Fontes:

https://www.vatican.va/content/john-paul-ii/pt/messages/vocations/documents/hf_jp-ii_mes_11021984_world-day-for-vocations.html

https://www.vatican.va/content/benedict-xvi/pt/messages/vocations/documents/hf_ben-xvi_mes_20121006_l-vocations.html

https://opusdei.org/pt-br/article/meditacoes-4-de-agosto-sao-joao-maria-vianney/

https://padrepauloricardo.org/episodios/descubra-sua-vocacao

https://opusdei.org/pt-br/article/o-que-significa-a-chamada-universal-a-santidade/

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